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Legionella num país a sério

Dizem que com a idade vamos ficando mais brutos (isto há de dar uma crónica) e é bem capaz de ser verdade. Pelo menos paciência vamos perdendo. E é por isso que hoje digo sem problemas que estou farto de ver que em Portugal nada acontece a quem não cumpre leis, a quem é chico-esperto, a quem prejudica os outros para ficar melhor. A propósito do surto de legionella, que matou até à data cinco pessoas e levou centenas para os hospitais, fala-se de crime ambiental cometido por uma empresa privada. Presumo que no fim nada lhes aconteça. Ou, pelo menos, nada que a todos nos faça sentir que foi feita Justiça. Num país a sério eu sei o que acontecia: os responsáveis da empresa eram julgados por crime ambiental e por homicídio por negligência; a empresa pagava ao Estado tudo o que este gastou a tratar os doentes; a empresa indemnizava todos os que ficaram doentes; a empresa pagava indemnizações exemplares aos que perderam familiares. Se, no fim, a empresa não tivesse como pagar, fechav

A praxe

Quando fui praxado, no ano de 1991, diverti-me. Diverti-me porque a minha praxe não foi bem praxe. Foi recepção aos caloiros, umas pinturas na cara, umas cantorias, uma ida ao largo ali ao pé da faculdade e muita boa disposição. A minha praxe não foi, pois uma praxe. Não havia Dux, nem hierarquias. Havia duas turmas apenas (do segundo e terceiro e anos) e pessoas bem formadas, divertidas, que, no fundo, com a falta de gente que havia na faculdade queriam era companhia. Foi um belo pretexto para fazer amizades, prolongado depois em jantaradas, jogos de futebol, conversas nos corredores. Em momento algum houve a estúpida superioridade veterano/caloiro. Quando a minha turma praxou foi igual. Sempre que alguém dizia que ficava de fora, de fora ficava, sem stresses. Também não houve comissões de praxe, nem hierarquias algumas. No fundo, percebo por estes dias, eu diverti-me na praxe porque não houve praxe na minha universidade. Sempre senti que alguns relatos não eram de integração, ant

A propósito de um psicólogo

Ao José Carlos Dias. Psicólogo. Ex-jornalista, um amigo. O assunto é tabu. Mas não devia ser. Não são, ao contrário do que a ignorância faz crer, os maluquinhos os únicos a recorrer aos serviços de um psicólogo. Bem pelo contrário. A decisão é, quase sempre, um sinal de lucidez extrema. Assim foi comigo. Consumido por uma ansiedade que não conseguia travar, segui o conselho de um bom amigo e consultei seu psicólogo. José Carlos Dias. Era bom, dizia-me o R.. Ajudara-o. E até o compreendia melhor por, também ele, ter sido jornalista. Fui lá. Gostei dele ao primeiro contacto. Não falava muito (provavelmente nem devia), mas ao fim de uns meses deixei de precisar de lá ir. Ainda hoje não sei o que ele me fez, mas tirou-me a ansiedade. Curou-me. Devolveu-me a vida e a alegria de viver. Ou mostrou-me o caminho para o conseguir. Disse-me que eu estava no fundo de um vale, e que, quando subisse a montanha, mesmo que voltasse a descer, teria sempre as ferramentas para travar a queda. Prom

O rosto da vergonha

Somos, sem excepção, o rosto da vergonha. Na TSF uma velhota chora aos microfones do Fórum e relata que está desempregada e o filho também; que o marido está incapacitado – não pede subsídios, diz apenas que está desempregada, que é como quem diz “quero trabalhar”. Claro que, velha, ninguém lhe dará trabalho. Serve apenas para complicar as estatísticas de quem governa. E ela chora. Claro que chora. E diz que os pais criaram 14 filhos e nunca lhes faltou, pelo menos, sopa. Que agora, até isso lhe foi tirado. E chora. E pede que se fiscalize quem precisa de apoio. Que se fiscalize. Não que se dê à louca. Que se fiscalize. Como quem diz: estou em desespero e ninguém me socorre. E chora. E pede desculpa. Desculpa de estar viva, provavelmente, de tanto nos pesar na dívida. De tão dispendiosa nos ser a sua sopa. A nós que trabalhamos, a nós que até chegamos tarde a casa por tanto trabalharmos. E que nos vemos aflitos para pagar as escolas dos nossos filhos e as prestações dos nossos humil

