Mensagens

Da geração rasca à era da impreparação

Quando em 1994 Vicente Jorge Silva falou de uma "geração rasca", aquela que protestava contra  a ministra da educação Manuela Ferreira Leite, Portugal dividiu-se. Passados 20 anos, esta geração supostamente rasca, está agora a chegar aos 40 anos, e o que se percebe agora é que Vicente Jorge Silva errou. Por simpatia, quero eu dizer. Ao classificar aqueles jovens como rasca - especificamente aqueles, daquela geração (rasca, disse ele) - colocou todas as outras gerações de fora. Ou seja: quem os antecedeu seria, então, de gabarito, por oposição à rasquice destes. A vida tem-se encarregado de provar que o que há 20 anos parecia um bom conceito - ou pelo menos um bom ponto de partida para a discussão - era algo que surgia já 20 anos atrasado, também. Eu explico: ao atingirem 40 anos por esta altura (uns 45, outros 35) os jovens daquela suposta geração rasca estariam, supostamente, a atingir agora o pico das respectivas carreiras. Teriam passado a fase da aprendizagem e cons

Soltas - aos três anos e quatro meses

Na loja para comprar uns chinelos para a praia o pai diz "boa noite"; a mãe acrescenta "boa noite, vínhamos à procura de uns chinelos, sabe, o peito do pé dele é alto..." mas é interrompida pelo petiz. "Olá senhora. O meu número é o 27". «Muito bem», responde-lhe a moça. «E de que cor gostas mais?» Ele, já sentado no banco, olha de lado, estica o braço - como que apontando para a desejada - e responde: «Azul». E assim se faz um negócio em menos de 5 minutos. Só faltou ser ele a pagar, claro. ------ Na feira do livro, já depois de voltas e voltas, cansado, com vontade de dormir uma sesta, o jovem pede colo à mãe. Exausta, a bonita jovem tenta negociar um período no chão, o que me leva a intervir. «Filho, queres vir um bocadinho ao colo do pai». A resposta do petiz sai-lhe disparada: «Nãããõ» (assim mesmo, arrastada, com tom de desprezo...). Como que sentindo que era conveniente justificar-se, lá se deu ao trabalho, enquanto, com os dedos de uma mão f

"O amor não tem fim"

Exercício do dia: Biblía aberta ao acaso, depois de um período de reflexão sobre vários assuntos. A primeira frase lida: "o amor não tem fim". O prazer que se tira de coisas pequenas pode, muito bem, ser a chave para uma vida menos pesada...

Sobre as expectativas e as euforias

Não sei se é de mim, mas acho as expectativas cada vez mais nonsense. Isso e as euforias. Os dois e a posse. O futebol ajuda-me a explicar. A primeira vez que vivi uma euforia futebolística com em 1989. No estádio Nacional o Belenenses, faz dia 28 25 anos, ganhou ao Benfica a final da Taça. O único título que vi ao meu clube em 40 anos (quase 41 de vida) - os da segunda divisão não são títulos, são nódoas. Lembro-me de como antes do livre directo marcado pelo Juanico enrolei o cachecol na mão. E como o atirei para a frente na celebração do golo, não o perdendo apenas porque tinha dado um nó na outra ponta, no pulso. A emoção que este momento ainda hoje me traz vem de outras vidas. De quando era miúdo e passeava com o meu pai. De quando a minha mãe estava em casa à espera. De como sorria e me ria com alegria genuína. Lembro-me bem de ter querido vibrar numa festa como as que via na TV. Encher as ruas com gentes do Belenenses. Quando cheguei a Belém, já a festa tinha acabado (uma

Dia da mãe

Já não é novidade passá-lo sem ti, mas não me fazes menos falta que antes... Se te alegra, a ti que andas aí a saltar de nuvem em nuvem e a olhar para nós, hoje senti-te aqui pertinho. E sinto-te e vejo-te a cada momento em que, olhando para o lado, a S. carrega ao colo o teu menino. Tenho saudades tuas. Todos os dias. Manda aí um beijo meu à Manuela e diz-lhe que um dia - Deus permita que daqui por muito tempo - hei de conhecê-la e agradecer-lhe por ter sido mãe da mulher que amo.

de uma imagem

A capelinha ao cimo da avenida da Torre, onde te casaste com o pai; as pedras brancas, sujas; o teu sorriso. Eu menino. Nós família. A máquina fotográfica. O pavilhão e os jogos de hóquei em patins. Os rebuçados de menta, o cheiro a tabaco de cachimbo. Às vezes, de repente, voltam para lembrar o que já é só memória. As saudades, mãe, as saudades...

Acordado e desperto (e firme no antilacticianismo)

Março foi um mês de férias. Vá, Março deu-me 15 dias de férias e nos restantes dois fins de semana longos de folga, em casa. Espertinho, arranjou maneira de ser o meu mês preferido do ano, é o que é. Julgo ter ficado claro nas linhas acima porque não tenho aqui vindo escrever. Mais: porque não tenho vindo aqui escrever apesar de tantas coisas se passarem. De forma resumida, e também porque não quero ainda entrar em grandes detalhes, desde a última vez que aqui passei a minha vida tem mudado substancialmente. Principais alterações: saúde. Ou busca por ela. Antes de mais, o sono: sou hoje outra pessoa. Hoje, quando durmo, durmo. Respiro e descanso. Já voltei a entrar nas fases de sono profundo e sonho como se quisesse recuperar tudo o que ficou para trás. Vocês que dormem bem e não sofrem de apneias de sono, nem imaginam o que significa acordar de um sono e não ter o corpo dorido. Isso é a vossa vida, para mim é uma novidade. E, acreditem, desta novidade nascem muitas outras. Todas m