Covid-19 (dia 8- 20/03) - levantei a voz...
Oitavo dia em que tudo isto foi real. Comecei, após bem dormir e melhor acordar, satisfeito. A temperatura caíra de novo para os níveis normais. Está cá sempre, no entanto, uma sensação de pânico latente - e, percebi mais tarde, trabalhar ajuda mesmo a fintar a loucura...
Comecei praticamente o dia com SMS do Jumbo (diz que agora se chama Auchan) para ir levantar a encomenda feita há quase uma semana. Lá fui, tudo dentro da normalidade. Funcionária sem máscara e aparentemente sem medo (bom, eu estava de máscara e se tivesse algo ela estaria protegida também...
Regresso a casa para organizar todas as compras e cozinhar uma primeira leva de carne picada com massa, seguido de rota pela casa de pai e sogro (por esta ordem, para de casa do pai trazer alhos e cenouras em excesso e levar ao sogro).
De caminho, ainda me animei de descobrir que a padaria aqui do bairro está aberta e tem pão com fartura - levei para cada um deles dois pães de Mafra, que eles sem pão são como peixe sem água.
O dia começou com alguma rigidez. Ando a sentir que de cada vez que vou às compras aumento o risco de contágio - e até à rua começo a não ter vontade de ir; afinal, leio tanta coisa que é impossível não sentir receio. Depois, logo por azar, mete-se a informação que chega de Itália e Espanha e aquele estranho pressentimento de "dejá vu" latino... Que não seja nada.
E nesta sensação, acabei por exigir mais do meu pai. Tive de explicar-lhe que tem de ir avisando com tempo para o que falta em casa, para não me dizer um dia: acabou-se o pão; ou acabou-se o papel higiénico. Que é preciso ir monitorizando a gestão dos stocks. E acabei em tom ríspido a dizer: "tens de ajudar-me a ajudar-te". Fiquei a sentir-me mal, admito. Mas tem de ser... Temos mesmo de ter regras claras, como se isto fosse uma guerra.
Se a cada instante se torna mais evidente que todos temos mesmo de ficar sempre em casa, também percebo que continuamos a ser mandados como gado para o matadouro. Os patrões, que não têm como pagar salários face à quebra da produção, esperam que o Estado os assegure, mas o Estado vai sendo meiguinho e diz que todos estamos a portar-nos bem. Resultado, quem quer ficar em casa e fazer a sua parte na contenção do novo coronavírus depara-se com patrões que dizem ser impossível o teletrabalho. E que não se importam que eles vão para casa metendo férias ou com licença sem vencimento. Chantagem pura e ilegalidade. E quem vai controlar isto?
Adiante, o jornal fez-se todo a partir de casa pela primeira vez. Sem que alguém estivesse na redação. A primeira chamada do dia faço-a sempre, a cada pessoa, com video. Afinal, temos de ver-nos para não enlouquecermos. Não podemos ser apenas luzinhas a piscar nos whatsapp uns dos outros...
O fim do dia trouxe-me a recompensa que ansiava: nova videochamada com o meu pai, longa conversa e boa disposição. E alguma companhia, que bem precisamos todos disto...
Comecei praticamente o dia com SMS do Jumbo (diz que agora se chama Auchan) para ir levantar a encomenda feita há quase uma semana. Lá fui, tudo dentro da normalidade. Funcionária sem máscara e aparentemente sem medo (bom, eu estava de máscara e se tivesse algo ela estaria protegida também...
Regresso a casa para organizar todas as compras e cozinhar uma primeira leva de carne picada com massa, seguido de rota pela casa de pai e sogro (por esta ordem, para de casa do pai trazer alhos e cenouras em excesso e levar ao sogro).
De caminho, ainda me animei de descobrir que a padaria aqui do bairro está aberta e tem pão com fartura - levei para cada um deles dois pães de Mafra, que eles sem pão são como peixe sem água.
O dia começou com alguma rigidez. Ando a sentir que de cada vez que vou às compras aumento o risco de contágio - e até à rua começo a não ter vontade de ir; afinal, leio tanta coisa que é impossível não sentir receio. Depois, logo por azar, mete-se a informação que chega de Itália e Espanha e aquele estranho pressentimento de "dejá vu" latino... Que não seja nada.
E nesta sensação, acabei por exigir mais do meu pai. Tive de explicar-lhe que tem de ir avisando com tempo para o que falta em casa, para não me dizer um dia: acabou-se o pão; ou acabou-se o papel higiénico. Que é preciso ir monitorizando a gestão dos stocks. E acabei em tom ríspido a dizer: "tens de ajudar-me a ajudar-te". Fiquei a sentir-me mal, admito. Mas tem de ser... Temos mesmo de ter regras claras, como se isto fosse uma guerra.
Se a cada instante se torna mais evidente que todos temos mesmo de ficar sempre em casa, também percebo que continuamos a ser mandados como gado para o matadouro. Os patrões, que não têm como pagar salários face à quebra da produção, esperam que o Estado os assegure, mas o Estado vai sendo meiguinho e diz que todos estamos a portar-nos bem. Resultado, quem quer ficar em casa e fazer a sua parte na contenção do novo coronavírus depara-se com patrões que dizem ser impossível o teletrabalho. E que não se importam que eles vão para casa metendo férias ou com licença sem vencimento. Chantagem pura e ilegalidade. E quem vai controlar isto?
Adiante, o jornal fez-se todo a partir de casa pela primeira vez. Sem que alguém estivesse na redação. A primeira chamada do dia faço-a sempre, a cada pessoa, com video. Afinal, temos de ver-nos para não enlouquecermos. Não podemos ser apenas luzinhas a piscar nos whatsapp uns dos outros...
O fim do dia trouxe-me a recompensa que ansiava: nova videochamada com o meu pai, longa conversa e boa disposição. E alguma companhia, que bem precisamos todos disto...
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