Covid-19 (dia 28 - 09/04) - As notas dele; a tristeza dela

Fez hoje um mês que estivemos todos juntos. Todos, cá em casa, é 6 pessoas. Nós os 4, o meu sogro e o meu pai. Parece uma vida. É um mês. Vamos falando, mas claramente não chega.

Este ano não haverá cabrito e borrego maravilhosos feitos pelo meu pai, nem amigos a acompanharem-nos no domingo. Daqui a dias (não muitos) a mais nova celebrará o quinto aniversário e não terá a festa com que sonhou no último ano. 

Ela é claramente quem está a sofrer mais com o confinamento. Acaba por ser natural, pois é também quem tem mais dificuldade em compreender o que está em causa. Anda triste. Arrasada. Hoje viu um vídeo da educadora, coisa longa, a contar uma história lida de um livro. Viu com atenção, em silêncio.

Quando o vídeo terminou ela ficou calada. A mãe perguntou-lhe se gostou, e ela respondeu que sim com a cabeça.

- O que sentiste?
- Nada (e saiu do colo da mãe)
- Sentiste alegria ao ouvir a história? Sentiste saudades ao ver a educadora?
Ela, sem olhar, começou a afastar-se enquanto empurrava o carrino de bebé. E respondeu.
- Bem, quando ela disse essas últimas palavras, que sentia a falta, eu ouvi e vi que também sentia o mesmo. Por isso, tenho saudades. (e saiu disparada da sala).

Também esta noite, veio pedir-me se podia ficar com um boneco velhote, que foi meu em criança. Uma ovelha já com mais de 40 anos. Quando lhe disse que sim, alegrou-se. 

O irmão, com quem se pega todos os dias várias vezes (acho que está nos estatutos dos irmãos como obrigação...) escolheu um presente para ela e entretanto encomendámos do El Corte Inglés online.

(é um peluche do babyshark, que em tempos ele quis comprar com o dinheiro dele para lhe oferecer, nós recusámos porque ela nem sabia o que era aquilo - e ela, tempos mais tarde, viu e disse "sempre quis ter este boneco").

Ele acabou o dia feliz. Chegaram as notas da escola e ele dá-lhes muita importância - mais do que eu e a mãe. Para ele, ter boas notas é estar a fazer tudo bem, mesmo que depois, na prática, não se preocupe assim tanto em estudar. Entre Muito Bons e Bons saiu-nos bem  melhor que a encomenda, e lá foi deitar-se feliz, aliviado, depois de guardar a folha dentro do seu diário.

Não tivemos ainda coragem de dizer-lhes que hoje foi comunicada a decisão que eles não queriam ouvir: o ano letivo vai acabar sem mais aulas presenciais. Ou seja, provavelmente só em setembro (será em setembro?) vão mesmo voltar à escola (serão cinco longos meses, a menos que pelo meio haja reabertura dos ATL).

E do vírus, é isto que hoje temos para partilhar... Portugal, que vai colecionando elogios pela forma como tem gerido a crise sanitária, está a dar prioridade à saúde e a recusar regressar à normalidade a correr. Salvar vidas ou a economia? Como se decide tal coisa?

Deixo um artigo muito bom para ajudar a pensar no assunto.




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