Ser herói por dar um abraço

Já vi e revi vezes sem conta o vídeo da brutal agressão policial a um pai que tentava prestar assistência ao filho de 9 anos, em Guimarães, depois do jogo em que o Benfica se sagrou campeão nacional.
Procuro sempre identificar um gesto daquele homem que possa justificar o que todo o país viu graças ao sentido jornalístico de um cameraman da CMTV. Não consigo. Em momento algum deteto o instante em que o homem puxa de uma arma para desatar aos tiros, nem lhe encontro uma bomba escondida que coloque em perigo as vidas de quem por ali passa. Vejo-o, isso sim, a dar água ao filho e a gesticular de forma em que, pressinto-o, terá até ofendido verbalmente o agente. Assusta-me pensar que aquele homem levou uma tareia de bastão porque um oficial da PSP não foi capaz de controlar-se emocionalmente.
A última fronteira de todas as medidas de segurança é e será sempre a loucura humana. Se não sabíamos, fomos brutalmente relembrados aquando da tragédia com o avião da Germanwings em que um assassino descontrolado atirou para a morte as 150 pessoas que deveria transportar em segurança até Dusseldorf.
No caso do polícia de Guimarães dá-se o azar supremo de ele não ser copiloto. Era chefe, veja-se bem, e a sua autoridade não pode ser questionada no campo de batalha (sim, foi nisso que ele transformou a cena). E é por isso que por cada gesto de loucura a que assistimos temos de saber olhar para os atos de amor. A reportagem impossível é a que eu hoje gostaria de ler:_quem é o agente que apercebendo-se da atrocidade cometida pelo chefe correu a abraçar o miúdo para o impedir de ver as agressões ao pai. E o que sentiu naquele momento esse herói? As fotografias que nos chegaram nas últimas horas dizem o que ele nunca nos poderá dizer. As respostas estão nos olhos dele. Que, para nossa tranquilidade, são, ali, iguais aos de todos nós.

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