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Dos 43 anos

Belenenses a ganhar 2-1 ao Gotemburgo, eu e o meu pai nas bancadas, como nos velhos tempos da minha meninice. Uma emoção como nem sei explicar. E, de repente, uma frase dele enche-me os olhos de lágrimas. Por não me ter lembrado, por me fazer sentir tão pequenino perante todo aquele amor... «Hoje, se fosse viva, eu e a tua mãe faríamos 43 anos de casados»

68 anos

A 9 de março dia levado da breca nasceu o Zé Miguel completamente careca Assim escrevia o meu avô Eduardo sobre o nascimento do meu pai em 1947, no mesmo dia em que fazia 9 anos o filho mais velho, também Eduardo de seu nome. 68 anos depois e enquanto sorrimos pelo lamento por ter falhado por um ano a conquista do único campeonato da história do Belenenses eu e o meu pai continuamos a tentar aprender o que é isso de ser-se uma família. Desde a morte da minha mãe que passámos a ter-nos um ao outro. Desde a morte da minha mãe que passei a sentir-me mais responsável. Desde a morte da minha mãe que tento sempre - sabendo que em vão - que ele não sofra pela sua ausência. Mas também, desde a morte da minha mãe, que sentindo-me perto, me sinto brutalmente longe dele. Desde a morte da minha mãe sinto que nada do que diga vai poder animá-lo e dou por mim, de cada vez que ele tem de ser internado por qualquer operação que faça, num silêncio do qual não sei sair. como se sentisse que diga o que

Para um filho, começando por um pai...

Não há outra forma de dizê-lo, pai: anteontem, a mãe morreu. Haverá? Foi-se, partiu, deixou-nos, faleceu, desencarnou, não resistiu... Que diferença faz? Foi uma maldita pneumonia que a levou, eis o que constará dos relatórios dos médicos. Que o líquido nos pulmões a enfraqueceu, que o coração ficou fraco, que os rins pararam, que o corpo não conseguiu reagir à medicação. Tretas. Quer dizer, tudo verdade, mas tretas. Não foi nada disso. Filho, a tua avó não era deste mundo. Regressou a casa, apenas. Era um anjo entre nós, e dela tenho agora tanto para te contar que já sei que nunca tal caberá na pequenez dos meus dedos, nem na velocidade do meu pensamento... Poderia começar por dizer-te, filho, que a tua avó Zé, a buó, como lhe chamas, era o tipo de pessoa que dava as camisolas caras, que recebia de presente, a pessoas que delas mais precisavam, que o dizia, orgulhosa e sem problemas, a quem lhas dava. Que a tua avó, filho, era o género de pessoa que saía de casa, todos os dias