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A mostrar mensagens de março, 2020

Covid-19 (dia 18 - 30/03) - Moratória ao banco

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Ora então cá estou eu. Do que me é dado a ver pelas estatísticas do Blogger ninguém sentiu a minha falta (peço desculpa aos 7 leitores que regularmente vou tendo - não é minha ideia desvalorizar-vos, antes gozar comigo), mas não pensem que a ausência se deveu ao facto de nada ter para dizer. Não é que do ponto de vista pandémico tenha havido grandes histórias para contar - até parece, se os números não forem traiçoeiros, que Portugal está a querer fintar o destino latino - mas o ritmo dos dias continua louco. É certo que já me livrei de quase todas as ansiedades. Por esta altura já não acho sempre que estou com o raio do Covid-19, e como raramente saio de casa (e quando saio não estou com quase ninguém e ainda levo máscaras e luvas) tenho reduzido drasticamente as probabilidades de vir a ser apanhado nesta fase inicial. Quanto mais se fica em casa, mais conforto se tem do ponto de vista mental (relativamente ao receio de contágio), e mesmo havendo quem se queixe desta prisão, a mim

Covid 19 (dia 15 - 27/03) Um prazer raro e os pais abandonados pelo Estado português

Ainda não foi desta que folguei. Ou melhor... mesmo estando de folga, lá me desloquei à TV para comentar a atualidade logo pela manhã. E que estranho é andar por uma Lisboa deserta, com lugares para estacionar em quantidade simpática, sem trânsito... Foi rápido, mas tive de acordar cedo - muito cedo. Seja como for, o dia foi melhor porque estive mais tempo com os filhos e com a mulher. Embora tenha também passado mais tempo na cozinha. O Pingo Doce finalmente entregou as compras e na encomenda vinham cinco belíssimos robalos frescos que tratei de cozinhar (três deles, os outros dois vão amanhã para pai e sogro da mesma forna) no forno, com um pouco de fiambre no meio. (batatas cozidas antecipadamente, cama de cebola, vinho branco, tomate, peixe com sal e azeite por cima; cerca de 20 minutos no forno a 180 graus, para não secar) E o prazer que nos deu a todos aquele peixe fresco, numa altura em que somos rodeados por carne descongelada a quase todas as refeições, ou douradinhos

Covid 19 (dia 14 - 26/03) - Uma folga, uma espera e uma videochamada

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Temos cá por casa uma imagem de Nossa Senhora, a "Mãe Peregrina" de Schoenstatt , que recebemos todos os meses a dia 15. Fica por cá 2 dias antes de seguir para outra casa. Este mês, por força do Covid-19, ficou cá por casa e por cá ficará até esta crise passar e voltar a ser seguro andar de casa em casa para a entregar. Às 20h00, estabeleceu-se, todas as famílias da corrente rezam ao mesmo tempo uma Avé Maria. Hoje o nosso mais velho fez a oração e foi tocante. Algo como: "Ajuda-nos porque eu não consigo compreender muito bem isto e quero voltar a sair à rua e voltar à escola". Já ontem tinha tido um meltdown porque em casa não conseguia aprender e dias antes dissera-me que estava arrependido de não ter aproveitado para sair mais nos anos que leva de vida (ele, o caseiro - agora quer sempre sair, nem que seja para ir ao lixo, a 40 metros da nossa porta). O dia começou tarde, com sono prolongado e novo atraso nos trabalhos escolares. Acabei por não estar

Covid-19 (dia 13 - 25/5) Um golpe de sorte

Passou-se o dia e não vim cá escrever. O trabalho correu bem, fechei cedo o jornal, e agora que passou algum tempo já nem me lembro bem de muita coisa. Numa conversa de irmãos, o mais velho disse à mais nova que lhe dava mil euros se ela comesse tomates cereja. E ela respondeu-lhe: Para quê? O dinheiro agora não serve para nada. Está tudo fechado e o dinheiro só serve para comprar comida... Mais mortes e a confirmação de uma empresa (próxima) a negar teletrabalho a uma funcionária admistrativa, alegando não ser seguro - como se o DL do estado de emergências lhes deixasse sequer essa possibilidade. É pena que algums patrões não percebam que não estão só a tentar poupar dinheiro em tempo de crise. Estão também a comprar guerras que se quiserem combater perdem. E, pior que isso, estão a perder o mais importante: os trabalhadores. O vírus lá vai avançando, embora pareça mais contido que noutros países. Por cá cresceu 28 por cento, mas são tão poucos os testes feitos que possivelm

Covid-19 (dia 12 - 24/03) E o vinho, senhor?

