Hotel Riu Guaraná - as (más) lições de poupança

Localização: Quinta do Milharó
Olhos D'Agua - Algarve.
Tel: (+351) 289 598 140 Preço: €184 euros /noite, duas pessoas, com Tudo Incluído (TI)
Tripadvisor: (aqui)
Site oficial: (aqui)

Estreio aqui o registo de análise a hotéis. Não sei se irei voltar a fazê-lo, mas há umas quantas coisas que me apetece dizer sobre este hotel da cadeia RIU, situado em Olhos de Água, no Algarve, e onde passei umas quantas noites (e dias) na semana passada.

Antes de mais, o Riu Guaraná é um hotel que funciona no regime Tudo Incluído, o que na prática significa que o cliente paga uma taxa diária e tem direito não só à dormida, mas também a comer e beber tudo o que lhe apetecer, sempre que lhe apetecer. Está bom de ver que este é um cenário agradável para quem passa o ano a preocupar-se com comida e que quer, por uma vez, tirar uns dias em que pode dar folgas ao cérebro.

Ora, sendo o Riu Guaraná um hotel que funciona no regime Tudo Incluído, é legítimo esperar-se que tente cortar ao máximo nas despesas, para conseguir maior margem de lucro. É assim a economia, são assim os negócios, é assim o Mundo.

O que aqui quero referir são os problemas, já que o que de bom existe é que o devemos esperar num bom hotel no Algarve (sol, empregados simpáticos, boas instalações, quartos espaçosos, boas piscinas, jacuzzi, banho turco, sauna, piscina coberta, court de ténis, campo de vólei de praia - ainda que longe da praia - discoteca, etc). E o principal problema - talvez o mais grave - do Riu Guaraná é o facto de a cada momento fazer o cliente sentir que a sua presença é um peso. Não que sejamos mal recebidos - longe disso - mas somos recebidos como aquela visita indesejada a quem se serve o uísque carrascão, escondendo na garrafeira a garrafa de James Martins de 20 anos...

Talvez inspirados pela história - verdade ou mito? - de que a American Airlines poupou uns quantos milhões ao retirar dos seus aviões as azeitonas que acompanhavam as sandes (supostamente, 72 por cento dos passageiros não as comeriam) um "génio" da gestão hoteleira percebeu que dando aos clientes de um hotel Tudo Incluído produtos de menor qualidade, os lucros da empresa aumentariam. O problema reside precisamente aqui: a American Airlines não substituiu azeitonas boas por azeitonas de fraca qualidade - simplesmente retirou-as. E nalguns casos seria preferível que o Riu Guaraná seguisse idêntico procedimento. Tratemos, pois, de ir caso a caso.

VINHO - O vinho é servido à pressão, tal como as restantes bebidas, em pequenas "ilhas" dentro dos restaurantes ou em bares. Não experimentei o vinho verde, mas dei um golo no Rosé (lastimável) e servi-me de um copo de vinho tinto. Servi-me, sim, que não bebi mais que um golo. Estranhei o copo frio, levei-o à boca e constatei o incrível: o vinho tinto estava fresco. Isso! Fresco! Heresia, pensei eu. Chamei um empregado e, com um sorriso, porque não me apeteceu chatear-me durante as férias, encetei o seguinte diálogo.
- Sei que nada tem a ver com isso, mas vinho tinto frio é um crime.
- Também sou apreciador de vinho tinto e compreendo o que me diz...
- Talvez seja para disfarçar a fraca qualidade...
- Pois, também será para disfarçar um pouco, mas também há quem aprecie o vinho tinto fresco...
- Pois, claro que há, mas fica mal ao hotel...
- Olhe, costumo dizer aos clientes que se quiserem podem trazer uma garrafa, que nós temos aqui saca rolhas e não temos problema com isso. Ganha o cliente que bebe vinho melhor e ganha o hotel, que o cliente não consome aqui.

Conclusão: eu consigo comprar vinho tinto de qualidade razoável por pouco mais de €2 a garrafa, logo uma cadeia de hotéis que alberga, em simultâneo, mil pessoas ou mais pessoas em cada um dos muitos seus estabelecimentos, conseguiria facilmente comprá-lo por metade do preço. Nada de especial, se tivermos em conta que cada cliente paga pelo menos €92 por dia, ou seja €184 por casal, por quarto, por noite.Atendendo a que nem metade dos clientes bebem vinho e que de entre os que o bebem, a média talvez ronde um copo por pessoa, está bom de ver que dos meus €92 não sairiam mais de €0.50 (isso, 50 cêntimos puxando para cima o preço...). Parece-me um valor mais que justo para prestar um serviço a alguém que paga para ter TI, mas acaba privado do seu copo de vinho...

