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A voz (avós?)

Em 2012, de "herança" calhou-me o telefone da minha mãe. Lembro-me bem de ligar para lá, de ouvir a voz dela: "Ligou para os Zés. De momento não podemos atender. Deixe mensagem". Gravei o som. Achava eu que ia esquecer aquela voz. Disse-me a Suz que isso jamais aconteceria. E é verdade. Ainda hoje a voz aqui está. Sempre, e só, sob a forma dessa mensagem, é verdade, mas está. E se é para deixar hoje uma mensagem, é fácil: tenho saudades tuas! Parabéns!

Dos 43 anos

Belenenses a ganhar 2-1 ao Gotemburgo, eu e o meu pai nas bancadas, como nos velhos tempos da minha meninice. Uma emoção como nem sei explicar. E, de repente, uma frase dele enche-me os olhos de lágrimas. Por não me ter lembrado, por me fazer sentir tão pequenino perante todo aquele amor... «Hoje, se fosse viva, eu e a tua mãe faríamos 43 anos de casados»

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Foste a primeira pessoa em quem pensei, mãe. Obrigado. Saudade.

Do adeus

Sabes, mãe... às vezes parece-me que os dias passam e não penso em ti, mas se fizer um balanço mais atento parece-me que todos os dias te recordo. Pode ser apenas de olhar para uma fotografia; de falar de ti ao G.; de lhe contar como tu brincavas com ele; de como andavas pelo chão, de gatas, atrás dele, a segurá-lo, a empilhar as torres que ele derrubava rindo à gargalhada, vezes e vezes sem conta; de contar-lhe que quando tu e o pai chegavam a casa ele dançava ao som da música que ele próprio ligava ao carregar na cabeça do boneco que "conduzia" um camião de plástico. Hoje, mais uma vez, lembrei-me de ti. E, sabes, mãe, fiquei com a aquela impressão de que já consigo fazê-lo com aquele sorriso de saudade boa - e depos escrevi isto e, ao escrever, lá me veio a lágrima ao olho...

Lidar com as saudades

Às vezes penso que sou de ferro, que sou um insensível que tantas e tantas vezes nem consegue sentir o pulsar de um dia, quanto mais o da morte da mãe. Depois vem o dia em que faz dois anos, e o momento de quebra. Sem qualquer responsabilidade, ocorreu pelas 17 horas, quando, a brincar o meu filho me acertou com uma palmada forte na cabeça. Lembro-me de olhar para ele, ele para mim, de nem lhe ter ralhado. De querer dizer-lhe que tinha batido com força e que isso não se fazia, mas de não conseguir soltar palavra. Foi esse o momento em que se esvaiu de mim a energia que me tem mantido sereno, aparentemente desligado, ao longo deste segundo ano. Agora sim, passou o segundo ano. No primeiro sofri muito todos os dias. A toda a hora. No segundo passei quase ao lado, como que a compensar-me pela perda. Entrámos no terceiro, e agora? PS: durante o dia, muitas pessoas de quem gosto quiseram telefonar-me, mandaram sms, etc. Senti-me como se fizesse anos alguém e me quisessem dar os para

A voz

Quando a minha mãe morreu, está quase a fazer dois anos, tive uma preocupação daquelas tolas, que só tem quem perde os que ama. E se um dia esquecesse a sua voz? Gravei-a, pois, para me assegurar de que tal não aconteceria. Tenho no meu email, para nunca perder, o ficheiro de som com a única voz que dela podia, então, ouvir. "Fala a Zé. De momento não posso atender. Deixe mensagem." Das primeiras vezes que ouvi chorei. Descontrolado, talvez. Gravá-la, aliás, já foi sinal de descontrolo, diria hoje. Mas, raios, quem quer controlar-se depois de perder a mãe? Contei-o à S. e ela disse-me que não precisava. Que não esquecia a voz dela. E que eu também não esqueceria. Eu tinha esse receio, sim. Mas hoje apercebi-me de que a S. estava certa. A voz que ouvi era igual à que oiço tantas vezes no silêncio quando quero recordar a minha mãe, O texto, esse, é que é sempre o mesmo. Talvez por ser o que tenho à mão. Dia 26 assinala-se o segundo aniversário da partida dela. Não cons

Dia da mãe

Já não é novidade passá-lo sem ti, mas não me fazes menos falta que antes... Se te alegra, a ti que andas aí a saltar de nuvem em nuvem e a olhar para nós, hoje senti-te aqui pertinho. E sinto-te e vejo-te a cada momento em que, olhando para o lado, a S. carrega ao colo o teu menino. Tenho saudades tuas. Todos os dias. Manda aí um beijo meu à Manuela e diz-lhe que um dia - Deus permita que daqui por muito tempo - hei de conhecê-la e agradecer-lhe por ter sido mãe da mulher que amo.

de uma imagem

A capelinha ao cimo da avenida da Torre, onde te casaste com o pai; as pedras brancas, sujas; o teu sorriso. Eu menino. Nós família. A máquina fotográfica. O pavilhão e os jogos de hóquei em patins. Os rebuçados de menta, o cheiro a tabaco de cachimbo. Às vezes, de repente, voltam para lembrar o que já é só memória. As saudades, mãe, as saudades...

Contas à vida

É uma informação inútil, mas que me deu que pensar: assim a vida o permita e a 23 de junho deste ano vou celebrar os 15 mil dias por cá. Destes. 1225 terão sido passados já como pai; 2039 oficialmente ao lado da mãe dele. Será sempre a somar, por mais 15 ou 16 mil com os dois. É, depois, possível fazer todo o tipo de contas. E perceber que desde que nasci até que a minha mãe morreu passaram 14456 dias. E pareceram-me tão poucos. Se alguém quiser deitar contas à vida, siva-se à vontade aqui .