Ontem acabei por não voltar aqui. Os dias em casa são incrivelmente mais cheios que os outros. Há sempre algo a acontecer. Uma criança que chora, outra que grita, uma que chora porque a outra grita e uma que grita porque a outra chora. Pelo meio grita a mãe, grita o pai e grita até quem cá não está. Porque a vida na III Guerra Mundial  (quem esteve no Ultramar tem dito - o que me espanta - que isto é pior que a guerra, porque o inimigo não se vê) é mesmo agitada. Adiante: ontem a saúde do meu pai estabilizou. Não voltou a ter febre - algo que continuou esta manhã - e outra coisa boa do dia é que aprendi a lidar com os meus ataques de hipocondria. Continuo a ter todos os sintomas do Covid-19 à vez, mas o meu cérebro já consegue gozar com ele próprio. Hoje o mais velho fez uma reunião no Zoom com os colegas de escola e divertiram-se todos imenso. Foi emocionante ver como estavam felizes de voltarem a ver os rostos uns dos outros, como tentavam falar. Videochamada para 20 pessoas ao

Covid-19 (dia 11 - 23/03) - (o post que ficou a meio)

Uma primeira nota a abrir este post... Ainda bem que as crianças têm 4 e 9 anos, que assim a dose de um almoço resolve-se facilmente (500 gramas de carne e estamos todos safos). Nem imagino o que será estar fechado com dois adolescentes esfaimados... Por outro lado, isto leva a mudanças no  peso. Muita gente tem comido mais, cá por casa temos reduzido. E eu, por exemplo, caí na primeira semana de 78 para 76 kgs. Ando a obrigar-me a lanchar e a jantar melhor (confesso que também já estou a perder o medo de vir a faltar comida às crianças, e mais confiante no funcionamento das lojas), e já recuperei 300 gramas. Se ficar por este peso fico feliz. O mais importante do dia, no entanto, é mesmo a saúde do meu pai. Já aprendi que isto é uma montanha russa. E de manhã estava sossegada. Dormiu sem febre, já está a tomar antibiótico e não tem tossido. Nem quero largar foguetes. A ver como corre o resto do dia. Agora vou atirar-me ao trabalho e hei de cá voltar (tenho escrito quase sempre n

Covid-19 (dia 10 - 22/03) Aquele telefonema...

Estou finalmente sentado ao computador (quer dizer, estou finalmente sentado ao computador não para trabalhar) e preparado para falar de mais um dia. Ontem não saí de casa e creio que isso se refletiu numa total ausência de ansiedade (pela primeira vez) durante o dia. Hoje acordei tranquilo e depois de uma aula de ginástica (ou de dança) com os miúdos - para se manterem ativos - almoçámos em paz uma massa com cogumelos, azeitonas e bacon (além de um molho de tomate). Para fazer render a comida junto cogumelos, mas a mais nova, que não é parva, já me topou e reclama (guerra perdida por mim, simplificando). Sentia-me tão bem que o verbalizei, a dado momento, em conversa com a minha mulher. Grande erro: se há coisa que devia ter aprendido nos 10 dias de reclusão é que na verdade estes 10 dias equivalem a 20 ou 30. E quase todos se dividiram entre o bom e o mau. Pois o mau, hoje, chegou pelas 17h40, quando um telefonema do meu pai anunciou 38,2 graus de febre. Uma notícia destas, que

Covid-19 (dia 9 - 21/03) - Crianças de sonho; e o coração nas mãos

No dia em que em Itália morreram 739 pessoas e Portugal chegou aos 1020 infetados, voltei a acordar com ansiedade. Há uma tristeza que nos cala, que nos faz olhar para o prato quanto estamos a tomar o pequeno almoço, e que disfarçamos quando estamos junto das crianças. E há momentos únicos que mais tarde serão recordados. Como aquele em que hoje a nossa filha mais nova pediu para fazer videochamada com uma amiga da escola e as duas, ali, do alto dos seus 4 anos, inventaram uma nova forma de jogar às escondidas: "fecha os olhos, que vou esconder-me".  E depois lá andavam os pais pela casa, de telemóvel em punho, a vasculhar os recantos até elas se verem e se rirem. Bastou isto para, pouco depois, já dizerem: "vai por essa porta"; "não, para o escritório", etc. Confesso que poucas coisas me deixaram mais comovido que esta manifestação de criatividade e de amor... Hoje não saí de casa. E a esta hora ainda nem banho tomei. Vou fazê-lo antes de me deita

Covid-19 (dia 8- 20/03) - levantei a voz...