OUTRAS BEBIDAS: Dizia-me a experiência de umas férias de sonho no Hotel Catalonia Playa Maroma, no México, também no regime de TI, que neste tipo de hotéis o serviço de bar é uma mais valia, com Mojitos, Caipirinhas e outros cocktails preparados na hora e ultra-saborosos. Pois no Riu Guaraná, em Portugal, a lógica é a oposta: os cocktails não só não são preparados na hora como já estão feitos, dentro de máquinas de granizados, que os vão misturando, dia-após-dia-após-dia, até que o solícito empregado se digne a juntar-lhe o álcool necessário para fazer cada uma das bebidas.

Estranhei, no primeiro dia, que me dissessem que não tinham Mojitos, pelo que pedi uma Caipirinha logo de seguida. Dito e feito, com o sempre simpático sorriso a acompanhar. Chegado à mesa, o horror. A caipirinha que me serviram mais parecia de pacote. Sem gelo picado, sem açúcar no fundo, sem, no fundo, o toque humano a fabricá-la, parecia um xarope de fraca qualidade. Ficou na mesa, como veio, substituída por um uísque (JB no bar da sala de espectáculos nocturnos, uma zurrapa no da piscina - já lá vamos). Só então percebi que todos os cocktails, todas as bebidas que fazem a diferença eram feitos da mesma forma. Não pedi nem mais uma. Devo ter saído muito baratinho ao hotel, imagino. Mais uma vez, a poupança - tal como no vinho - é feita através da falta de qualidade.

Há alguns anos -. pesquisei entretanto na internet - as bebidas do Riu Guaraná, no Algarve, eram todas de marca espanhola, substituindo as marcas habituais. Agora já (quase) não é assim. Apesar de o Vodka ainda ser Eristoff (e não Moskovskaya ou Stolichnaya, como aconselha o bom gosto e nem por isso desaconselha a carteira), o nível médio das bebidas de garrafa ronda o aceitável. O pior mesmo foi o tal uísque que pedi no bar da piscina. O nome, de tão improvável, já nem me recordo, mas seria algo parecido com a caricatura que aqui faço "Hogwarts Highlands" (caricatura, pessoal, atenção). Sabia e cheirava apenas e só a álcool etílico de 98 graus, daquele que usamos para desinfectar feridas das quedas de moto... (e sobre isto não preciso de dizer mais nada, para não me repetir com a lógica de não pedi mais nenhum uísque durante as férias, e que mais uma vez o corte nas despesas foi com base na falta de qualidade.

Ainda as bebidas: No exterior (ao pé da piscina e ao pé do bar de animação nocturna), e dentro de cada um dos três restaurantes do hotel, existem pequenas "ilhas" de self service, das quais podemos tirar as seguintes bebidas: coca cola, coca cola zero, sprite, água, fanta laranja e nestea de limão; ao lado as de vinho tinto (o tal que sai fresco e sabe mal), rosé (o tal que parece tinto misturado com água) e branco (o tal que felizmente não ousei experimentar); ainda mais ao lado a "torneira" de tirar imperiais.

Ora, aqui está, então, outro dos problemas. Em todo o momento o cliente mais atento percebe que as coisas estão feitas para que ele, mesmo pagando €92 por pessoa, beba o menos possível. Como? Simples: nos restaurantes, salas gigantescas com capacidade para duas centenas de pessoas, sem exagero - talvez até mais - existe um único ponto de bebidas. E, estrategicamente, fica num dos cantos da - já disse que é enorme? - sala. Resultado: quem esteja a jantar na ponta mais distante, tem de percorrer todo o restaurante, de novo, para tirar mais um copo da sua bebida. Pior ainda: os copos disponibilizados são de reduzidas dimensões - foi aliás por esse motivo que ousei experimentar o vinho, já que estava farto de dar dois golos na imperial e ter de levantar-me de novo.
Mais uma vez, bebi menos do que beberia noutra ocasião, pelo que os génios dos gestores do hotel por certo se orgulham do resultado alcançado. Genialmente, mais uma vez, a poupança foi feita com base no mau serviço ao cliente.

