O primeiro derby do G.

Ontem foi a ansiedade. Seria realmente boa ideia levar um miúdo de três anos a ver o seu primeiro jogo de futebol? Sobretudo, sabendo eu que para ele o jogo se confina, por enquanto, a um ou dois corredores, e aos nomes repetidos do Joche (Jesus), do Cadocho (Cardozo), do Rosa (Miguel Rosa) e do Fébi (Fredy), isto além do Cristiano (Ronaldo).

Dizendo ele que é do Belém, muitas vezes o apanho a gritar pelo Quica. Vai daí, convencido pelo argumento «é melhor levá-lo a ver um jogo do Belém antes que o Belém acabe» e aproveitando o facto de estar de folga e de haver um Belém-Quica, lá levei a família toda, e mais o Batista, amigo que é porteiro da escola do rapaz, ao Restelo.

Não levava grande fé, mas levar o G. garantia à partida que acontecesse o que acontecesse, iria sempre ter com que me entreter.

Logo à chegada, ficou maravilhado. A imensidão de um estádio cheio de gente - nunca ele vira tanta gente junta - arrancava-lhe genuínos sorrisos de embevecimento. Descobria com fascínio todo um mundo novo. Afinal, aquilo não é só na TV, e há cânticos. E era vê-lo, olhos esbugalhados, a bater palmas quando outros as batiam, a sorrir quando se apercebia de algo novo. A cantar Belém quando outros cantavam. Na altura, ainda sem não se tinha apercebido de que do outro lado os "meninos" gritavam pelo Quica - aliás, tentei sempre que não se apercebesse disso, uma vez que estávamos no meio da bancada dos sócios do Belenenses. Não queria, por isso, que ele desatasse a gritar também pelo Quica, ainda que sendo ele, assumidamente - na medida do que é possível assumir-se aos três anos -, um pastel.

Por esta altura, está bom de perceber que já a ansiedade relativa à decisão de levá-lo se tinha esfumado. Todos sorriam, rendidos ao pequenito que ia batendo palmas e cantando. Até que o Gaitán marcou aos 7 minutos. Ali ao pé de nós, o silêncio e o desconsolo tomaram conta das almas azuis, e o G. resolveu a coisa com uma belíssima sesta que só terminou durante o intervalo.

Assistiu à segunda parte quase sempre fixando-se em tudo menos no jogo - esperto foi ele - e quando rebentavam petardos, alinhava nos nossos estratégicos risos e dizia: "foi um pum".

Momento de maior preocupação, aquele em que Cardozo entrou em jogo. Ofereci-lhe bolachas, falei com ele e distraí-o no exacto momento em que o speaker disse o nome do paraguaio. No fim, quando o árbitro apitou, a admiração: "Já não estão os jogadores, ohhh". Queria mais, pelos vistos. Era o único, tenho a certeza.

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