Tudo o vento esqueceu

Banda sonora: slumdog millionaire.
cenário: uma sala relativamente desarrumada, ou relativamente arrumada com pontos relativamente desarrumados. Toalha vermelha na mesa, a condizer com as cadeiras e com os cortinados. Em cima da mesa, um copo de cola zero e uma garrafa de água de litro e meio por abrir.
No cérebro: a ecoar a ideia de que me esqueço das coisas. Esqueço números de telefone, esqueço nomes. Esqueço, sobretudo, coisas que fiz ontem, como andar até ao café.
Sim, em tempos descrevi-me como exagerado. Agora, no entanto, não será exagero dizê-lo: tenho péssima memória. Visual. Sonora. Para mim que gosto de filmes até é bom. Esqueço-me sempre de como acabam. Lembro-me de cenas avulsas, nunca do essencial. Bem bom, diria. Sobretudo pelo "valor de repetição" que isso lhes dá.
Contem-me histórias. Contem-me muitas histórias. Contem-me sempre as mesmas. Mas contem. Eu esqueço que contaram. E hei de fazer perguntas, cujas respostas logo esquecerei.
Tenham paciência para mim. Lembrem-me que sou esquecido.
Sim, lembrem-me. Que sou esquecido.

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