O vazio

Passou um ano. Ontem. Passou ontem um ano que a minha mãe morreu. Foi na véspera, dia de Natal, que começou a morrer. Aguentou mais um bocadinho, até às três da manhã de 26. Foi a tempo, como desejava, de receber a Santa Unção. Não sei se se terá apercebido. Sei que fez já um ano.
Passei 365 dias a antecipar aquele dia. Gostaria de me ter retirado num local isolado e poder relembrar cada minuto, cada hora, do que vivi no ano anterior. Não o fiz. Ao contrário de Caetano Veloso, não passei dia e noite a pensar na minha mãe. Deixei-me consumir pelo dia. Esvaziei-me. Perdi-me. Do tempo. De mim.
Hoje, que passou um dia sobre os 365 dias, o vazio tomou conta de mim. Afinal, era como se achasse que depois de um ano a vida retomaria a normalidade. Não há normalidade, percebo agora. O vazio veio para ficar.

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