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40 anos

Aqui chego, hoje, como se sempre tivesse aqui estado. 40 anos. E, de repente, a percepção de que os 50 são ao virar da esquina, num instantinho chegarão, e que tão para trás, mais do dobro da distância que me separa dos 50, estão as noites loucas em que com o meu amigo J. saía de casa e comprávamos duas garrafas de cerveja de litro, que acabávamos a beber à sombra do luar, no padrão dos Descobrimentos, enquanto falávamos, fantasiávamos, vá dávamos asas ao sonho, de amores que nos consumiam e dos quais agora, passados estes anos, nem os nomes sabemos. Para trás ficam as noites de copos num Bairro Alto em que era fácil encontrar bares atascados, em vez destes de agora todos modernaços, que passaram a ser "espaços". Para trás fica, ainda mais para trás, uma infância inteira. As corridas de caricas, as guerras jogadas com berlindes, as tardes de ludo em que a minha mãe sempre me ganhava porque tinha uma sorte inacreditável. E, no fim, ainda me gozava com a irreverência da crianç

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Nunca pensei fazer isto. Sempre disse que o cemitério não importa, mas hoje, pela segunda vez tive de visitar-te. As saudades doem muito, mas dói ainda mais pensar que um dia poderia não senti-las...

Da saudade (na Páscoa)

Já não me lembrava, nem sei mesmo se sabia, que há lágrimas tão ácidas que parecem deixar-nos cicatrizes no rosto, à medida que correm direitas ao chão. Hoje, dia de saudade, lembro-me de tanta coisa. De tão pouca. Das guerras que fazíamos no chão do meu quarto, com soldados de plástico, um berlinde e a pontaria de cada um para derrubar os "inimigos" a decidirem quem ganhava aquela batalha que era, afinal, um jogo. Lembro-me também de quando voltava com o pai dos jogos de futebol ao domingo à tarde e, na maior parte das vezes, o nosso Belém ganhava. Ao entrarmos em casa, perguntavas: quem ganhou? E nós, brincadeira nossa, ríamos... "minha cara ó". E tu perguntavas se tínhamos perdido e eu, na minha infantil boa disposição dizia-te que não. Como se fosse possível o Belém não ganhar... Lembro-me de tudo e lembro-me de nada. Tenho tantas saudades tuas, mãe...

Das conversas por aí

- Estás sempre tão bem disposto, com tão bom humor. -Não, nada disso. Se queres saber, brinco com as pessoas de quem gosto, mas sinto uma infelicidade profunda.

Uma página ao acaso

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Da felicidade

Seria um exagero dizer que a felicidade morreu, claro que seria. Mas a felicidade deixou, claramente, de ser una e indivisível. Assim, se por um lado a minha vida familiar me preenche e aquece, reconfortando, sei hoje que haverá buracos que sempre ficarão por preencher. Pelos que partiram. Pelos que ficam, a quem os que partiram lhes faltam. Dia a dia. Todos os dias.

Dia do pai

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Aos dois anos oferece as mãos