Foi por amor que naquele carnaval a minha mãe decidiu mascarar-me de árvore. Foi por amor e porque a vida era difícil, porque não havia dinheiro para comprar o coldre à cowboy e porque pintar-me de preto para me mascarar de jogador de futebol não lhe pareceu uma boa opção (os pais, às vezes, são mesmo estranhos). Foi por amor que a minha mãe andou semanas a fio a pensar naquilo. "Espera... Estas calças castanhas de veludo, com uma camisola de gola alta castanha... hmmm só faltam as folhas...", terá ela pensado. Com amor, claro. Ora folhas? Fácil... Tecido verde cosido na camisola e, o pormenor fatal, a uma touca verde que por lá se arranjou. Ora aqui vai uma árvore perfeita para a festa dos primos. Nunca mais me esqueço de alguns momentos chave. Parece que foi ontem. E parece que foi nesse dia que o Carnaval deixou de existir para mim. - Está muito gira a tua máscara. És um papagaio? O mundo girou, eu expliquei timidamente que não, que era uma árvore - não sabia eu na altura ...