RESTAURANTES
Inicialmente, pensei em escrever sobre todos juntos, mas entendo, agora, que vale a pena fazê-lo um a um.

 ASIÁTICO
(O pior sushi de sempre)
É chique, nos dias de hoje, ter um restaurante asiático. Isto porque, sabem os senhores que gerem hotéis, os clientes - muitos clientes - estão rendidos à cozinha japonesa, mais concretamente ao Sushi e ao sashimi. O pior é que, sendo o sushi peixe cru enrolado em arroz, é possível fazê-lo saboroso ou horrível. E o Asiático do Riu Guaraná consegue a proeza de, mesmo sendo restaurante de hotel de 4 estrelas, servir o pior sushi que me lembro de consumir - e atenção que eu já fui cliente dos sushis do "chinês", nos quais comia em buffet por €10. Agora, pagando os tais €92 por dia/pessoa, deparei-me com tudo errado.

O Wasabi (mostarda verde japonesa), por exemplo, era um líquido esverdeado com ar nojento (literalmente), fatias de salmão fumado - note-se o fumado em vez de cru - eram catalogadas como nigiri de salmão (aqui a imagem, para quem não conhece). Pior de tudo: o arroz do sushi mais parecia uma pasta de arroz sem sabor, sem cor, sem nada...

Para fazer sushi não basta agarrar em peixe e em arroz e juntá-los. E qualquer pessoa do ramo hoteleiro o sabe. Basta visitar um dia um bom restaurante de sushi, provar o que por lá é feito e perceber. Depois, contrata-se um bom "sushiman" e então sim pode abrir-se negócio. Assim, nada feito.

Ora então, mas e se o sushi é mau, como eram os outros pratos? Salvavam a honra do convento? Não. De modo algum. Os crepes fritos eram maus e o episódio que contarei já de seguida revela o cuidado dos "chefs" na elaboração da comida:

Ao ver os pratos do buffet (sim, aqui todos os restaurantes são buffet) procurava peixe para dar ao meu filho de 18 meses. Por não haver pratos sem picantes, o cozinheiro ofereceu-se para grelhar um lombinho de um peixe qualquer (o mesmo congelado que havia, todos os dias, em todos os buffets, já iremos a esta parte) sem os temperos picantes. Agradeci, claro. Mal terminou de grelhar, serviu-me num prato, bem branquinho (ao contrário do amarelado das especiarias). Tendo agradecido, pedi apenas dois lombinhos, pelo que ficaram na frigideira outros três que o senhor tinha preparado. Por pouco tempo: um minuto depois, os três lombos branquinhos e sem tempero lá estavam na travessa do peixe com picante e temperos, amarelinho, que era oferecido. Aqui - à parte a qualidade fraca do peixe - o problema não foi de querer poupar. Foi, antes, a falta de respeito para com os clientes, ao género "para quem é, isto basta". E o cliente desprevenido que fosse provar o pitéu asiático lá comeria peixe grelhado sem nada a distingui-lo daquele que diariamente lhe era servido no restaurante Grill ou no principal.

PRINCIPAL
(que têm contra as unidoses?)

Aqui, numa sala gigantesca, era servido o pequeno almoço - além de almoços e jantares. E falo primeiro do pequeno almoço porque é de manhã que começa a poupança no Riu Guaraná. Acho que nem vou desenvolver o facto de haver - em todos os restaurantes - má extracção de fumos, pelo que quando tive o azar de ir buscar um prato ao pé dos churros fritos na hora que os nossos vizinhos espanhóis comem de manhã como se fossem batatas fritas a acompanhar uma francesinha fiquei a cheirar tanto a fritos que só com uma mudança de roupa e um bom duche voltei a ser companhia agradável.

