Mensagens

A mostrar mensagens de 2020

urgências

Que a SS saiba sempre e a toda a hora que com ela tenho vivido o amor na plenitude. Que antes dela era incompleto. Rir com alegria -mesmo stressando - com as maravilhosas conversas dos miúdos ao deitar ('só agora temos tempo para falar, porque já não estamos distraídos com outras coisas'). Aliviar a vida para que o trabalho não me mate. Dizer todos os dias 'amo-te' a todos os que amo. A minha Suka, miúdos, pai, sogro. Ser chamado ao gabinete médico para me darem uma droga qualquer que me livre deste ataque de pânico que me fez pensar que estava a morrer.

fim de férias (ou lá o que foi isto)

Em 2030, a dada altura de 2030, terei 57 anos. Convenhamos. Muitos de nós não chegaremos aos 57 anos. Acredito que o bypass gástrico feito em 2018 me deu anos de vida - caso não seja atropelado por um camião -mas não o tomo por garantido. Em 2030 a nossa mais nova terá 15 anos. E o mais velho 19. Tive-os tarde. Não por decisão minha, mas porque tarde conheci a SS. E porque só com ela faria sentido esta aventura. Posto isto, é preciso esclarecer que eu sou o pessimista. Aquele que sempre que vai viajar imagina que o avião cai, que o pneu rebenta. E imagino sempre que os miúdos em 2030 talvez nem tenham pai. E disso faço grande filme das tragédias familiares - como se tudo na vida não fosse ultrapassado. Em parte, este sentimento terá sido alimentado por um 2020 atípico, graças um (Corona)vírus que a todos fechou em casa e privou de contacto social. A trabalhar fechado desde março, dei por mim a estranhar as férias - que hoje chegam ao fim.  Perante as incertezas profissionais e de saúde

A Dama (e o Vagabundo)

Imagem
O primeiro cão de que tenho memória é o Dick. Nunca parei para pensar como se escreveria o seu nome, até porque na altura nem ler sabia, mas o Dick era um cão preto, rafeiro, porte médio, que vivia em casa dos meus avós Dulce e Luís. Era o cão mais pacato da história.  Os putos saltavam-lhe para cima e faziam dele cavalo e o pobre Dick nem ladrava. Andava até ao canto onde ficava a sua manta e deitava-se. Lembro-me de outros cães que me marcaram. O Taipan, um boxer maravilhoso, do Duffy, um louco que eu ia buscar a casa dos meus avós para passear e que tratava como meu. E de mais uns quantos. Mas no top-3 dos que mais me marcaram estão estes. Que ainda hoje admiro e tenho por amigos, embora há muito tenham ido para Timbuktu.   Dito isto, importa explicar que sempre, na minha vida, o amor de/e por um cão foi algo presente. Não querendo dizer que sou boa pessoa, acho que serei melhor pelo que aprendi com os animais. O respeito, a lealdade e a confiança. A amizade, claro. Há

O top-5 dos meus concertos

Dei por mim a pensar, agora mesmo, quais os concertos que mais me marcaram. Comecei por escolher três, mas logo saltei para os cinco. As datas não serão exatas, mas cá vai a lista The Cure - Estádio de Alvalade - 1989 Tinham acabado de lançar o álbum Disintegration e eu vivia uma primeira (ou segunda) paixão. Fui com o meu amigo Nuno Ricardo e, putos anjinhos, saímos antes de um dos encores porque achámos que tinha acabado. O melhor álbum da minha vida, no concerto que durante mais tempo me marcou. E ainda tenho saudades dele... The Pogues - Coliseu dos Recreios - 1988 (?) Fui com a Catarina Serpa, a Inês e um colega - talvez o Marcos?. Andava na Escola secundária e não conhecia bem a coisa. Fui por causa da Inês, sobretudo, e saí de lá esmagado por um concerto em que o Shane McGowan perdeu a aliança de casamento e andou de joelhos a gritar ao microfone "my ring, I lost my ring...". No fim, subimos a pé a calçada da Glória para levar a Catarina a seu pai, que, estando a traba

covid-19 (dia 59 - 11/05) - Olhos

Ontem fui pela primeira vez a um supermercado daqueles grandes, mesmo grandes. Mais. Fui a um supermercado quando já é obrigatório andar-se de máscara para entrar em lojas, mesmo que seja nos cabeleireiros - uma amiga hoje foi ao cabeleireiro de máscara e entre acertar patilhas e o camandro lá lhe cortaram um elástico da máscara. É um novo Mundo e ao fim de (quase) 47 anos apercebo-me de que talvez sempre tenha olhado da forma errada para as pessoas. Os olhos, senhores, os olhos... De repente não há gente feia. Nem nova ou velha. Há gente de máscara, com olhos bonitos ou com olhos que não se deixam ver.  Na rua, quase todos andam de máscara, a tapar o rosto (tirando os que com ela tapam apenas a garganta) e esta nova realidade ainda me baralha. Na verdade, e pensando bem em tudo o que estamos a passar com o novo coronavírus, porque  motivo não devemos andar sempre (mesmo sempre) de máscara? Afinal, sabemos lá nós quando aparece (e onde) um novo vírus qualquer... Hoje dei por mim a pens

covid-19 (dia 57 - 9/05) - Farto, pela primeira vez...

