O espelho

Ela passava a vida infeliz. A dizer-se infeliz. A sentir-se infeliz. Nada do que tinha era o que queria. Nada do conseguia era o que desejava. Nada do que desejava lhe acontecia.
Seguiu o seu caminho. Deixou para trás tudo aquilo em que não acreditava. À medida que se afastava, olhava para trás. Sentia que nunca iria querer voltar. Tinha razão: aquilo lá era vida para ela... No entanto, quanto mais se afastava, mais pensava.
Para onde me leva esta caminho? E ia andando. Em círculos talvez, tantas eram as vezes em que voltava ao ponto de partida. Em espiral, talvez, porque na realidade aquilo só parecia o ponto de partida.
E pensava. Pensava muito, ela. E tanto pensava - querendo sempre acreditar que o caminho da felicidade era o que trilhava - que estava treinada para não sentir. Apenas para actuar.
Um dia, houve um dia - há sempre um dia -, o seu sentir e o seu pensar traíram-na.
Olhou-se no espelho e as certezas que sempre teve foram passadas a pergunta. Que só ela poderia responder. Olhou-se no espelho. Não encontrou uma resposta, mas na dúvida que lhe surgiu ganhou nova consciência. "Alguma vez teremos a certeza do caminho?". O que fez com essa consciência, ainda ninguém sabe. Se calhar nada disto aconteceu ainda. Afinal, as respostas não se encontram mesmo nos outros, mas como se faz isso de nos interrogarmos em frente ao espelho?

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