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Da saudade (na Páscoa)

Já não me lembrava, nem sei mesmo se sabia, que há lágrimas tão ácidas que parecem deixar-nos cicatrizes no rosto, à medida que correm direitas ao chão. Hoje, dia de saudade, lembro-me de tanta coisa. De tão pouca. Das guerras que fazíamos no chão do meu quarto, com soldados de plástico, um berlinde e a pontaria de cada um para derrubar os "inimigos" a decidirem quem ganhava aquela batalha que era, afinal, um jogo. Lembro-me também de quando voltava com o pai dos jogos de futebol ao domingo à tarde e, na maior parte das vezes, o nosso Belém ganhava. Ao entrarmos em casa, perguntavas: quem ganhou? E nós, brincadeira nossa, ríamos... "minha cara ó". E tu perguntavas se tínhamos perdido e eu, na minha infantil boa disposição dizia-te que não. Como se fosse possível o Belém não ganhar... Lembro-me de tudo e lembro-me de nada. Tenho tantas saudades tuas, mãe...

Dual.Idades

daqui a duas horas, mãe, o teu neto faz 2 anos. E eu tenho tantas saudades tuas...

Um marco temporal

Se é mesmo verdade que o primeiro ano após a perda de alguém que amamos é uma prova de obstáculos, hoje será superado um marco temporal. Um mês desde que a minha mãe partiu, vivido entre o choque, a dor, a saudade - sobretudo a saudade - cumpre-se hoje, oficialmente, às três da manhã (a fazer fé nos médicos). A todos os que se têm preocupado com o nosso bem estar (meu, da minha mulher, do meu pai e até do meu filho - também ele sentiu e ainda sente saudades da avó) quero agradecer enviando um forte abraço. Vêm aí os próximos obstáculos e também serão superados. O que nunca venceremos é a saudade, mas essa, tenho a certeza, ninguém quer deixar de sentir. Esquecer os que amamos, isso sim, é que seria matá-los.

Do amor incondicional

"O amor que sentimos por alguém é algo que não conseguimos substituir por nada, contudo a fé que temos e que vamos solidificando ao longo dos anos permite acompanhar os que ficam e, aceitando o que Deus nos pede, resignação"

Da confusão

Ainda não entendi: o tempo que passa ajuda a lidar melhor com a saudade ou quanto mais tempo.passa, mais lancinante esta é? É que quanto mais tempo passa menos penso, mas quando penso dói mais...

da pureza

A mão no peito ao ver a última fotografia, o sorriso genuíno de amor. "Ixé a buó! Aqui... aqui..." (a avó está no nosso coração...)

Não me perguntem...

- como estás? Sei que é com amizade, mas a resposta é passaporte imediato para um mundo de A) mentiras (estou bem) B) banalidades (faz-se por isso, é assim a vida, há que seguir em frente) C) culpa (na eventualidade de estarmos bem, não nos perdoamos por isso) D) all of the above

E no regresso ao trabalho?

A ver se consigo explicar. Os dias passam-se com normalidade, por vezes até sorrio, mas não há como disfarçar: durante todo o dia, a cada hora, dói-me a barriga e o peito. O pior - ou não - é que não desejo que deixe de assim ser.

15 dias e o que se sente

Diz que foi às 3 da manhã de dia 26 (ou seja há 15 dias) que o meu mundo ficou irremediavelmente mais curto. Não foi por acaso que não utilizei a palavra pobre. É que, bem vistas as coisas, se por um lado perdi a companhia da minha mãe, o sorriso fácil, as piadas que com ela fazia, quase sempre a tirá-la do sério - como quando a assustava de morte com uma inofensiva aranha de peluche, que fazia saltar graças a uma bomba de ar - por outro acredito ter ganho muito noutros aspectos importantes na minha vida: 1) o meu pai. Estou agora mais perto dele do que alguma vez estive. Conversamos, apoiamo-nos, fazemos, no fundo, tudo aquilo que pais e filhos deviam fazer sempre ao longo da vida. 2) a minha mulher. O apoio que recebo e o carinho que partilho fazem-me fortalecer a certeza de que a 13 de maio de 2012 dei o passo mais certo da minha vida, ao dizer que sim, que aceitava aquele anjo para minha companhia até ao fim dos meus dias 3) eu próprio. Noto que de repente mudei. Toda a minha