Como é que se explica isto? Chego ao fim do dia farto. Não é que eu esteja farto de trabalhar em casa. Simplesmente, o trabalho feito de casa chateia mais. E chateia mais quando tens vários colegas em lay-off e entre lay-offs e folgas dás por ti a ser responsável pelo dobro das coisas que normalmente tens para tratar. A mim o que mais me chateia é deixar pessoas à espera de que eu lhes distribua trabalho. Sinto-me incompetente, mesmo que nao esteja a sê-lo, e a desperdiçar o tempo dos outros. A verdade é que mais uma vez, são 22.30 e tudo o que tinha para assegurar hoje está assegurado. Ou seja, eu mereço que me continuem a pedir as missões (quase) impossíveis. Hoje voltámos a juntar os dois avôs ao almoço cá em casa. Frango assado consegue ser um belo pitéu nestes momentos e hoje até houve leite creme feito ontem à noite. Na verdade, cada vez mais acho que vivo para estes momentos em família. Ontem, eu e a SS começámos a ver o The Leftovers na HBO. Foram 68 minutos de primeiro episódi

One Hundred Years

"It doesn't matter if we all die" Assim começa a canção One Hundred Years, dos The Cure. Por estranho que possa parecer o desprendimento, a verdade é que só há uma coisa verdadeiramente triste na morte e essa é a saudade que fica em quem fica...

covid-19 (dia 55 - 7/05) - Vacinas, barbeiro...

Ontem (acho que foi ontem e se não foi ontem é como se tivesse sido ontem) sentei-me pela primeira vez descontraído em frente à TV para ver uma série. Escolhi o After Life, do Ricky Gervais (no Netflix), e a hora errada. A coisa até estava a correr bem (se é que algo corre bem no After Life), mas o mais velho cá de casa entrou aos gritos pela sala: "Aula de ginástica". Uma aula síncrona - das melhores coisas que a escola fez neste período - a cortar-me o único momento de descontração que me permiti nestes 55 dias. Nada de grave. Vi depois mais uns quantos, mas ando cá a matutar que se calhar eu e a minha querida mulher se calhar pensámos mal quando decidimos ter uma só TV em casa, e na sala. Isto leva a que não tenhamos um local para nós. Quando os miúdos querem jogar PlayStation lá ficamos sem sala. E andamos pela casa sem pouso a que possamos chamar nossos. Fosse o tempo outro, até comprava uma TV para meter no escritório e passava para lá a PlayStation. E livrava-me dos pu

covid-19 (dia 51 - 3/05) - Dia da mãe

Dia da mãe. Cá em casa assinalado com dois postais. Um escrito e desenhado por ele; outro pré-comprado (de flores) a que ela colou autocolantes bonitos e aos quais se juntou uma frase que lhe saquei. Dia da mãe. Saudades da Zé. E da Manuela que nunca conheci. Um vazio grande na nossa vida. E a certeza de que nestes tempos tão incertos, os meus filhos estão bem servidos de uma. Que os adora. Que os ama. Que os atura. Que não os atura. Que é tão humana quanto uma mãe pode ser. Que eu amo, claro. E amarei. Não consegui algo mais que esses desenhos, esses postais. E, na verdade, é preciso algo mais? São 51 dias disto e hoje a mais nova perguntou: quando é que o corona acaba. Respondemos-lhe: se tudo correr muito bem (não temos certezas disso, mas esperamos que sim) daqui a 30 ó-ós voltas à escola. Já passou mais de metade e mesmo sendo muito tempo, pode ser que esteja para acabar. Entretanto a Espanha vai alargar por mais 15 dias o Estado de Emergência. Enquanto nós continuamos cheio

covid-19 (dia 49 - 1/05) - "Vão sem mim que eu vou lá ter"

Imagem
Amanhã são já 50 dias de quarentena. Caramba! Já quase nem me lembro dos primeiros tempos, aqueles em que temi não ter comida para os miúdos e perdi 2 kgs numa semana. Não esqueço a discussão que tive com um amigo que recusava teletrabalho aos seus funcionários, nem o pânico que senti de estar infetado, porque foram situações em que me vi a perder o controlo das minhas emoções - cheguei mesmo a pensar de forma consciente que estava em risco de ter um ataque cardíaco, tais os nervos sentidos. Agora que já se sabe que a partir de segunda feira começa um programa de desconfinamento progressivo em Portugal, que vai ser obrigatório entrar em lojas e transportes públicos com máscaras, que dia 30 de maio (belo dia) regressa o campeonato da I Liga (se nada obrigar a adiar a coisa), começo a perceber em muita gente um nervoso miudinho para voltar à rua, para voltar ao lufa-lufa, à normalidade pré Covid-19. E eu tenho cada vez mais certo para mim só saio obrigado e que vou tentar mant