Carta a um filho (para memória futura)

Meu querido, Já levas quase dois anos de vida e neste quase entra o exagero de um pai que ao ver-te com 19 meses se pergunta para onde foi o tempo passado, por onde veio, por entre que dedos fugiu. Ainda não falas - ou melhor, falando não conversas, porque de português vais sabendo apenas naum, pê-pê, que é a tua pera, bô, abuó, manman, pápá, opa, e mais meia dúzia de coisas - mas entendes o que te vou dizendo. Percebes quando vais para a escola do Tigre, que é como chamo à creche onde andas, porque lá tem na parede a pintura de bonecos gigantes do Winnie the Pooh e do seu amigo tigre, mas se te tentasse falar de economia o mais certo seria que me olhasses, me virasses costas e dissesses uma daquelas tuas frases: "otapa manupch etetei mamã".. E é por isso que te escrevo. Não faço ideia de como será a tua vida quando leres esta carta - se alguma vez chegares a lê-la - mas importa que percebas um pouco como chegámos ao dia de hoje, e porque chegámos aqui com a necessidade

2011, ou carta a um filho que está quase a chegar

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2011 não é um ano. 2011 é um dia. É o dia em que tu, meu anjo, vais fazer-me chorar de emoção. Já o fizeste em 2010, mas aí tinha-te visto apenas na "TV", em pequenino mais pequeno que tu, e amarelo como os Simpsons, o que foi já mais que o negativo em que te vi antes. 2011, meu pequeno anjo, é o ano em que vais ganhar um rosto. Não que não o tenhas ainda. Já to vi. Não o de Simpson, claro, que esse em ponto pequeno era o meu, em ponto grande era o da mãe. Não, meu anjo, fiquei convencido de que serás mais parecido com o Brad Pitt, por certo. Afinal, se ele é o mais belo para as mulheres, então no mínimo serás como ele. Serve este disparate (admitir que possas ser apenas tão bonito como o Brad) para te mostrar como é o amor de um pai. Isto digo eu, claro, que nem sei bem o que é isso de ser pai. Sei o que é sentir-te mexer por baixo da pele da mãe, sei o que é levar (de ti) pontapés nas costas à hora de dormir, sei o que é ver-te aos pulos enquanto, com uma lanterna, te tiro

Sinais dos tempos

Ele - Vamos ter de casar Ela - Casar? Pra quê, caralho? Não quero... ( antes de ele explicar de forma maçadora as razões que na sua razão tornam razoável que se casem)

A culpa é do José Régio

Estranho animal, este, que se alegra de sentir a alma trespassada, que é criativo apenas na dor, que caminha fixamente numa direcção, apesar de saber que no fim só a dor o aguarda. Ou talvez por isso mesmo. "Cântico Negro", de José Régio (interpretado por João Villaret)

Se tememos que a vida nos pese, tratemos de ler as dos outros

Carregar a dor é escrever este comentário num vídeo do Youtube: "I was once in love with a girl who could play this song. I didn't realize how much I loved her until I'd finally pushed her away. I haven't been able to fully love anyone else since then and that was 14 years ago- and I know I never will. When I listen to this it makes me feel like she's still here, like we're still in love. I can even smell the perfume she wore. I don't know if it makes me sad or actually brings me happiness to listen to it, but I know that I need to hear it every so often." Michael Nyman - Heart asks pleasure first

(Together) We will love the beach

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Retratos de um fim de semana marcante

E como espectador resta-me dizer isto:

Mesmo que o F. consiga provar à V. que a odeia, que consiga encontrar todas as explicações plausíveis, ele sabe que está a mentir(-se). Que se odeia, sim, que se odeia por não ter sabido dizer-lhe as palavras certas na altura exacta.