Covid-19 (dia 18 - 30/03) - Moratória ao banco

Ora então cá estou eu. Do que me é dado a ver pelas estatísticas do Blogger ninguém sentiu a minha falta (peço desculpa aos 7 leitores que regularmente vou tendo - não é minha ideia desvalorizar-vos, antes gozar comigo), mas não pensem que a ausência se deveu ao facto de nada ter para dizer.

Não é que do ponto de vista pandémico tenha havido grandes histórias para contar - até parece, se os números não forem traiçoeiros, que Portugal está a querer fintar o destino latino - mas o ritmo dos dias continua louco.

É certo que já me livrei de quase todas as ansiedades. Por esta altura já não acho sempre que estou com o raio do Covid-19, e como raramente saio de casa (e quando saio não estou com quase ninguém e ainda levo máscaras e luvas) tenho reduzido drasticamente as probabilidades de vir a ser apanhado nesta fase inicial. Quanto mais se fica em casa, mais conforto se tem do ponto de vista mental (relativamente ao receio de contágio), e mesmo havendo quem se queixe desta prisão, a mim pouco me incomoda.

Não sou um animal social, não temos por cá o hábito (por falta de liquidez, chamemos-lhe assim) de fazer vida de restaurantes, ou grandes farras, e por essa razão acabamos por ter em casa o que vai sendo essencial (falta-nos apenas pai e sogro, e é tanto...)

Hoje apercebi-me de que passo a vida em sobressalto. E o mais chato é que nunca é por culpa minha. Vejamos: sábado fui levar a cada um dos avôs um magnífico robalo assado no forno (que eles adoraram): domingo comecei o dia a socorrer o meu pai, a quem o frigorífico tinha morrido, isto depois de ter de ir à Auchan levantar encomendas; hoje tinha de lá voltar para levantar as encomendas do meu pai, mas o que estava previsto para as 12h30 (e se encaixava no meu horário de trabalho) transformou-se numa maratona de espera porque os serviços se atrasaram e ninguém mandou o SMS a confirmar que a encomenda estava pronta...

E lá acabei eu a fechar páginas do jornal e a lutar contra o relógio para chegar ao ex-Jumbo antes das 21 horas.

Entretanto, o frigorífico voltou a funcionar e agora está naquele estado que ninguém sabe o que vai dar... Viverá? Sucumbirá? O tempo responderá. Mas se der asneira vai ser - estou certo - no dia em que eu tiver mais trabalho para fazer.

O meu afilhado fez ontem anos (27) e juntámo-nos todos para mais uma festa: parabéns cantados via plataforma Zoom (um vídeochat que dá para juntar dezenas de pessoas ao mesmo tempo). E hoje nova festa, de um colega de escola do nosso mais velho, Mais um a fazer 9 anos. E até a professora lá apareceu.

O resto do dia foi passado com eles a fazerem guerras de Nerf; com a mais nova a levar-me ao posto de trabalho os prints que iam saindo na sala, e com o mais velho a receber 700 emails do primo "F" a convidá-lo para video-chats na tal plataforma. Ao fim do dia, queixava-se o F de que não tinha podido jogar PlayStation, o que os levou a fazer um acordo: "vamos fazer uma promessa de primos: só falamos meia hora para não roubar tempo de jogo".

A mais nova anda a gastar a palavra mamã; chama-a para tudo e para nada. E anda teimosa. Hoje não jogaram PlayStation nem no telemóvel porque ontem se portaram mal (não dormiram quando se deitaram e prolongaram a festarola no quarto até depois da meia noite).

Enquanto escrevo, está a mãe a ir lá meter-lhes medo: que o pai está a ouvi-los e que se lá vai eles amanhã ficam mais uma vez de castigo...

É uma tática de terror, sim, mas é a estratégia possível para tentarmos ter um bocadinho os dois depois de eles se deitarem.

Voltou de lá a dizer: "não tive coragem, ela está com o livro na mão e a fingir que está a ler..." Neste momento estão calados...

Hoje, pela primeira vez, conseguimos fazer os dois um treino em frente à TV. Escolhemos Pilates se foi fixe.

Noutro campo: o meu banco abriu aos clientes a possibilidade pedirem uma moratória de 6 meses nos créditos habitação e automóvel. Foi além do que o Governo previu para o caso dos layoffs. Eu ando com a impressão de que mais cedo ou mais tarde os layoff vão disparar e não me admiro que nos toque cá em casa, face à quebra da venda de jornais. Se isso acontecer, chego lá já mais resguardado, na medida em que pedi a adesão à coisa. Na prática, durante 6 meses pagaremos apenas juros, ficando o restante capital para liquidar mais tarde. (não é mau negócio para os bancos, que acrescentam seis meses de juros aos empréstimos) e às famílias dá aqui um alívio imediato. E, convenhamos, deixar de pagar aos 80 anos ou aos 80 anos e 6 meses vai dar quase ao mesmo...

PS: Portugal vai nos 140 mortos e cerca de 6 mil infetados.

PS2: um dos momentos para recordar - o mais velho fez o que faz sempre depois de a mãe lhe dizer para não bater mais com a mão no sofá: bateu com a mão no sofá (quem diria?). E depois de lhe chamarmos a atenção, saiu-se com esta: «Eu não quero, mas depois de ouvir-te fiz mais uma vez. Sabes, toda a gente tem um lado negro no coração e eu também. E o lado negro é que me controla...», isto antes de se desmanchar em lágrimas...

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