A falta de vergonha do El Corte Inglés

Imagem
Depois de ter feito uma encomenda na loja online do  El Corte Inglés  (o link é para poderem bloquear) no dia 9 de abril, com a premissa (por eles anunciada) de que chegaria a 18 - ou seja a tempo de ser o presente que o mais velho queria dar à mais nova pelo 5.º aniversário, ontem, vários dias depois de terem falhado o prazo para entrega, mandaram-me um e-mail a dizer: "tal como solicitado, anulamos um (ou vários) produtos associados ao seu pedido". Problemazito: eu não solicitei anulação de nada e, mais grave do que isso, já por três vezes tinha telefonado para os contactos do El Corte para perguntar o que se passava. No dia 17  disseram-me: não se preocupe, que deve chegar  amanhã. Estamos a dar prioridade a tratar do assunto e nem tanto a atualizar o site. Hoje, depois de tudo isto, continua disponível online... No dia 18  disseram-me que não sabiam o que se passava, mas que seria contactado brevemente pela loja online para me informarem (e enviara

covid-19 (dia 47 - 29/04) - fura quarentenas

Parece mentira chegar aqui e perceber que vamos em 47 dias disto. O que já se passou e o que falta ainda passar. Já não há novidades para escrever todos os dias - pelo menos das relacionadas com a Covid-19 - ou, havendo, já vai faltando a paciência. Como no futebol, agora todos somos epidemiologistas de bancada e "de médico e (sobretudo) de louco todos temos um pouco". Vou lendo um pouco de tudo e já desisti de acreditar em quem quer que seja. A verdade nunca será um valor absoluto e para cada ideia haverá interpretações distintas, razões fundamentadas, sejam em erros científicos seja na falta de uma base de dados com critérios semelhantes em todo o Mundo. A última ideia que me despertou curiosidade foi de que o medo mata mais que a Covid-19. Lá está, nunca saberemos, mas hoje foi divulgado um estudo que diz que de 1 de março até 22 de abril morreram em média (sem ser por Covid-19) mais 75 pessoas por dia do que seria expectável (o que dará quase 4 mil). Serão pessoas

covid-19 (dia 46 - 27/04) - Profissão: Mãe

Uma das regras que impusemos cá por casa durante os tempos de confinamento é que à hora de almoço não se liga a TV. É talvez o único momento dos dias é que é garantido que estejamos todos juntos (entre tarefas deles, trabalho, compras, stresses vários relacionados com esta profissão de sermos pais e mães a tempo inteiro). A ideia é simples: termos tempo para conversar. E se por vezes ficamos a saber o que queremos e o que não queremos sobre jogos como o Fortnite, noutros momentos apanhamos verdeiras pérolas, como a que vos relato a seguir. Filho (o mais velho) - Eu quando crescer vou ser solteiro e vou ser o primeiro homem a conseguir entrar num buraco negro. Vou ver como é do outro lado e descobrir que há outras galáxias completamente diferentes. Filha (a mais nova) - Eu vou ser mãe. Filho - Não podes ser só mãe. Tens de ter um trabalho. Filha - Não não, vou ser mãe. Filho  - Não pode ser!!!! O teu marido. vai achar que tu és uma desgraçada porque não trabalhas e vai abandonar

covid 19 (dia 45 - 26/04) - Um amor destes...

Imagem

covid-19 (dia 43 - 24/04) - o especialista

Estive a ouvir isto  (clica na palavra isto - a que está lá atrás, não esta!!!) e fiquei a torcer para que o André Dias tenha razão. Para uns ele é louco, como o Trump. Para outros, está carregado de razão. Não tenho estudos para mais do que isto, por isso fico-me pelo "espero que esteja certo". Na verdade, o vírus é, como dizia o Guedes, cada vez mais "uma cena que não me assiste". Já nem acompanho os números de Portugal - acho que foi bom ter-me mentalizado de que seríamos uma segunda Itália - mas também não tenho qualquer pressa em retomar algum tipo de normalidade. Só me custa mesmo é ver os filhos meio avariados. Ele, 9 anos, a chorar que não consegue acompanhar a escola; ela passiva-agressiva aos (agora) 5 anos. No meio disto, tenho de destacar uma pequena maravilha: o mais velho já vai percebendo que a irmã sofre com a falta das amigas e então, vai daí, passou a encarnar uma delas nas brincadeiras. A "Pereira" anda agora cá por casa. Ele faz

covid-19 (dia 42 - 23/04) - pois...

