Boa viagem
Leio aqui que a pianista Maria João Pires abdicou de ser portuguesa.
Lamento! Lamento, sim.
Lamento que durante anos Portugal tenha dado subsídios a um cidadão que deixa de querer ser português.
Pelo que li
(aqui) a senhora não gostou que fossem arrestados bens na sequência de um processo movido por funcionários despedidos.
De facto, gente estranha, esta, que luta pelos seus direitos.
País estranho, este, que obriga a que os patrões paguem dívidas aos trabalhadores.
A questão não é saber se a Maria João Pires já não quer ser portuguesa. É saber se a Maria João Pires merece ser portuguesa.
Por mim, que seja feliz no Brasil. Ou na Tchechénia.
Lamento! Lamento, sim.
Lamento que durante anos Portugal tenha dado subsídios a um cidadão que deixa de querer ser português.
Pelo que li
(aqui) a senhora não gostou que fossem arrestados bens na sequência de um processo movido por funcionários despedidos.
De facto, gente estranha, esta, que luta pelos seus direitos.
País estranho, este, que obriga a que os patrões paguem dívidas aos trabalhadores.
A questão não é saber se a Maria João Pires já não quer ser portuguesa. É saber se a Maria João Pires merece ser portuguesa.
Por mim, que seja feliz no Brasil. Ou na Tchechénia.
Comentários
Como, aliás, uma fabulosa pianista, e, sem sombra de dúvida, uma das portuguesas mais famosas a nível mundial...
Podias também ter referido que a senhora que dizes que não merece ser portuguesa, já nem envolvida estava na direcção da fundação há uns anitos (desde 2006).
Podias ter referido o trabalho da fundação de Belgais como uma fundação que durante o parco tempo que existiu permitiu a imensas crianças o contacto com a música clássica (e não só), num país infestado com rádios controladas por editoras discográficas e com muitos poucos programas de autor e com muito pouco espaço para música de jeito, seja ela de que estilo, vertente, onda for... (a clássica sempre tem a antena 2 pelo que já não está tão mal como isso).
Podias ter referido que a escola de Belgais era um sonho artístico que durante os anos que existiu se manteve â custa de patrocínios externo, praticamente sem apoio governamental.
Podias ter referido que Maria João Pires nada tem a ver com os salários em atraso e que o comentário dela é para com a dissolução de uma escola-fundação com um plano educativo extraordinário, mas que (vá-se lá entender como...) não era rentável... (E toda a gente sabe que a cultura existe com propósito único de dar dinheiro... para cultivar já temos a televisão... e as empresas públicas a dar prejuízos excepto quando nos cobram mais 5 cêntimos por litro de gasolina do que deviam, e as 40000 fundações de ex-membros das politiquices nojentas do país das quais nunca ninguém viu programas (nem contas), e TGV's e Aeroporto de Alcotanga e clubes de futebol financiados e tudo o mais de que o meu povo não gosta mas conhece).
Era escusado assumires que a mulher estava sequer a dizer mal dos trabalhadores que querem ver o dinheiro que lhes é devido...
Agora, que alguém que arregaça as mangas para a concretização de um sonho altruísta (e "bota" altruísta nisso, porque ela escusava de perder o dinheiro que perdeu com isto, a mulher faz dinheiro suficiente nos concertos que dá para não ter de recorrer a apoios do estado... ao contrário de muito "músico" que para aí anda), e não tem apoio dum estado que gasta milhões em reformas indevidas e estádios de futebol e mais o diabo a 7, tem todo de ficar irritada e de se sentir envergonhada do estado que tem, caro amigo/a lá isso tem...
Mas se a queres expulsar força, pode ser que ela vá para Lanzarote como o teu nóbel português... (ou será espanhol?) Saramago... ou para o Estados Unidos para tomar um cházinho com o Damásio, ou talvez para outro sítio qualquer onde há portugueses reconhecidos pelo seu trabalho a receberem a notoriedade que lhes é reconhecida, e a fazerem pela vida deles, pela falta de condições que aqui lhes dão para fazerem pela vida de NÓS todos...
A Maria João Pires ao menos tentou... e nós (eu e tu?) que fizemos?
Entende que não estou irritado contigo pelo que escreveste... entendo que para a informação que por aí passe também seja o que muita gente diga... Mas que a senhora merecia um pouco mais de consideração por todos nós merecia.
E reafirmo que ela NADA tem a ver com a falta de pagamentos que foram feitos aos tais funcionários, e que, aliás o Ministério da Educação cortou com a parte salarial dos professores (a que estava obrigado por lei dado que a escola era efectivamente uma escola) a meio dum ano lectivo e sem aviso prévio. Exactamente na mesma altura em que os patrocinadores de Belgais retiraram os apoios à fundação forçando entre outras coisas a que a Casa de Belgais tivesse de ser transformada num "hotel" aos fins de semana para receber algum rendimento...
