ciclo que nunca acaba, que nunca acaba

Ele chorou quando ela lhe disse que tinha rasgado todas as suas fotos. Chorou mas a bom chorar. De lágrimas que formam rios, sim, que a chorar tinha de ser uma coisa a sério. Não ia apenas emocionar-se, nem disfarçar-se atrás de uma lagrimita ao canto do olho. Não, as suas lágrimas haveriam de transformar aquele carro desportivo italiano num carro anfíbio.
Os tempos passaram e as fotos rasgadas estavam escondidas num armário, ao canto do quarto da casa onde ela vivia, algumas presas com fita cola, outras apenas separadas, o direito do esquerdo, assim, a monte bem amontoado, bem grande e confuso, que para ela, fazer um monte de fotos rasgadas não podia ser apenas fazer um montinho.
As fotos rasgadas hoje estão no caixote do lixo. A caixa e o cantinho do armário do quarto da casa onde ela vive não.
Ele continua a conduzir o seu carro desportivo, de marca italiana, e a chorar, na esperança de que o carro desportivo, de marca italiana, se transforme num carro anfíbio.
Ela sabia que precisava de espaço na caixa, para guardar mais fotografias rasgadas, no armário do quarto da casa onde vivia.
E ele mantinha-se fiel ao descapotável para que as lágrimas lhe saíssem por cada um dos buraquinhos, pois ele precisava sempre de mais espaço para as lágrimas que haveriam de correr-lhe rosto abaixo até formarem um rio. E diz que ao vento as lágrimas secam mais depressa, também.
As novas fotos seriam dele. As novas lágrimas por ela.

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