Covid-19 (dia 5 - 17/03) - Um dia bom

Portugal passou os 400 casos de Covid-19, quem quer fazer compras de supermercado online tem de ficar numa fila de espera virtual (para depois não haver metade do que quer comprar), amanhã (diz-nos ao fim da noite de hoje o Jornal de Negócios) Marcelo Rebelo de Sousa vai decretar o estado de emergência e obrigar-nos a todos a ficar em casa e isso, sabemos lá nós como, é capaz de dar um bocadinho cabo das nossas vida profissionais e até financeiras.

E, no entanto, ao fim do quinto dia de isolamento social (auto imposto), dei por mim a vir até à sala e, enquanto tomava um chá, olhar para a minha mulher e dizer: hoje foi um dia bom, não foi?

Sim, houve gritos da criançada - como há sempre - algumas zangas, a palavra mamã e a palavra papá gastas de tanto serem usadas, correria para a frente e para trás, alguma pressão dos infantis que pela primeira vez se queixaram de (e usaram a palavra) tédio. Houve também notícias de o mundo se ir fechando cada vez mais; de o Euro-2020 de futebol passar a Euro-2021; de que o COI mantém as datas para os Jogos Olímpicos; de que na China terá havido anúncio de resultados animadores na pesquisa por uma vacina contra o bicharoco.

Houve também o desespero do meu pai porque o fiambre tinha acabado! O fiambre acabou!!! E então toca de ir à merceria da rua sem máscara na cara, embora de luvas. E houve o milagre da multiplicação de todo o fiambre que estava abandonado no frigorífico cá de casa e saltou para a do meu pai. E houve a ida à Padaria Portuguesa comprar o pão que por cá faltava desde que levei todo o que tínhamos para os avôs; e o empregado que agradeceu muito o facto de eu pagar com multi banco até porque nos ultimos dias estava a ficar com a pele avermelhada e assim não havia contacto físico...

E foi um dia bom. Curioso. Um dia bom porque consegui resolver um dos maiores problemas: a falta de fiambre (vá, a sério, digo-o mesmo com carinho e a compreensão de que não é fácil estar sozinho em casa tantos dias e sentir que faltam coisas básicas). E porque pela manhã vi os putos a rirem à gargalhada enquanto faziam uma aula de ginástica. E porque na simplicidade desta nova vida todos nos deliciámos com uma simples massa com molho de tomate, fiambre! (FIAMBRE!) e azeitonas - havia cogumelos, mas não posso dizer porque o meu filho, que não gosta, comeu-o sem se aperceber, ao contrário da irmã que não se queixou mas deixou todos no prato). E porque guardo o abraço que ela me deu ao fim da noite quando nos cruzámos no corredor e ela disparou um "adoro-te papá". E porque guardo o olhar dele, sereno, a pedir-me para ouvir música nos fones e a esforçar-se a cada dia para começar a respeitar os pedidos à primeira. E porque fiz os trabalhos de casa com o mais velho - chegam por email todos os dias; e porque tanto ele como ela fizeram duas videoconferências com dois amigos.

E foi um dia bom porque pela primeira vez não senti a ansiedade no peito (e porque o meu novo vício de medir a febre me continua sempre a dar 36,5 graus.

Bom e felicidade são mesmo conceitos relativos...

Ficam bem e fiquem em casa

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