Vá um abraço...
tanto faz que a senhora seja uma brilhante pianista, tanto faz que o sonho tenha sido destruído e blá blá blá.
O que importa é que uma cidadã portuguesa RENUNCIOU à cidadania portuguesa.
Seja por que motivo for, nada justifica que um português adbique de ser português.
Porque Portugal é mais do que a Fundação e do que pianistas brilhantes.
No teu longo comentário cometeste um lapso, que é, afinal, a essência do que quero dizer: "a senhora merecia um pouco mais de consideração por todos nós".
É isso mesmo: nós merecíamos (todos nós) um pouco mais de consideração.
Sabes o que é isto? Uma birrinha de alguém que acha que o que faz está acima de tudo.
Sabes quantas Marias Joões Pires existem por aí? Não em virtuosismo musical, mas em abnegação e esforço para fazer algo pelos outros? Como é? Deixam todos de ser portugueses porque não têm apoios?
Pelo que percebo, também a ti te custa muita coisa que não corre como gostarias em Portugal? Vais renunciar à nacionalidade? Pois... imaginei.
Se ela quer deixar de ser portuguesa, que deixe. É triste. Para ela, que podia ter sido grande, mas vai ficar com essa mancha.
Para ti, um abraço. E obrigado pelo comentário. Vai passando por aqui, para te incomodares com outras notas sempre que quiseres.
já agora, lê isto: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1390215&idCanal=14
Em primeiro lugar, muito sinceramente, eu muito orgulho tenho no meu país, até porque já vivi fora e tive saudades suficientes para me fazerem voltar.
Mas todo o orgulho que tenho do meu país, por me recordar das suas gentes, e das suas tradições, e do seu património, e da sua história, desvanece-se a cada momento que ouço mais uma história dos corninhos do Manuel Pinho, ou dos gastos de 10 novos estádios megalómanos, ou do senhor Cavaco Silva a homenagear o Salgueiro Maia postumamente, porque resolveu fazer birrinha há 12 anos e recusar-lhe tão merecida condecoração (mas vê lá que o Bono esse tão extraordinário português já a recebeu (não digo que, imerecidamente só que entre a importância que o Bono ou o Salgueiro Maia tiveram para o país... enfim...)... vidas...), ou da fundação Mário Soares que nunca ninguém percebeu para que serve mas que toda a gente ouve aí à boca pequena meter dinheiros do José Eduardo dos Santos e dos seus esquemas com os diamantes, ou dos monumentos a cair porque não têm fundos, das estátuas nunca limpas, das paisagens que deixam de existir por causa de maus planeamentos territoriais, e tantas outras coisas...
Tudo isto me faz sentir vergonha, como é óbvio, tudo isto me faz ter vontade de me chegar a estes senhores que traçam o rumo de Portugal, tirando-lhe se não mais a portugalidade, e escarrar-lhes (perdoa-me a dureza do termo) na cara.
É claro que não abdicaria da minha nacionalidade, até porque acredito em tentar mudar a coisa por dentro, e se não formos nós a expulsar a classe política que tens (sem alusão a nenhum partido ou indivíduo em particular, por mim 90% daquela gente podia arder no inferno que não me fazia a mínima diferença) ninguém a expulsa.
Agora eu entendo o sentimento da senhora, como entendo o do Saramago, que, e para usar o exemplo de cima, não deve ter sido tão diferente do que um Salgueiro Maia doente e esgotado e sem dinheiro para ser tratado, que um Paredes ou um Zeca Afonso, ou um Pessoa devem ter sentido, aquela sensação de "e tudo isto para quê?"..
É gente que passou a vida a elevar o nome de um país que não se importava nem importa tanto com eles como diz, porque todo o português lá fora diz "Saramago? Ah esse é português." com muito orgulho. Ninguém refere que o Saramago foi para Lanzarote porque estava farto de aqui passarem a vida a dizer que o homem não sabes escrever "sem pontuação imagine-se" e por o tratarem sempre como o velho maluco de ideias parvas, sempre o pobre do comuna que não viu que a União Soviética caiu, que sendo um velho maluco e comuna fez algo que Nunos Higinos e Sousas Tavares e Margaridas Rebelos Pintos que têm toda a simpatia dos media nunca fizeram nem virão algum dia a fazer, ganhou um nóbel com uma obra fabulosa e diferente de tudo o resto...