Imagem

Covid 19 (dia 39 - 20/04) - Aniversário

Imagem
Hoje a mais nova faz cinco anos. E isso, meus amigos, sendo especial é, também, profundamente triste. A festa com que sonhou não aconteceu nem vai acontecer tão cedo, mas lá fizemos um bolo caseiro, uma mousse de chocolate (para cumprir o desejo dela) e enchemos a mesa de bolachas (bolacha torrada, belgas, etc) a fingir que havia grande variedade de doces. Ela, percebe-se, feliz pelos cinco anos, impôs a si própria o nada cobrar. Recebeu os presentes (dois) a meio da tarde, apenas, falou com um dos avôs e padrinho por Zoom, e com outro por telefone em alta voz, e todos, ao mesmo tempo, lhe cantámos os parabéns. Para os pais foi um esforço brutal para fazer tudo parecer normal. Mas não foi. Nem será... Depois, saímos de casa e fomos até cada um dos avôs levar duas fatias de bolo, e matar saudades à distância. O vírus afastou-nos do toque. Em momento algum, crianças ou avôs tiveram qualquer impulso de se tocarem, de se abraçarem. Embora a mais nova, ao sair de casa, fosse dizen

Covid-19 (dia 35 - 16/04) - Welcome to the jungle

Benvindos ao inferno, sim, porque o inferno está instalado por cá. O regresso às aulas - não presencial - é o fim do mundo em cuecas. Computadores a rebentarem pelas costuras, dois a serem utilizados ao mesmo tempo e, sobretudo, incapacidade total para acompanharmos os dois crianços ao mesmo tempo. Resultado, hoje dei por mim na hora de maior stresse a lidar com o facto de a mais nova chorar, o mais velho chorar, a mãe chorar e eu chorar. Os dois últimos talvez seja exagero, mas andou lá perto. Os professores acham que falar com miúdos de 9 anos é como falar com miúdos do 9.º ano e que todos percebem os conceitos informáticos - e, mais ainda, que os captam numa vídeochamada. O inferno, aqui, é esse. A comida vai-se fazendo, as compras idem, o apoio aos avôs também. Mas quem nos ajuda a nós? Temos de ir fazendo o esforço de manter os miúdos ativos e a estudar (e no caso da mais nova isso mudou o comportamento dela e, mais importante, o sentimento - tanto que ontem já quis telefo

Covid-19 (dia 33 - 14/04) - Regresso às aulas

Não tem sido fácil passar por cá. A verdade é que não tem havido muitas novidades nos nossos dias, por um lado, e, por outro, temos dado prioridade a tarefas relevantes como ver séries antes de dormir. A verdade é que o dia de hoje ficou marcado pelo regresso dos miúdos à escola. Em casa, claro. Ela começou o dia a ver na RTP2 o zigzag, ele começou o dia a fazer o plano do dia no caderno, segundo de reunião com a professora no Teams (da Microsoft). Os putos perdem a cabeça - apanham-se ali e desatam a escrever coisas uns aos outros, a mandar convites para videochamadas, etc... (o que teria sido a minha adolescência com isto, em vez de um ZX Spectrum com cassetes para carregar jogos?). São uns espertalhões e acho tanta graça a isso, quanto isso me incomoda. A verdade é que o mais velho só precisou de cinco minutos de Teams para saber como aquilo funcionava tudo. A mais nova falou com a educadora, viu meia dúzia de amigos e puxou muito os cabelos da mãe. Está um bicho. Tive grand

Covid-19 (dia 30 - 11/04) - Uma conversa sobre o Corona

Imagem
Dia de folga. O primeiro de três. Além de ter passado o dia a trocar emails com assessores de imprensa para escrever uma notícia (que ainda não saiu) e de ter feito, por telefone, uma entrevista, o melhor acabou por ser o passeio que demos, aqui na rua, com os miúdos - eles não saíam de casa há uma semana. Incrivelmente, portaram-se tão bem que não tocaram em nada. Talvez por estarem já habituados à realidade. Hoje de manhã, acordaram às 8h20 para verem na TV desenhos animados da Guerra das Estrelas. Lá saltaram da cama e eu, no quarto, ouvi a conversa deles. Ele - Temos de calçar os chinelos. Ela - Pois é, por causa do Corona. Ele - É quase impossível o Corona apanhar crianças. Quer dizer, pode até apanhar, mas até agora matou zero crianças. Zero!!! As crianças estão protegidas. Ela - Pois é. E os pais. Ele - Os pais podem apanhar o Corona, mas é mais difícil o Corona matá-los. Ela - Pois. Ele - Os avôs é que é pior. Ela - Pois. E a conversa ficou por aí. De manhã, quan

