Covid-19 (dia 6 - 18/3) - um começo doloroso

Despertador para as 7.30. O dia começa como se estivéssemos em guerra.

Faltam legumes para a sopa e fruta e a hora melhor para ir às compras é o arranque do dia. Máscara, luvas. Quatro pessoas de cada vez na frutaria. Espero pouco. Faço as compras para três casas e saio.

Chego a casa e divido tudo por três sacos. Acabo, aspiro o chão e ainda penso na conferência de imprensa que vinha a ouvir no carro: os estímulos de 3 mil milhões de euros à economia. 

Sinto-me atropelado por um camião. Emocionalmente, nem tanto fisicamente. 

Dias assim transportam-me para o cenário de um filme de ficção científica.

Para piorar, estou desde ontem com um siso a querer doer. Não sei o que fazer. Espero que passe... E isto aumenta o pânico. 

Vamos todos ficar bem, penso no arco íris que a minha filha desenhou.

Que fiquemos, sim!

Penso só em proteger a família e a pensar nos miúdos tiro a máscara ao entrar em casa, de modo a não assustar. De seguida penso que se calhar deveriam ver e tomar contacto com a realidade...

A primeira metade do dia foi uma violência. Senti-me perdido e exausto. Contive as lágrimas de desespero mais de uma vez. Sobretudo à porta de casa do meu pai, onde fui levar os legumes e frutas necessárias. Lá fiquei, lá conversámos. Saí a pensar que devia tentar ir a um dentista, mas rumei a casa do sogro, também para levar os frescos.

Voltei a casa, lavei-me de alto a baixo e lá começou novo dia. Sim, que cada dia tem vários dias num só - já repararam que o que aconteceu há uma semana parece ter sido há duas ou três?

Regressado a casa, ao ninho, onde tudo é mais seguro, lá acalmei. Ainda desaninado, apercebi-me da burrice de não ter esvaziado os hipermercados todos de Portugal para a nossa despensa. Faltavam guardanapos, papas, leite e mais umas quantas coisas, todas necessárias para os míudos - se fosse só por nós, adultos, até sobreviviamos a comer arroz de salsicha todos os dias...

Tentei de novo o Auchan online, para me deparar com uma fila de 12 horas para poder fazer encomendas online - isto enquanto lia experiencias de quem tinha aguardado e, concluída a compra, esbarrava na falta de "slots" para entrega ao domicilio ou em loja.

Tentei o Continente online e não havia produtos disponíveis; o Pingo Doce foi uma maravilha - deixou escolher tudo sem problemas e quando chegou ao fim não tinha datas para entrega...

Acabei por decidir-me por acordar de madrugada e ir para a porta de um super mais pequeno amanhã...

O dia chegou ao fim (ou o terceiro dia dentro deste dia) e dei por mim a olhar para o lado, já deitado, e a dizer à minha mulher: "hoje o dia foi bom, não foi?"

Não sei se o segredo para esta conclusão foi a festa de pijama que fizemos com os miudos, ou se - simplificando - é mesmo estarmos todos juntos. Para mim faz toda a diferença..



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