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Haaghhh! - Da memória

Onde pode levar-nos um cheiro? No caso, o cheiro a chá preto e à torrada bem tostada em panrico untada com becel A um som! A mim a um som. Eu explico: Esse é o cheiro de uma salinha pequenina. Tão pequenina e tão cheia de livros, que tudo nela era gigantesco. Pelo menos aos olhos de um miúdo que começa a aprender o sotaque british e o vocabulário - que há de valer-lhe ser dos melhores da turma em inglês e que, se não fosse preguiçoso, lhe valeria notas altas, como os outros melhores. Nessa sala, de alcatifa creme, ou beige, ou lá como se diz, há uma cadeira de doutor (daqueles doutores que lêem muito, não dos que mandam meter a língua de fora e dizer demoradamente aaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrr) e uma secretária gigantesca. Cheia de livros. E de documentos. E de desenhos. E, ainda, de um busto em barro do homem hábil que aqui se sentava a trabalhar. Um busto em barro que tinha sido feito pelo próprio e que conservava um tom acastanhado por nunca ter ido a cozer. Lá do fundo - da porta da cozi...

(de Natal)

Dia 24. De tarde. Casa da família N. P. B. V. J. P. F. T. estão loucos. Na árvore ainda não há presentes. O Pai Natal tem muito trabalho e vai ter de passar em casa dos avós deles durante a tarde. Vai lá deixar as prendas. Mas este Pai Natal é estranho. Alérgico a crianças, aperceber-se-ão uns anos mais tarde. Por isso, os pirralhos têm de ir para o quarto dos avós N. Têm de dormir a sesta. Não pregam olho. Ouvem barulhos. Deliram quando ou imaginam o oh oh oh oh que anuncia a chegada dos embrulhos. De noite, hão de estar todos reunidos na sala de jantar, de volta do enorme monte, com o avô L., de copo de água atrás, de prevenção, a ler os seus nomes. Cada um leva para casa mais que muitas prendas. Cada um sorri e salta de excitação de cada vez que o seu nome é dito. Nesse dia não há cansaço. Apenas euforia. O chocolate é quente, no fim da noite, e é o corolário, também por isso, de todas as emoções fortes. Dia 25. De manhã. Casa da família P. Aproveitando o facto de os P. morarem pert...