Covid-19 (dia 28 - 09/04) - As notas dele; a tristeza dela

Fez hoje um mês que estivemos todos juntos. Todos, cá em casa, é 6 pessoas. Nós os 4, o meu sogro e o meu pai. Parece uma vida. É um mês. Vamos falando, mas claramente não chega. Este ano não haverá cabrito e borrego maravilhosos feitos pelo meu pai, nem amigos a acompanharem-nos no domingo. Daqui a dias (não muitos) a mais nova celebrará o quinto aniversário e não terá a festa com que sonhou no último ano.  Ela é claramente quem está a sofrer mais com o confinamento. Acaba por ser natural, pois é também quem tem mais dificuldade em compreender o que está em causa. Anda triste. Arrasada. Hoje viu um vídeo da educadora, coisa longa, a contar uma história lida de um livro. Viu com atenção, em silêncio. Quando o vídeo terminou ela ficou calada. A mãe perguntou-lhe se gostou, e ela respondeu que sim com a cabeça. - O que sentiste? - Nada (e saiu do colo da mãe) - Sentiste alegria ao ouvir a história? Sentiste saudades ao ver a educadora? Ela, sem olhar, começou a afas

Covid-19 (dia-27 08/04) - Sonhar cansa tanto

Imagem
Tenho sonhado muito. Mesmo muito. É tão cansativo sonhar... Na noite passada, sonhei que ia viajar. Era uma viagem de finalistas - ou lá o que era, porque eu não era finalista - mas havia condicionantes complicadas, como algum tipo de isolamento social. Havia distanciamento, mas vá-se lá saber porquê, acabava a falar com outra finalista que não era finalista. De repente estávamos em minha casa, ela acabadinha de tomar banho e só com uma toalha enrolada à volta do corpo. E o meu sogro andava por lá, bem como os filhos. E eu só perguntava: a S. não disse nada sobre quando volta? Eu estava a cozinhar. E, pelos vistos, preocupado com o paradeiro da minha mulher e a resistir aos apelos de um corpo acabado de banhar e apenas enrolado numa toalha. No fundo, é isso que o Covid-19 me tem dado. Aproveitar o prazer de estar em família, estranhando a ausência de um de nós. Há tempos sonhei que a S. morria. Era horrível. Chorava desesperado. Diz que dá mais tempo de vida. E ainda bem. P

Covid-19 (dia-26 07/04) - finalmente, a ver séries

Imagem
Nos últimos dois dias não passei por aqui. Quer dizer, passei mentalmente, mas no fim acabei por não escrever. Os dias estavam sempre iguais e acho que quis fugir às rotinas: acordar cedo, meter os miúdos a fazer coisas, aturar birras, trabalhar, ir às compras, aturar birras, impedir os míudos de fazer coisas, fazer o jantar (antes tinha feito o almoço, claro), aturar birras e discussões dos putos, deitar os míudos, impedir os miúdos de fazer coisas, obrigar os miúdos a dormir, impedir os miúdos de fazer coisas, depois disto tudo telefonar ao pai por vídeochamada, tentar prever quando acaba a comida e fazer compras, e ir dormir sem ver - mais uma vez - um episódio de uma qualquer série. Nos últimos quatro dias tudo mudou. Vá, só uma coisa mudou: despachámos a primeira temporada do Fleabag (eram só seis episódios, calma); e ontem ainda vimos o primeiro de Breeders na HBO (uma comédia fantástica sobre a vida de um casal com dois filhos). Cá por casa, entrámos no registo de a mais nov

Covid-19 (dia 23 - 04/04) - O Euro-2016 soube melhor que o vinho

Folga. Um dia sem me sentar ao computador no quarto gelado para onde deslocámos a escravininha que foi dos meus pais e tantos anos esteve emprestada a uns tios. Um dia difícil. Muito difícil. Creio que os miúdos não saem de casa há quase uma semana - perdemos a conta. E hoje a mais nova avariou de manhã. Chorou das 11 h até às 14 h. Mas quando digo chorou, quero dizer esperneou, lutou, debateu-se, revoltou-se, sofreu, fez sofrer, quase fez chorar. Diria que é esgotamento puro, cansaço, frustração, quem sabe até depressão. Mas para ela era tudo simples: as calças e as cuecas incomodavam-na de morte. Nada servia. Nada de nada. Nenhuma solução agradava. "Nada vai resultar". Acabei por vestir-lhe calças de pijama sem cuecas, e encomendámos cuecas novas (eles crescem, mesmo em confinamento) na Zippy. Ao almoço fiz alheira para mim e para o sogro, e cada um em sua casa, comungámos de algum tipo de união. Abri uma garrafa de vinho que tinha guardar há uns anos. Alentejano.