Funerais em tempo de crise (o assunto que parece ser tabu)

A morte da minha mãe, há pouco mais de uma semana, foi o meu primeiro contacto directo com o incrível mundo das agências funerárias. Na hora de dor, o que todos procuramos é uma rápida resolução do problema. Pegamos no telefone, ligamos para uma agência à sorte (afinal, raramente conhecemos o que lá vem) e entregamo-nos sem reservas. Uma hora depois está um funcionário em nossa casa, passamos pelo incómodo de escolher um caixão, por exemplo, entre outros, e acabamos confrontados com um preço que nos deixa estupefactos. No meu caso, fui aconselhado por um tio a não telefonar para a Servilusa. Sugeriu-me antes os serviços de uma pequena agência que opera em Alcântara e Santo Amaro. Ao que parece, tal pormenor ter-me-à poupado uns bons milhares de euros. No caso concreto do funeral da minha mãe deixei claro ao senhor da tal agência que queria tudo o mais simples possível - claro que fiquei chocado quando soube que, por exemplo, quanto mais simples for o caixão mais caro é, pelo que ac

É como o nevoeiro

Começa por ser uma neblina e, de repente, o vazio já toma conta dos dias. Passou hoje uma semana. Parece que foi ontem, parece que não foi de todo e parece, também, que já se passou uma eternidade. Saudade

Um filho e a perda da avó

De repente é dia 31 de Dezembro e já lá vão praticamente 5 dias desde que a minha mãe nos deixou. Hoje como naquele dia, vou-me segurando como posso e se por um lado ter um filho por perto é algo que muito ajuda a rir, genuinamente, é também por ele que muitas vezes as lágrimas vêm aos olhos. Custa, por exemplo, pensar que ele não volta a ver a avó, mais ainda quando ele começa a dar sinais de não entender o porquê do súbito desaparecimento. A meio da sesta da tarde, por exemplo, acordou aos gritos. Quando lá cheguei, olhei para todos os lados e perguntou, perdido: «Avó?». O normal seria acordar à tarde, da sesta, e a avó estar na sala, onde, juntos, brincariam até a avó se cansar e ele ficar com as pilhas a meio. Tive de explicar-lhe que a avó não estava cá, isto enquanto tentava disfarçar as lágrimas. Prometi-lhe que se fizesse "ó-ó" iríamos ver o avô a seguir - (estava já combinado um lanche) e lá o convenci a continuar a sesta. Acordado, papa devorada, hora de sai

Para um filho, começando por um pai...

Não há outra forma de dizê-lo, pai: anteontem, a mãe morreu. Haverá? Foi-se, partiu, deixou-nos, faleceu, desencarnou, não resistiu... Que diferença faz? Foi uma maldita pneumonia que a levou, eis o que constará dos relatórios dos médicos. Que o líquido nos pulmões a enfraqueceu, que o coração ficou fraco, que os rins pararam, que o corpo não conseguiu reagir à medicação. Tretas. Quer dizer, tudo verdade, mas tretas. Não foi nada disso. Filho, a tua avó não era deste mundo. Regressou a casa, apenas. Era um anjo entre nós, e dela tenho agora tanto para te contar que já sei que nunca tal caberá na pequenez dos meus dedos, nem na velocidade do meu pensamento... Poderia começar por dizer-te, filho, que a tua avó Zé, a buó, como lhe chamas, era o tipo de pessoa que dava as camisolas caras, que recebia de presente, a pessoas que delas mais precisavam, que o dizia, orgulhosa e sem problemas, a quem lhas dava. Que a tua avó, filho, era o género de pessoa que saía de casa, todos os dias