Eu tenho orgulho em muito que o meu país já foi tenho, tenho muito pouco orgulho no que o meu país é neste momento, e identifico-me com muito pouco dele, aliás tirando a minha cidade (Porto) e a minha língua posso-te dizer que muito pouco há ainda que realmente ame neste cantinho há beira mar plantado, e é em muito por causa da má gestão que se faz do país, mas também por observar cada vez mais a preguiça e a maldicência de quem se senta à frente duma televisão ou na mesa do café a criticar todos os que ao menos tentam fazer algo. Somos todos (eu incluído, entenda-se) uma cambada de iluminados que sabemos sempre o que os outros estão a fazer de mal e são todos uns burros por isso, mas que nunca fazemos nada para mudar. A Maria João Pires tentou com a sua fundação dar melhores condições para a educação musical em Portugal, e de repente toda a gente desistiu da ideia a propósito de uma crise económica da tanga...
Porque entende que para mim, é muito mau o dinheiro não valer nada e haver desemprego, é óbvio, e também é óbvio que há certos luxos que temos de cortar, mas quando há fulanos que têm 40 seguranças e vôos charter à borla quando querem, quando há aí tanto job for the boys distribuído (e tu pareces-me um fulano relativamente novo, tenho a certeza que conheces uns quantos casos) pelos fulanos das juventudes partidárias, gente obviamente com mais pedigree que tu e eu, quando há atribuições de portais para concursos públicos sem concursos públicos, quando há magalhães a serem oferecidos para dar lucro a uma determinada empresa que ninguém nunca percebeu donde veio ou como apareceu, ou porque é que é aquela e não outra? (e afins... poderíamos como ambos sabemos ficar aqui a falar o dia todo...) não deveriam ser esses os primeiros luxos a ser cortados? Não, cortamos na cultura e na educação que são áreas não rentáveis, mas esbanjamos mais em tudo o resto para parecer que estamos a fazer muito, sem no fundo fazermos absolutamente nada, ou, pior ainda, fazendo asneira (lá está a tal maldicência de que falava... mea culpa...).
E finalmente em segundo lugar, se leste a notícia para que me remeteste, saberás que Maria João Pires não está na direcção de Belgais hoje em dia (como te disse afastou-se há 3 anos antes destes problemas todos começarem), é a filha quem lá está, e verás que em nenhum sítio sequer leste declarações dela a dizer que é por isto ou por outro motivo qualquer.
Agora que me incomoda esta falsa preocupação com o capital que está a destruir a cultura e a arte (não é só Belgais pá) do nosso país e a deixar-nos (como somos há practicamente 20 anos) um satélite da cultura anglo-americana, ah isso incomoda-me a mim e devia-nos incomodar a todos, mas quanto a isso não ouço ninguém dizer "é cuspir na herança do nosso país".
E sempre que algum português faz algo de bom tem de ser reconhecido lá fora para ser reconhecido cá dentro isso também não é "cuspir no país".
E ligarmos a televisão e ver uns quantos gajos a bajularem os amigos que apresentam o mesmo livro há 20 anos, e a mesma música há 20 anos, e a mesma obra há 20 anos, ou que, pasme-se ainda mais, nem obra têm para apresentar mas que têm tempo de antena, como é o caso do pessoal que se movimenta lá com as revistas cor de rosa (olha mais outros tantos para as chamas infernais que não faziam cá falta nenhuma...), mas esses, ah meu Deus, esses merecem-nos todos muito respeito e merecem que os vejas hoje na RTP e amanhã na SIC e no dia a seguir na TVI e merecem repetir para a semana...
É alguém sentir-se abandonado por uma pátria a quem deixou tanto... olha quando morrermos vamos lá acima tomar um copito com o Salgueiro Maia e perguntar-lhe se era este o sonho que tinha para o país... e se tivesse dupla nacionalidade, o que é que teria feito durante os anos 90...?
Vá e desculpa lá se sôo algo agressivo, mas isto (não Belgais, mas o reconhecimento de gente que efectivamente merece reconhecimento) toca-me a fundo.
Só acho triste que caiam em cima da Maria João Pires, quando ela nem sequer comentou nada com ninguém, nem respondeu a entrevistas nem a questões dos jornalistas por querer manter a questão privada e se querer desmarcar de toda esta situação, quando nitidamente ela não tem nada a ver com o assunto.
Pá a meu ver isto é antes de tudo invasão da privacidade da mulher,e, se voltares a ler o artigo que me mandaste, é pura especulação cheia de "pode estar" "pode ser" "desconhecemos". Como é especulativo grande parte do texto que eu escrevi em cima, às tantas ela só quis mudar de nacionalidade porque gosta mais de água de côco do que de vinho alentejano sei lá eu...
Mas é triste tudo isto... a mim pelo menos deixa-me triste... Se a vocês não vos faz mossa... Pá ainda bem... quer dizer que alguém se identifica com a forma como se tratam as pessoas com mérito visível em Portugal (e as sem mérito também)... e que eu e que quem pensa como eu é que estamos errados, mas aí pelo menos haverá alguma democracia no meio de toda esta situação..
Perdoa ter-me alongado tanto... quis inclusivé enviar-te isto por mail, mas olha... é a vida :)