covid 19 (dia 22 - 03/04) fleabag

Hoje folguei, que é como quem diz trabalhei para a familia. Loja das frutas de manhã. Três sacos. Três listas  Três contas. Melhor método. Ir a todas as casas. Uma correria. Só me safei às 16h. Percebi que infetados subiram à volta de 10 por cento - entrei num registo de mera curiosidade estatística. Joguei basquetebol no escritório e houve gargalhadas. Dos mais novos e dos mais velhos. À hora de dormir queriam ficar na sala. Expliquei-lhes que os pais precisam de tempo para eles, que não podem estar sempre com os filhos. Que temos de falar, ler, ver TV.  Lá foram. E nós vimos dois episódios da série Fleabag. Pela primeira vez, e durante 40 minutos, esqueci-me que estamos em isolamento com gente a ser dizimada por um vírus esperto... Ps: em França morreram 1120 pessoas em lares e hospitais em 24 horas!

Covid-19 (dia 21 - 02/04) - sou o único que não se importa de ficar em casa?

- Mamã, quantos ó-ós faltam para voltar à rua? - Podemos ir à rua passear. - Não é isso, é para ir para a rua para estar com os amigos. A mais nova cá de casa, quase a fazer cinco anos (que celebrará em confinamento), começou desta forma o dia e ao final da tarde passou 45 minutos em vídeo-chamada com uma amiga do pré-escolar. Devo ser das poucas pessoas que não se chateia por não sair de casa. Aliás, talvez por ter de andar de casa em casa a entregar coisas (hoje a receber o frigorífico novo em casa do meu pai), o que me causa stresse é precisamente andar na rua. Mete máscara, tira máscara, passa gel desinfetatente, tira óculos, passa gel, mete máscara, etc, e por aí além... Um papel para abrir a porta, as luvas que afinal de nada servem porque o ideal é lavar as mãos. Os hospitais de Nova Iorque já só têm capacidade para mais 6 dias. Depois os ventiladores acabam e o Mayor já veio dizer que depois disso, quem precisar... morre. Hoje, o português João Nascimento anunciou

Covid 19 (dia 20 - 01/04) A loucura das compras

Hoje o dia começou a encomendar (finalmente) o frigorífico novo para o meu pai. O antigo pifou, foi-se, finou-se, deixou de existir, cansou-se de resfriar, etc (e aqui fica uma homenagem aos Monty Python e ao sketch do papagaio morto ). E acabou com a loucura de fazer compras para casa. Depois de horas à espera para entrar no site do Jumbo, a primeira data disponível era... 14 de abril! Alguém terá desistido pelo meio e ao finalizar havia a possibilidade de ir à loja levantar dia 7! (entregas em casa, esqueçam). Agora quem não quer meter-se num hipermercado e voluntariar-se para ser dos primeiros infetados, dando assim heróico contributo para o famigerado objetivo da imunidade de grupo (70 a 80 por cento de infetados protegem os outros desde que desenvolvam imunidade), tem de gerir as datas das compras online como se estivesse a planear a compra de uma casa. Posto isto, acabada a primeira compra, lá passámos mais uma bom pedaço do nosso dia no site do Pingo Doce a fazer nova enco

Covid-19 (dia 19 - 31/03) - Uma entrevista

O dia de hoje foi marcado por uma bela entrevista telefónica que consegui. Por isso e por uma receita de bolo de banana que encontrei na internet e que permitiu gastar as quatro bananas que estraguei na semana passada e que ainda resistiam, transformando-as em dois bolos. Um para nós, outro, dividido em partes iguais, para os avôs. Da entrevista, espero que saia uma manchete no jornal de quinta-feira. Ou pelo menos um bom destaque de primeira página. Do bolo, posso dizer que acabadinho de fazer sabia a pedaço de céu - mais pela textura, até, que pelo sabor. Hoje comecei o dia tarde à beira de ataque cardíaco provocado pelo alarme escolhido pela minha mais que tudo (mesmo assustador). Sobrevivi a dois massacres e lá acordei pelas 10h. Depois de um dia que correu bem com os miúdos de castigo sem PlayStation, conseguimos replicar o ambiente durante a manhã. Riram-se, brincaram, e tudo (me) pareceu mais sereno. Houve desenvolvimentos do frigorífico (que levou ao drama de parte do f

Covid-19 (dia 18 - 30/03) - Moratória ao banco

Imagem
Ora então cá estou eu. Do que me é dado a ver pelas estatísticas do Blogger ninguém sentiu a minha falta (peço desculpa aos 7 leitores que regularmente vou tendo - não é minha ideia desvalorizar-vos, antes gozar comigo), mas não pensem que a ausência se deveu ao facto de nada ter para dizer. Não é que do ponto de vista pandémico tenha havido grandes histórias para contar - até parece, se os números não forem traiçoeiros, que Portugal está a querer fintar o destino latino - mas o ritmo dos dias continua louco. É certo que já me livrei de quase todas as ansiedades. Por esta altura já não acho sempre que estou com o raio do Covid-19, e como raramente saio de casa (e quando saio não estou com quase ninguém e ainda levo máscaras e luvas) tenho reduzido drasticamente as probabilidades de vir a ser apanhado nesta fase inicial. Quanto mais se fica em casa, mais conforto se tem do ponto de vista mental (relativamente ao receio de contágio), e mesmo havendo quem se queixe desta prisão, a mim