Oitavo dia em que tudo isto foi real. Comecei, após bem dormir e melhor acordar, satisfeito. A temperatura caíra de novo para os níveis normais. Está cá sempre, no entanto, uma sensação de pânico latente - e, percebi mais tarde, trabalhar ajuda mesmo a fintar a loucura... Comecei praticamente o dia com SMS do Jumbo (diz que agora se chama Auchan) para ir levantar a encomenda feita há quase uma semana. Lá fui, tudo dentro da normalidade. Funcionária sem máscara e aparentemente sem medo (bom, eu estava de máscara e se tivesse algo ela estaria protegida também... Regresso a casa para organizar todas as compras e cozinhar uma primeira leva de carne picada com massa, seguido de rota pela casa de pai e sogro (por esta ordem, para de casa do pai trazer alhos e cenouras em excesso e levar ao sogro). De caminho, ainda me animei de descobrir que a padaria aqui do bairro está aberta e tem pão com fartura - levei para cada um deles dois pães de Mafra, que eles sem pão são como peixe sem água

Covid-19 (dia 7 - 19/3) Dia do Pai

Mais um dia a madrugar... Como ontem já tinha dito, hoje teria de atacar um supermercado pela manhã. Afinal, o leite de aveia é fundamental cá por casa (pois não se bebe o de vaca) e estava mesmo a acabar (um pacote). A decisão nunca é facil. Ir ou não ir? A este ou a outro? A que horas? Segui o conselho de uma amiga e repeti a experiência dela na véspera: Às 7h30 lá estava eu à porta de um super dos mais pequenos - e que abrem mais cedo. Sair à rua é como ir para Chernobyl. Uma roleta russa: comprar comida a que preço? Arriscando infeção? No caminho, carros e mais carros. Na rua, no centro de Lisboa, gente e mais gente. Em estação de comboio central mais movimento do que me parece aceitável. Fico com a ideia de que há patrões a insistir na manutenção da atividade, talvez achando que isto do Covid-19 é uma histeria coletiva. Dentro da loja, funcionários sem máscaras, sem luvas, numa aparente normalidade. Pergunto-me se não lhes passa pela cabeça o risco? Ou se passa, mas es

Covid-19 (dia 6 - 18/3) - um começo doloroso

Despertador para as 7.30. O dia começa como se estivéssemos em guerra. Faltam legumes para a sopa e fruta e a hora melhor para ir às compras é o arranque do dia. Máscara, luvas. Quatro pessoas de cada vez na frutaria. Espero pouco. Faço as compras para três casas e saio. Chego a casa e divido tudo por três sacos. Acabo, aspiro o chão e ainda penso na conferência de imprensa que vinha a ouvir no carro: os estímulos de 3 mil milhões de euros à economia.  Sinto-me atropelado por um camião. Emocionalmente, nem tanto fisicamente.  Dias assim transportam-me para o cenário de um filme de ficção científica. Para piorar, estou desde ontem com um siso a querer doer. Não sei o que fazer. Espero que passe... E isto aumenta o pânico.  Vamos todos ficar bem, penso no arco íris que a minha filha desenhou. Que fiquemos, sim! Penso só em proteger a família e a pensar nos miúdos tiro a máscara ao entrar em casa, de modo a não assustar. De seguida penso que se calhar dever

Covid-19 (dia 5 - 17/03) - Um dia bom

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Portugal passou os 400 casos de Covid-19, quem quer fazer compras de supermercado online tem de ficar numa fila de espera virtual (para depois não haver metade do que quer comprar), amanhã (diz-nos ao fim da noite de hoje o Jornal de Negócios) Marcelo Rebelo de Sousa vai decretar o estado de emergência e obrigar-nos a todos a ficar em casa e isso, sabemos lá nós como, é capaz de dar um bocadinho cabo das nossas vida profissionais e até financeiras. E, no entanto, ao fim do quinto dia de isolamento social (auto imposto), dei por mim a vir até à sala e, enquanto tomava um chá, olhar para a minha mulher e dizer: hoje foi um dia bom, não foi? Sim, houve gritos da criançada - como há sempre - algumas zangas, a palavra mamã e a palavra papá gastas de tanto serem usadas, correria para a frente e para trás, alguma pressão dos infantis que pela primeira vez se queixaram de (e usaram a palavra) tédio. Houve também notícias de o mundo se ir fechando cada vez mais; de o Euro-2020 de futebol pa

