O segundo filho gera mais expectativas que o primeiro

Isto dito de forma mais simples é "vou ser pai pela segunda vez", mas isso é tão simplista que fica já combinado que jamais o direi desta forma. Seja a quem for, em que circunstância for.

O significado da repaternidade é algo que nem eu nem a S. conseguimos ainda interiorizar. Sempre o quisemos - das primeiras vezes que falámos do assunto tínhamos até nomes para três, mas a idade de um e de outro já o desaconselha - e foi com alegria que ficámos a saber que lá para abril do próximo ano cumprimos aquela suposta obrigação de deixar no Mundo tantos quantos fomos (como se isso fizesse falta alguma num planeta sobrepovoado como o nosso).

Mais do que isso, eu filho único me confesso (poderia confessar também a S., igualmente filha única): o que fizemos foi dar um salto para algo que desconhecemos em absoluto. E isso preocupa-me vezes sem conta. Claro que tive primos e amigos com irmãos, que percebo o conceito de uma vida a quatro numa casa, mas experiência tenho zero. Jamais tive brigas com manos e tantas vezes na vida tive de chorar os meus desgostos para dentro, à falta de quem não precisasse de uma só palavra para me entender.

 Ter um irmão deve ser a melhor coisa do Mundo. Ter sobrinhos... Não ter grandes dificuldades para escolher padrinhos que possam - imagine-se - estar presentes no dia a dia da criança sem terem de fazer um esforço (que raramente se faz).

Dizem-me que ter um segundo filho não implica dividir o amor entre dois, antes que se multiplica. Imagino que sim, mas confesso que o conceito ainda me confunde um pouco. Como assim multiplicar? Faz sentido, sim, porque não amarei menos o G. (acho até que quando olho para ele e me lembro lhe sinto amor cada vez maior - ou ternura em ponto de rebuçado, vá), mas depois cá estarei para falar disso.

Filho único que sempre quis ter com quem brincar (e firmou com primos e amigos laços de irmandade quase sempre correspondidos na escala menor de quem tinha verdadeiros irmãos de sangue) sei para já que um e outro (ou outra, que ainda não se sabe) um dia vão tirar partido desta sorte grande.

Provavelmente, e por ironia maior, talvez sejam daqueles que depois - porque tiveram irmão - decidem ter um único filho. Tentarei ensinar-lhes o valor da família, como a mim me foi passada, e ficarei muito mais descansado quando chegar a minha hora (e da S.). Aconteça o que acontecer, jamais ficarão sozinhos no Mundo. (E sim, este é um dos pensamentos que me ocorrem quando penso no irmão que nunca tive e que tanta falta me fará um dia).

Posto isto, assumo algo que nunca pensei ser possível: parece-me ser um salto maior no escuro isto de ser pai de um segundo filho (quando não se tem irmãos). O primeiro assusta: nunca vivemos algo igual, achamo-los frágeis, etc. O segundo tem potencial para ser mais descontraído, mas lança desafios a dobrar na educação. Antes de mais, como vamos lidar com tarefas a dobrar, a ritmos diferentes. As expectativas de um e de outro? A educação igual, em fases diferentes das vidas? O lidar, lá está, com duas criaturas em igualdade de direitos e de deveres? As contas, claro, as contas que dobram? E tudo, tudo o que podemos imaginar.

É grande a expectativa. É enorme a ansiedade. Trepidante a curiosidade. Ardente o desejo. E num assomo de loucura dou por mim a pensar: perdido por dois, perdido por cinco. Havia de ser lindo...

PS: O nome? Errar. Porque Errar é o mano.

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