Covid 19 (dia 15 - 27/03) Um prazer raro e os pais abandonados pelo Estado português

Ainda não foi desta que folguei. Ou melhor... mesmo estando de folga, lá me desloquei à TV para comentar a atualidade logo pela manhã. E que estranho é andar por uma Lisboa deserta, com lugares para estacionar em quantidade simpática, sem trânsito... Foi rápido, mas tive de acordar cedo - muito cedo. Seja como for, o dia foi melhor porque estive mais tempo com os filhos e com a mulher. Embora tenha também passado mais tempo na cozinha. O Pingo Doce finalmente entregou as compras e na encomenda vinham cinco belíssimos robalos frescos que tratei de cozinhar (três deles, os outros dois vão amanhã para pai e sogro da mesma forna) no forno, com um pouco de fiambre no meio. (batatas cozidas antecipadamente, cama de cebola, vinho branco, tomate, peixe com sal e azeite por cima; cerca de 20 minutos no forno a 180 graus, para não secar) E o prazer que nos deu a todos aquele peixe fresco, numa altura em que somos rodeados por carne descongelada a quase todas as refeições, ou douradinhos

Covid 19 (dia 14 - 26/03) - Uma folga, uma espera e uma videochamada

Imagem
Temos cá por casa uma imagem de Nossa Senhora, a "Mãe Peregrina" de Schoenstatt , que recebemos todos os meses a dia 15. Fica por cá 2 dias antes de seguir para outra casa. Este mês, por força do Covid-19, ficou cá por casa e por cá ficará até esta crise passar e voltar a ser seguro andar de casa em casa para a entregar. Às 20h00, estabeleceu-se, todas as famílias da corrente rezam ao mesmo tempo uma Avé Maria. Hoje o nosso mais velho fez a oração e foi tocante. Algo como: "Ajuda-nos porque eu não consigo compreender muito bem isto e quero voltar a sair à rua e voltar à escola". Já ontem tinha tido um meltdown porque em casa não conseguia aprender e dias antes dissera-me que estava arrependido de não ter aproveitado para sair mais nos anos que leva de vida (ele, o caseiro - agora quer sempre sair, nem que seja para ir ao lixo, a 40 metros da nossa porta). O dia começou tarde, com sono prolongado e novo atraso nos trabalhos escolares. Acabei por não estar

Covid-19 (dia 13 - 25/5) Um golpe de sorte

Passou-se o dia e não vim cá escrever. O trabalho correu bem, fechei cedo o jornal, e agora que passou algum tempo já nem me lembro bem de muita coisa. Numa conversa de irmãos, o mais velho disse à mais nova que lhe dava mil euros se ela comesse tomates cereja. E ela respondeu-lhe: Para quê? O dinheiro agora não serve para nada. Está tudo fechado e o dinheiro só serve para comprar comida... Mais mortes e a confirmação de uma empresa (próxima) a negar teletrabalho a uma funcionária admistrativa, alegando não ser seguro - como se o DL do estado de emergências lhes deixasse sequer essa possibilidade. É pena que algums patrões não percebam que não estão só a tentar poupar dinheiro em tempo de crise. Estão também a comprar guerras que se quiserem combater perdem. E, pior que isso, estão a perder o mais importante: os trabalhadores. O vírus lá vai avançando, embora pareça mais contido que noutros países. Por cá cresceu 28 por cento, mas são tão poucos os testes feitos que possivelm

Covid-19 (dia 12 - 24/03) E o vinho, senhor?

Ontem acabei por não voltar aqui. Os dias em casa são incrivelmente mais cheios que os outros. Há sempre algo a acontecer. Uma criança que chora, outra que grita, uma que chora porque a outra grita e uma que grita porque a outra chora. Pelo meio grita a mãe, grita o pai e grita até quem cá não está. Porque a vida na III Guerra Mundial  (quem esteve no Ultramar tem dito - o que me espanta - que isto é pior que a guerra, porque o inimigo não se vê) é mesmo agitada. Adiante: ontem a saúde do meu pai estabilizou. Não voltou a ter febre - algo que continuou esta manhã - e outra coisa boa do dia é que aprendi a lidar com os meus ataques de hipocondria. Continuo a ter todos os sintomas do Covid-19 à vez, mas o meu cérebro já consegue gozar com ele próprio. Hoje o mais velho fez uma reunião no Zoom com os colegas de escola e divertiram-se todos imenso. Foi emocionante ver como estavam felizes de voltarem a ver os rostos uns dos outros, como tentavam falar. Videochamada para 20 pessoas ao

