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Noite fria...
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A -Ora viva, está bom? Há que tempos não o via (estende a mão e cumprimenta o outro) B - Não tenho vindo cá. A - Olhe, é um Marlboro Soft e um isqueiro (diz, virado para o empregado da bomba de gasolina, enquanto deixa os olhos descaírem de novo para a direita). Está melhor? B - Isto da perna, uma chatice. A - Azul, por favor. Desses pequenos. (logo volta a virar-se para a direita) E não era dos nervos? B - Também, também é dos nervos. A - Então e hoje está por aqui? B - Pois, não fui para os sem abrigo de Xabregas. A - De Xabregas? Então, não foi? Vai dormir na rua? B - Faço uma directa, hoje. Amigo, não me paga uma coca-cola?
24. O dia depois. O dia antes
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Aquele 24 de Dezembro não foi um dia normal. E., que passara o dia anterior fechado em casa a chorar e a rezar, a rezar, a rezar e a rezar (rezou muito mais do que o que aqui se diz, mas a repetição excessiva é sempre de evitar), queria que Deus o levasse. A ele, sim, que já não aguentava passar mais dias 23 de Dezembro sozinho. Era o dia em que E., a sua mulher (sim, também E.) faria anos. E rezou. E chorou. Aquele 24 foi o dia depois de ele rezar e rezar e rezar e rezar (e muito mais rezou ele). No dia 25 Deus, o Deus a quem ele rezou e rezou e rezou e rezou a pedir que o levasse para junto da sua E., levou-o. Hoje é outra vez 24. De Dezembro. Passaram 11 anos daquele dia depois que também é dia antes. E uma faca corre, afiada, a chegar à ponta do nariz, a querer lembrar que numa só lágrima pode estar um mundo. E muito mais que isso...
Mais um grande momento do Luís Franco Bastos
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