Do relvado que já não existe

Ali o Djão fintou o Frasco a meio campo antes de rematar forte para o fundo da baliza. Era o maior relvado do Mundo. O melhor também. Verdinho como poucos, sim porque noutros estádios até azuis os havia. E verdinho era só aquele. Não era daqueles relvados bem cortados, não. Era, pelo contrário, em versão relvado, os cabelos encarapinhados do preto que andava pelas praias da Costa da Caparica a gritar Ééééééé o Oláááááá Xquinhoooo, Ééééééé frutóóóóescolate. Antes de ser o campo em que árbitros invalidaram golos com o até então inédito pretexto de que a bola passara por baixo da baliza - é verdade, posso jurá-lo, ainda que as cassetes onde os relatos ficavam gravados já tenham todas desaparecido - foi estrada que ligava cidades, meio esburacada, mas ainda assim capaz de receber a Volta a Portugal em bicicleta. Anos antes - nem sei já dizer quantos - naqueles troços disputaram-se corridas de Fórmula 1. É incrível como um local pode conter tanta história. Não só desportiva note-se. As ba

O vazio

Passou um ano. Ontem. Passou ontem um ano que a minha mãe morreu. Foi na véspera, dia de Natal, que começou a morrer. Aguentou mais um bocadinho, até às três da manhã de 26. Foi a tempo, como desejava, de receber a Santa Unção. Não sei se se terá apercebido. Sei que fez já um ano. Passei 365 dias a antecipar aquele dia. Gostaria de me ter retirado num local isolado e poder relembrar cada minuto, cada hora, do que vivi no ano anterior. Não o fiz. Ao contrário de Caetano Veloso, não passei dia e noite a pensar na minha mãe. Deixei-me consumir pelo dia. Esvaziei-me. Perdi-me. Do tempo. De mim. Hoje, que passou um dia sobre os 365 dias, o vazio tomou conta de mim. Afinal, era como se achasse que depois de um ano a vida retomaria a normalidade. Não há normalidade, percebo agora. O vazio veio para ficar.

O tempo é uma corrida de 100 metros

Já lá vai um ano que esta foi a última noite que dormi completo. Terá sido por esta hora que começou o Calvário. 24 horas depois o desfecho... Agradeço os votos. Retribuo. Mas feliz é algo que o meu Natal nunca mais será.

Isolamento no meio da cidade

É mesmo verdade. Um carro no meio do trânsito continua a ser um dos melhores sítios do Mundo (urbano) para nos isolarmos. Um bom refúgio que nos permite ter um tempo para lembrar aqueles que nos fazem falta. E para os chorarmos, mesmo quando antes achámos que já tínhamos deixado de fazê-lo...

Olá para ti também

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Eu a querer sonhar contigo, ver-te, ouvir a tua voz, falar-te. Só mais uma vez. E tu apareces-me assim, passado quase um ano e sem avisar com antecedência?

Quando os outros nos confortam

- Então esta vacina dá para a vida toda? - Sim, esta é para a vida. Protege contra a maior parte das pneumonias. - Pois, sabe, isto não é coisa em que tenha grande fé. A minha mãe tomava a vacina e no ano passado tomou uma daquelas para cinco anos, e acabou por morrer no inverno... - (silêncio por uns instantes, seguido de mais alguma conversa de circunstância, e no entanto o que mais falou foi o olhar dela, de repente inundado por lágrimas que por pudor não deixou sair...)

De como se lida com a morte na família dos outros

Lembro-me de uma crónica do Lobo Antunes sobre o médico que lhe comunicou os resultados da análise: tinha cancro. Mas o médico dizia-o como se dissesse que já não havia bilhetes para o concerto de Caetano Veloso. Pior. Enquanto combinava ao telefone uma jantarada com um amigo. Pausa, ah, o senhor tem cancro... Quando no Natal passado vim de urgência para acompanhar o meu pai e ver a minha mãe, internada de urgência no hospital, fomos informados pelos médicos de que nem um milagre a manteria viva. Era uma questão de tempo, até se apagar, lentamente como uma vela. Antes de mais, sempre que me lembro disso, lembro-me do choque que senti. Parecia impossível, mas acontecia. A frio, sem anestesia para mim e para o meu pai, que, abraçados tentámos digerir a notícia, acompanhados por outros dois tios... Nunca esquecerei de que à pergunta que me era feita por SMS «Então?» respondia apenas «(...)», incapaz de verbalizar o que acabara de acontecer. Lembro-me também, e nunca quero esquecê-lo,

41 anos, S. Martinho

Primeira coisa que me disse, hoje, o meu pai, mal chegou a minha casa, pela manhã... "Hoje faz 41 anos que eu e a tua mãe soubemos que ias nascer". Ouvi-lo tão solto e tão agarrado ao passado, tão feliz e tão saudoso... É um homem que sofre. Muito. E tão cheio de força. Muito mais que eu...

Tão perto

vives. vives na senhora que me esticou um lenço para limpar o ranho do G. vives na minha memória. acho que nunca estive tanto contigo como nesta saudade.

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O G. Já sabe cantar os parabéns a você. Talvez os cante hoje. Para a avó Zé uma salva de palmas... Saudades, mãe...

(...)

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Nunca pensei fazer isto. Sempre disse que o cemitério não importa, mas hoje, pela segunda vez tive de visitar-te. As saudades doem muito, mas dói ainda mais pensar que um dia poderia não senti-las...