Covid-19 (dia 11 - 23/03) - (o post que ficou a meio)

Uma primeira nota a abrir este post... Ainda bem que as crianças têm 4 e 9 anos, que assim a dose de um almoço resolve-se facilmente (500 gramas de carne e estamos todos safos). Nem imagino o que será estar fechado com dois adolescentes esfaimados... Por outro lado, isto leva a mudanças no  peso. Muita gente tem comido mais, cá por casa temos reduzido. E eu, por exemplo, caí na primeira semana de 78 para 76 kgs. Ando a obrigar-me a lanchar e a jantar melhor (confesso que também já estou a perder o medo de vir a faltar comida às crianças, e mais confiante no funcionamento das lojas), e já recuperei 300 gramas. Se ficar por este peso fico feliz. O mais importante do dia, no entanto, é mesmo a saúde do meu pai. Já aprendi que isto é uma montanha russa. E de manhã estava sossegada. Dormiu sem febre, já está a tomar antibiótico e não tem tossido. Nem quero largar foguetes. A ver como corre o resto do dia. Agora vou atirar-me ao trabalho e hei de cá voltar (tenho escrito quase sempre n

Covid-19 (dia 10 - 22/03) Aquele telefonema...

Estou finalmente sentado ao computador (quer dizer, estou finalmente sentado ao computador não para trabalhar) e preparado para falar de mais um dia. Ontem não saí de casa e creio que isso se refletiu numa total ausência de ansiedade (pela primeira vez) durante o dia. Hoje acordei tranquilo e depois de uma aula de ginástica (ou de dança) com os miúdos - para se manterem ativos - almoçámos em paz uma massa com cogumelos, azeitonas e bacon (além de um molho de tomate). Para fazer render a comida junto cogumelos, mas a mais nova, que não é parva, já me topou e reclama (guerra perdida por mim, simplificando). Sentia-me tão bem que o verbalizei, a dado momento, em conversa com a minha mulher. Grande erro: se há coisa que devia ter aprendido nos 10 dias de reclusão é que na verdade estes 10 dias equivalem a 20 ou 30. E quase todos se dividiram entre o bom e o mau. Pois o mau, hoje, chegou pelas 17h40, quando um telefonema do meu pai anunciou 38,2 graus de febre. Uma notícia destas, que

Covid-19 (dia 9 - 21/03) - Crianças de sonho; e o coração nas mãos

No dia em que em Itália morreram 739 pessoas e Portugal chegou aos 1020 infetados, voltei a acordar com ansiedade. Há uma tristeza que nos cala, que nos faz olhar para o prato quanto estamos a tomar o pequeno almoço, e que disfarçamos quando estamos junto das crianças. E há momentos únicos que mais tarde serão recordados. Como aquele em que hoje a nossa filha mais nova pediu para fazer videochamada com uma amiga da escola e as duas, ali, do alto dos seus 4 anos, inventaram uma nova forma de jogar às escondidas: "fecha os olhos, que vou esconder-me".  E depois lá andavam os pais pela casa, de telemóvel em punho, a vasculhar os recantos até elas se verem e se rirem. Bastou isto para, pouco depois, já dizerem: "vai por essa porta"; "não, para o escritório", etc. Confesso que poucas coisas me deixaram mais comovido que esta manifestação de criatividade e de amor... Hoje não saí de casa. E a esta hora ainda nem banho tomei. Vou fazê-lo antes de me deita

Covid-19 (dia 8- 20/03) - levantei a voz...

Oitavo dia em que tudo isto foi real. Comecei, após bem dormir e melhor acordar, satisfeito. A temperatura caíra de novo para os níveis normais. Está cá sempre, no entanto, uma sensação de pânico latente - e, percebi mais tarde, trabalhar ajuda mesmo a fintar a loucura... Comecei praticamente o dia com SMS do Jumbo (diz que agora se chama Auchan) para ir levantar a encomenda feita há quase uma semana. Lá fui, tudo dentro da normalidade. Funcionária sem máscara e aparentemente sem medo (bom, eu estava de máscara e se tivesse algo ela estaria protegida também... Regresso a casa para organizar todas as compras e cozinhar uma primeira leva de carne picada com massa, seguido de rota pela casa de pai e sogro (por esta ordem, para de casa do pai trazer alhos e cenouras em excesso e levar ao sogro). De caminho, ainda me animei de descobrir que a padaria aqui do bairro está aberta e tem pão com fartura - levei para cada um deles dois pães de Mafra, que eles sem pão são como peixe sem água