Lembro-me, como se fosse hoje, de todas as vezes que fui apanhar amoras ali para os lados do Cabo da Roca. De, orgulhoso, meter um pé em Sintra e outro em Cascais. De encher sacos com amoras pretas. E vermelhas. De me assustar com as cobras que passavam e o meu avô me dizia serem coelhos, mesmo sabendo serem cobras. Lembro-me dos frascos de doce de amora que a minha avó fazia. Lembro-me de irritar-me solenemente (adoro a expressão irritar solenemente) encontrar pedaços de limão a boiar no doce. Para mim, aquilo era como encontrar uma espinha no peixe. Com a diferença que do peixe eu não gostava, mas das amoras - e do doce de amoras - gostava. Talvez por ter sido eu a apanhá-las. Coitadito... Nem me lembro se trazia muitas ou poucas. Lembro-me, sim, isso lembro, que me arranhava, que me ria, que ouvia histórias que me fascinavam. Talvez sempre as mesmas histórias. E é para esse tempo de sorrisos genuinos que as amoras me transportam, ainda hoje. Sobretudo hoje! E agora pergunto: estão a