Olhar para o lado...

Bairro Alto, dia 30 de Dezembro.
Está frio, são 16h00.
De telemóvel colado ao ouvido preparo-me para atravessar a estrada quando vejo, do outro lado da estrada, uma rapariga que tenta vender pensos rápidos e o Borda d'Agua.
Caminha para mim. Desvio o olhar e o passo. Sigo em frente, atravesso depois. Vê-me ao telefone, não me larga. Diz, "dinheiro, dá dinheiro". Viro de novo os olhos, olho para o lado. Fujo da realidade que me persegue. Penso: esse dinheiro vai para quem te explora. E não o dou.
Ela insiste. "Compra bolo".
O mundo pára.
- Queres comer?
- Quer
- Então embora, escolhe o que queres.
- Senhor, aquele bolo é chocolate? (resposta afirmativa) Quero outro, de creme.
Aquele olhar desesperado de fome e de sede de viver, cativa-me. Sentamo-nos à mesa.
Chama-se Aleksandra (deve ser assim que se escreve), tem 17 anos, é romena e vive em Portuga com a mãe e com os quatro filhos do irmão. Nenhum deles trabalha. Pedem esmolas. Não mo diz, mas podem estar traficados, prisioneiros de quem os obrigue a pedir. Sinceramente, que importa? Venha uma sandes mista, outra para embrulhar - que a fome há de apertar de novo - mais um sumo.
Por que raio o nosso primeiro impulso é o de olhar para o lado? O de tentar não ver o que se passa à nossa volta?
Merda, custa assim tanto tirarmos 10 minutos do nosso dia?

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