Um filho e a perda da avó

De repente é dia 31 de Dezembro e já lá vão praticamente 5 dias desde que a minha mãe nos deixou.

Hoje como naquele dia, vou-me segurando como posso e se por um lado ter um filho por perto é algo que muito ajuda a rir, genuinamente, é também por ele que muitas vezes as lágrimas vêm aos olhos. Custa, por exemplo, pensar que ele não volta a ver a avó, mais ainda quando ele começa a dar sinais de não entender o porquê do súbito desaparecimento.

A meio da sesta da tarde, por exemplo, acordou aos gritos. Quando lá cheguei, olhei para todos os lados e perguntou, perdido: «Avó?». O normal seria acordar à tarde, da sesta, e a avó estar na sala, onde, juntos, brincariam até a avó se cansar e ele ficar com as pilhas a meio.

Tive de explicar-lhe que a avó não estava cá, isto enquanto tentava disfarçar as lágrimas. Prometi-lhe que se fizesse "ó-ó" iríamos ver o avô a seguir - (estava já combinado um lanche) e lá o convenci a continuar a sesta.

Acordado, papa devorada, hora de sair. Na rua, uma vizinha mais velhota aproxima-se para o ver e "namoriscar". Dá-lhe um beijo e ao vê-la ir chama-lhe "avó". Mais à frente, na estrada, passa outra velhota e ele aponta, dizendo, de novo, "avó". Impossível não ficar preocupado, sobretudo porque na véspera a noite foi passada aos gritos sempre que só, acalmando apenas quando o levávamos para a nossa cama.

Então, afinal, como deve fazer-se para que uma criança possa lidar melhor com a perda de um dos avós? Ao que percebi, não é tarefa fácil encontrar uma fórmula 100 por cento eficaz, mas parece que a que estava a seguir não resultava. Evitar falar da avó (no fundo para me salvar a mim de soltar valente litrada de lágrimas), não estava a servir de consolo. Pelo contrário, o pequenito começava a ficar baralhado. A avó não aparecia e ninguém falava dela. Como funciona a cabeça de um bebé de dois anos? Não sei, mas decidi mudar de estratégia, depois de falar com uma amiga licenciada em psicologia.

Aconselhou-me ela, frisando não ter base científica - porque não se especializou em pedopsicologia - que evitar falar da avó não seria o melhor caminho. Há que evitar a criação de dúvidas e de ansiedade na criança. Explicar-lhe que se está triste, mas que nada tem a ver com ele - que se gosta muito dele e que se estará por perto. No fundo, assegurar-lhe de que os pais, os avós, ele próprio, não vão desaparecer de repente, como aconteceu com a avó que tantas saudades lhe deixa.

Espero, sinceramente, que resulte. Para começar, esta noite já lhe mostrámos fotografias da avó e com ele rezámos o anjinho da guarda, "com a avó". Fez um olhar de estranheza, daqueles que cortam o coração de qualquer um, enquanto procurava a avó no quarto. No fim, adormeceu. Já lá vão 15 minutos e não voltou a acordar... Bem merece a paz...

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