Aqui, o que realmente me incomodou nem foi a loucura desvairada dos clientes que se atropelam em busca de comida - até porque isso é algo que o hotel não pode controlar - mas o facto de todos os produtos serem servidos em terrinas comuns. Por exemplo, o mais polémico de todos: o iogurte. Não havia iogurtes individuais, nem para as crianças, pelo que para dar o pequeno almoço ao meu filho de 18 meses tive de servir-lhe iogurte tirado de uma terrina comum, sujeita a problemas vários como contaminação por clientes menos "higienizados". O mesmo se passava com a manteiga e, percebi depois, com tudo o resto: os doces, maionese, mostarda, ketchup (estes últimos no grill). A lógica é, pois, de que por atacado tudo sai mais barato. Faz sentido, pois claro, mas como disse na hora, o segredo destes negócios é saber poupar, mas o sucesso é saber poupar sem que o cliente se sinta um peso. E no Riu, já o disse, sentimos sempre que tudo o que não consumirmos o hotel agradece.

Quanto às refeições, pouco posso dizer. Só uma vez lá jantei, uma vez que o espaço do Grill é bem mais simpático. No entanto,

GRILL 
(mudar? Para quê?)

O espaço de refeições mais agradável do complexo. Inspirado pela estadia do Catalonia Playa Maroma, no México, ainda tive a esperança de que neste restaurante nos fossem servidos saborosos e suculentos bifes feitos no momento, mas, afinal, era apenas mais um buffet no qual a (falta de) qualidade é disfarçada com uma suposta variedade e muita quantidade.

Durante os dias em que estive no hotel, percebi que mesmo sendo buffet, o menu do Grill nunca mudava. Ao almoço havia pizzas, hamburgueres, salsichas, saladas, claro, uma variedade rasca de peixe congelado que era "grelhado" em manteiga, e um ou dois pratos do dia nos quais era evidente o aproveitamento das sobras de dias anteriores. Num dos dias, por exemplo, era anunciada feijoada à portuguesa. Com feijão branco, cubos perfeitos de carne de porco, nem vestígios de couve, nem sinais de enchidos, parecia claramente que estavam a ser-nos servidas as sobras do porco assado dois dias antes, no restaurante principal... Sim ou não? Não sei, nem saberei, mas fica a ideia. Da mesma forma que parecia, nos últimos dias, óbvio que as saladas que levavam pedaços de frango panado frito eram tão parecidas com os "dedos" de frango que, dias antes, aguardavam a sua vez nos balcões de self-service...

Avancemos no dia, que à noite a coisa talvez seja diferente. Nem por isso... O valor mais seguro ainda era a comida grelhada na hora, mas mais uma vez aqui era evidente o esforço de contenção do hotel. Entremeada, asinhas de frango, umas quantas costoletas de borrego (mal cozinhadas, aliás) e umas fatias de fiambre de novilho (saboroso, mas tão fino que ironicamente lhe chamo fiambre) juntavam-se a nacos de coelho grelhado. Dia-após-dia-após-dia.

Acredito que para a fraca qualidade do serviço de restaurante contribua o facto de os cozinheiros não fazerem ideia do que estavam a servir. Num dos dias, na busca de comida diferente para o bebé, vi um peixe em molho colorido. Perguntei ao cozinheiro de serviço se aquele alimento tinha algum tipo de picante. Obtive a seguinte resposta:
- Picante? Não, o peixe não.
Entusiasmado, desconfiei. E acrescentei: e o molho?
- (resposta esclarecedora do caos) Olhe, o molho não sei, talvez tenha...
Ora, se nem os cozinheiros sabem...

Sobre as sobremesas nem vale a pena falar. Eram fracas. Muito fracas. Bolos de fraca qualidade, mousses más, salvava-se a fruta, os queijos e os gelados, de marca Olá.

CONCLUSÃO GERAL
Saio do Riu Guaraná com a certeza de que ao longo destes dias o hotel poupou bastante dinheiro comigo. E desconfiado que no futuro vou eu poupar ainda mais com a cadeia Riu. Pelo menos enquanto houver hotéis que me sirvam como o Catalonia fez no México...

Comentários

Panuci disse…
Ouch... Esta crítica devia era ser copiada no Trip advisor ou em sites do género. É uma vergonha, não há direito.
bf disse…
Mas olha, apesar de tudo gostei de lá estar e talvez até volte - talvez - mas sei ver o que está mal.
Anónimo disse…
eu até entendo porque a expextatica era muito elevada.
Mas méxico nao é o algarve (infelizmente) e além deste conheceu outros???
Foi assim tudo tão péssimo? pagou 92 pagava 100/dia pessoa, apanhava um avião e ia para Rep. Dominicana, Turquia, Marrocos, Tinusia...

Mensagens populares deste blogue

Uma ida ao endireita