Covid-19 (dia 3 - 15/03) - Arroz de feijão e ruído crescente
Confesso, eu que sou asmático e tenho um pai que faz Bingo na lista das comorbilidades associadas ao Covid-19, todos os dias acordo numa espécie de sobressalto.
A primeira coisa que o meu cérebro faz é uma verificação ao hardware: dói a garganta? consegues respirar? tens dores musculares? fraqueza generalizada? tosse?
Naqueles três segundos, estou em suspenso. Acho que estamos todos em suspenso. Não três segundos, mas há uns dias. E por mais uns quantos.
Todos temos opiniões fortes sobre se deve ser decretado estado de emergência, todos sabemos muito bem as implicações de se fechar as fronteiras terrestes com Espanha e todos temos opinião sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa por webcam manhosa ao país.
Hoje o dia foi difícil. Foi só o terceiro em casa, mas os miúdos estiveram mais agitados (ou então nós com menos paciência). E o tom de voz vai subindo mais vezes do que gostaríamos.
À noite, o mais velho teve insónia e só há pouco (já depois de acabar de ler o Diário de um Banana, segundo volume) conseguiu adormecer. Falei com ele, perguntei se sentia alguma preocupação com o corona, alguma tristeza com o estar em casa e respondeu-me que não: «a probabilidade de o corona matar uma criança é inferior a 1 por cento», justificou (já não me lembro desses tempos, mas é reconfortante passar ao lado desta preocupação de adultos).
Quero - acho que queremos todos - sair desta espiral depressiva a que viemos parar. Preocupados por nós, pelos nossos familiares, pela economia, etc... Então decidi começar o dia a levar sorrisos ao meu pai e meu sogro.
Cozinhei dois pianos de entrecosto no forno (com molho barbeque), um arroz de feijão e meti em tupperwares. Toquei-lhes às campaínhas sem pré-aviso e além de lhes lembrar que não estão sozinhos, de lhes levar um pitéu (um mimo), ainda fiz videochamadas para verem os netos. Houve sorrisos em barda. E, confesso, senti-me um pouco mais leve.
Mas, dizia, não foi fácil. Mesmo tendo previsto que o número de casos positivos seria hoje mais alto que os 245 anunciados, sabemos todos - e é cada vez mais evidente - que se o pico de contágio vai ser em meados de maio, então ainda nos falta longo caminho.
Ainda não o digerimos e dou por mim a trocar aqueles olhares com a minha mulher nos quais não é preciso (ou possível, até, porque estamos sempre acompanhados) dizer uma única palavra.
Há tristeza, apreensão (sobretudo) e ainda que confiantes, temos os nossos momentos de quebra. Planeei que hoje poderíamos tentar ver um filme e ter alguma normalidade - mas não deu.
Amanhã vamos ter de introduzir novidades: logo para começar, de manhã teremos de fazer exercício físico em família. Não é possível passarmos 30 dias, ou mais, em casa, sem nos mexermos; sem os miudos gastarem energia. Nem saudável. Já baixei um quilo para os 78 (raramente tenho apetite - quando era gordo numa situação destas passaria o dia a comer) e não podemos permitir que a massa muscular se vá.
Há no Youtube milhares de vídeos de treinos que podem ser realizados em casa, só utilizando cadeiras ou o o chão - exercícios para toda a família.
E há em Portugal soluções com o a do meu amigo Pedro Almeida (treino em casa) que além de fazer planos personalizados, ainda está a disponibilizar gratuitamente um programa novo para cada dia.
Amanhã isto vai ser melhor. Tem de ser... Fiquem todos bem! (e fiquem em casa)
A primeira coisa que o meu cérebro faz é uma verificação ao hardware: dói a garganta? consegues respirar? tens dores musculares? fraqueza generalizada? tosse?
Naqueles três segundos, estou em suspenso. Acho que estamos todos em suspenso. Não três segundos, mas há uns dias. E por mais uns quantos.
Todos temos opiniões fortes sobre se deve ser decretado estado de emergência, todos sabemos muito bem as implicações de se fechar as fronteiras terrestes com Espanha e todos temos opinião sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa por webcam manhosa ao país.
Hoje o dia foi difícil. Foi só o terceiro em casa, mas os miúdos estiveram mais agitados (ou então nós com menos paciência). E o tom de voz vai subindo mais vezes do que gostaríamos.
À noite, o mais velho teve insónia e só há pouco (já depois de acabar de ler o Diário de um Banana, segundo volume) conseguiu adormecer. Falei com ele, perguntei se sentia alguma preocupação com o corona, alguma tristeza com o estar em casa e respondeu-me que não: «a probabilidade de o corona matar uma criança é inferior a 1 por cento», justificou (já não me lembro desses tempos, mas é reconfortante passar ao lado desta preocupação de adultos).
Quero - acho que queremos todos - sair desta espiral depressiva a que viemos parar. Preocupados por nós, pelos nossos familiares, pela economia, etc... Então decidi começar o dia a levar sorrisos ao meu pai e meu sogro.
Cozinhei dois pianos de entrecosto no forno (com molho barbeque), um arroz de feijão e meti em tupperwares. Toquei-lhes às campaínhas sem pré-aviso e além de lhes lembrar que não estão sozinhos, de lhes levar um pitéu (um mimo), ainda fiz videochamadas para verem os netos. Houve sorrisos em barda. E, confesso, senti-me um pouco mais leve.
Mas, dizia, não foi fácil. Mesmo tendo previsto que o número de casos positivos seria hoje mais alto que os 245 anunciados, sabemos todos - e é cada vez mais evidente - que se o pico de contágio vai ser em meados de maio, então ainda nos falta longo caminho.
Ainda não o digerimos e dou por mim a trocar aqueles olhares com a minha mulher nos quais não é preciso (ou possível, até, porque estamos sempre acompanhados) dizer uma única palavra.
Há tristeza, apreensão (sobretudo) e ainda que confiantes, temos os nossos momentos de quebra. Planeei que hoje poderíamos tentar ver um filme e ter alguma normalidade - mas não deu.
Amanhã vamos ter de introduzir novidades: logo para começar, de manhã teremos de fazer exercício físico em família. Não é possível passarmos 30 dias, ou mais, em casa, sem nos mexermos; sem os miudos gastarem energia. Nem saudável. Já baixei um quilo para os 78 (raramente tenho apetite - quando era gordo numa situação destas passaria o dia a comer) e não podemos permitir que a massa muscular se vá.
Há no Youtube milhares de vídeos de treinos que podem ser realizados em casa, só utilizando cadeiras ou o o chão - exercícios para toda a família.
E há em Portugal soluções com o a do meu amigo Pedro Almeida (treino em casa) que além de fazer planos personalizados, ainda está a disponibilizar gratuitamente um programa novo para cada dia.
Amanhã isto vai ser melhor. Tem de ser... Fiquem todos bem! (e fiquem em casa)
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