Covid-19 (dia 4 - 16/03) - Pokemon Go

Morreu o primeiro português vítima de Covid-19. E os portugueses perceberam que a estatística é assustadora: que lá para o fim de março possivelmente haverá 50 mil infetados (que isto dobra a cada dois dias - e hoje há 331 casos). Não passou muito tempo e de repente tudo o que escrevi acima deixou de provocar-me arrepios. Calma, não sou um monstro nem fico insensível a nada disto. Tão pouco estou menos preocupado que ontem. Hoje pela primeira vez não senti à vez todos os sintomas.Nem isso nem ataques de ansiedade. Vá lá que já só faltam prái 150 dias para nos livrarmos disto! Este dia trouxe mais novidades. Antes de mais, fizemos uma aula de ginástica em casa. A família toda, via Youtube. Depois começaram as novidades: da escola chegaram trabalhos para os miudos. Ela pintou um arco-iris e a frase "Vamos ficar todos bem"; ele fez contas, viu vídeos de estudo do meio na plataforma Escola Virtual e adorou. Queria responder a mais testes, ver mais vídeos... Provavelmente an

Covid-19 (dia 3 - 15/03) - Arroz de feijão e ruído crescente

Confesso, eu que sou asmático e tenho um pai que faz Bingo na lista das comorbilidades associadas ao Covid-19, todos os dias acordo numa espécie de sobressalto. A primeira coisa que o meu cérebro faz é uma verificação ao hardware: dói a garganta? consegues respirar? tens dores musculares? fraqueza generalizada? tosse? Naqueles três segundos, estou em suspenso. Acho que estamos todos em suspenso. Não três segundos, mas há uns dias. E por mais uns quantos. Todos temos opiniões fortes sobre se deve ser decretado estado de emergência, todos sabemos muito bem as implicações de se fechar as fronteiras terrestes com Espanha e todos temos opinião sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa por webcam manhosa ao país. Hoje o dia foi difícil. Foi só o terceiro em casa, mas os miúdos estiveram mais agitados (ou então nós com menos paciência). E o tom de voz vai subindo mais vezes do que gostaríamos. À noite, o mais velho teve insónia e só há pouco (já depois de acabar de ler o Diário de

Covid-19 (Dia 2- 14/03) - Os pais

Acordei às 8.30 horas, quando queria dormir mais 8 horas, com o barulho dos petizes (se fosse dia de escola não estariam por certo acordados tão cedo). Antes de mais, vamos lá esclarecer uma coisa, para desmistificar: não meus queridos, não estão a ficar doidos! O que estão a sentir todos sentimos: todos os sintomas, a toda a hora. Ao acordar é o nariz e as vias respiratórias a arder, a dor de garganta insignificante, duas tossidelas por dia, o nariz sempre húmido e até a dor no peito que mais faz parecer que lá vem um ataque cardíaco. Não sou médico, nem quero desencorajar-vos de ligar para linha Saúde24, mas espero que no fim tudo isto seja apenas o que me parece (e desejo) ser: ansiedade. É a ansiedade de pensar que podemos apanhar o vírus e levá-lo a outros; que alguém que nos é querido pode ser apanhado; que mesmo que ninguém próximo seja infetado, isso em nada reduz o drama de uns quantos milhares; a ansiedade de não sabermos quando é que isto acaba, seja porque se inventa

Covid 19 (dia 1- 13/03) - O início

O meu dia 1 do Covid 19 não foi ontem (13/03/2020), mas façamos que sim. Porque ontem foi o primeiro dia em que o meu patrão me mandou trabalhar em casa. Entrámos num esquema de dividir o pessoal em duas metades que nunca se cruzam, de quinta a sexta. Uma semana estamos na redação, a outra em casa. Adiante, que isto é mera introdução. Decidi escrever um diário da minha convivência com o Covid-19 porque hoje foi, além do primeiro dia que fiquei em casa a trabalhar, o primeiro dia que os meus dois filhos não foram à escola. Ele está com 9 anos, ela com 4. Têm ainda pouca noção do que se passa e menos (ainda) capacidade para o perceber. Bem que tentamos explicar-lhes, ir alertando sem alarmar, mas tudo é ainda uma festa. Foi quando a meio da manhã lhes deu a fome do "lanche da manhã" que me assustei (e pensei em escrever). Nunca fui de açambarcar supermercados em alturas de crise (nem de encher o carro com bidons de combustível em situações de aperto), mas quando hoje eles