Funerais em tempo de crise (o assunto que parece ser tabu)

A morte da minha mãe, há pouco mais de uma semana, foi o meu primeiro contacto directo com o incrível mundo das agências funerárias.
Na hora de dor, o que todos procuramos é uma rápida resolução do problema. Pegamos no telefone, ligamos para uma agência à sorte (afinal, raramente conhecemos o que lá vem) e entregamo-nos sem reservas.
Uma hora depois está um funcionário em nossa casa, passamos pelo incómodo de escolher um caixão, por exemplo, entre outros, e acabamos confrontados com um preço que nos deixa estupefactos.
No meu caso, fui aconselhado por um tio a não telefonar para a Servilusa. Sugeriu-me antes os serviços de uma pequena agência que opera em Alcântara e Santo Amaro. Ao que parece, tal pormenor ter-me-à poupado uns bons milhares de euros.
No caso concreto do funeral da minha mãe deixei claro ao senhor da tal agência que queria tudo o mais simples possível - claro que fiquei chocado quando soube que, por exemplo, quanto mais simples for o caixão mais caro é, pelo que acabei por lhe dizer que queria o mais barato (por sinal, até bastante digno e, se é possível dizê-lo de uma urna fúnebre, até de design bonito) - e acabei confrontado com um preço (aparentemente baixo) de 2500 euros. Claro que num caso destes a maior parte das pessoas nem contesta o preço. E foi exactamente isso que fiz. Aceitei-o como o normal, e pelo meio ainda fui informado de que o Estado paga um subsídio de funeral que por norma ronda os 1500 euros.
Escusado será dizer que achei o valor caro, e só uma semana mais tarde, quando me foi entregue a factura, o percebi. Pagar pessoal para o funeral (dois funcionários por duas horas) custa 125 euros, o caixão, além de custar quase mil euros, vem cheio de extras - colchões, rendas, etc, etc. Nenhuma custa menos de 50 euros.
Claro que pelo meio há os imprescindíveis serviços burocráticos e outros úteis, mas no final fica a certeza de que tudo aquilo poderia ser feito por valor muito mais baixo. O Estado, por exemplo, que paga 1500 euros de subsídio, poderia tratar de tudo com a mesma dignidade e qualidade por muito menos. E quem quisesse extras pagava-os... Enfim, seja como for, não era disso que queria aqui falar.
O que queria era mesmo alertar todos os meus amigos e leitores para que quando tiverem de passar por esta situação dolorosa saibam precaver-se.
Pelo que me dizem, todo o cuidado é pouco. E com a Servilusa, por exemplo, é frequente sermos confrontados com funerais por 8 mil euros, sem luxos, que com luxos pode chegar aos 12 mil (o que, para quem está fragilizado e aceita sem pensar, acaba por ser um duro rombo nas contas). Esta multinacional da morte oferece um catálogo de serviços que prevê desde um simples funeral a catering e, até, serviço de harpa e de fotógrafo/vídeo. Tudo à grande e à Hollywood. O que para alguém como eu, que acredita sinceramente que o corpo é apenas o veículo da alma, e que o propósito da morte é libertar essa mesma alma da prisão terrena, acaba por ser um materialismo/consumismo desnecessário, instigado por via da chantagem psicológica («se não gastares uma fortuna, parece que não gostavas dos teus mortos...», um disparate)

Pois... Assim é, assim acontece. E é essa a razão de ser deste meu post: no meio da dor que ainda sinto, não quero que alguém tenha de passar por tal surpresa adicional.


Abraços e beijos a todos pela força que me têm dado

Comentários

Unknown disse…
Nao reparei de quando ė este post, no entanto espero que tenha ja passado sua dor, e agora sinta agora a saudade, a compaixao, o carinho eterno, e a lembrança infinda ...
E sim, efectivamente estamos muito mal preparados para esta face de realizar este adeus...e estes senhores fazem bem o seu negocio... Infelismente tive de passar por isso ja duas veses(meu pai e minha mae) e graças a deus tive a ajuda de 2 pessoas amigas...hoje tive de tratar da cerimonia do pai da minha mulher.. Enfim... Hoje ajudei eu...
O facto é que nao se fala nisto... E na hora....����

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