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Covid-19 (dia 35 - 16/04) - Welcome to the jungle

Benvindos ao inferno, sim, porque o inferno está instalado por cá. O regresso às aulas - não presencial - é o fim do mundo em cuecas. Computadores a rebentarem pelas costuras, dois a serem utilizados ao mesmo tempo e, sobretudo, incapacidade total para acompanharmos os dois crianços ao mesmo tempo. Resultado, hoje dei por mim na hora de maior stresse a lidar com o facto de a mais nova chorar, o mais velho chorar, a mãe chorar e eu chorar. Os dois últimos talvez seja exagero, mas andou lá perto. Os professores acham que falar com miúdos de 9 anos é como falar com miúdos do 9.º ano e que todos percebem os conceitos informáticos - e, mais ainda, que os captam numa vídeochamada. O inferno, aqui, é esse. A comida vai-se fazendo, as compras idem, o apoio aos avôs também. Mas quem nos ajuda a nós? Temos de ir fazendo o esforço de manter os miúdos ativos e a estudar (e no caso da mais nova isso mudou o comportamento dela e, mais importante, o sentimento - tanto que ontem já quis telefo

Covid-19 (dia 33 - 14/04) - Regresso às aulas

Não tem sido fácil passar por cá. A verdade é que não tem havido muitas novidades nos nossos dias, por um lado, e, por outro, temos dado prioridade a tarefas relevantes como ver séries antes de dormir. A verdade é que o dia de hoje ficou marcado pelo regresso dos miúdos à escola. Em casa, claro. Ela começou o dia a ver na RTP2 o zigzag, ele começou o dia a fazer o plano do dia no caderno, segundo de reunião com a professora no Teams (da Microsoft). Os putos perdem a cabeça - apanham-se ali e desatam a escrever coisas uns aos outros, a mandar convites para videochamadas, etc... (o que teria sido a minha adolescência com isto, em vez de um ZX Spectrum com cassetes para carregar jogos?). São uns espertalhões e acho tanta graça a isso, quanto isso me incomoda. A verdade é que o mais velho só precisou de cinco minutos de Teams para saber como aquilo funcionava tudo. A mais nova falou com a educadora, viu meia dúzia de amigos e puxou muito os cabelos da mãe. Está um bicho. Tive grand

Covid-19 (dia 30 - 11/04) - Uma conversa sobre o Corona

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Dia de folga. O primeiro de três. Além de ter passado o dia a trocar emails com assessores de imprensa para escrever uma notícia (que ainda não saiu) e de ter feito, por telefone, uma entrevista, o melhor acabou por ser o passeio que demos, aqui na rua, com os miúdos - eles não saíam de casa há uma semana. Incrivelmente, portaram-se tão bem que não tocaram em nada. Talvez por estarem já habituados à realidade. Hoje de manhã, acordaram às 8h20 para verem na TV desenhos animados da Guerra das Estrelas. Lá saltaram da cama e eu, no quarto, ouvi a conversa deles. Ele - Temos de calçar os chinelos. Ela - Pois é, por causa do Corona. Ele - É quase impossível o Corona apanhar crianças. Quer dizer, pode até apanhar, mas até agora matou zero crianças. Zero!!! As crianças estão protegidas. Ela - Pois é. E os pais. Ele - Os pais podem apanhar o Corona, mas é mais difícil o Corona matá-los. Ela - Pois. Ele - Os avôs é que é pior. Ela - Pois. E a conversa ficou por aí. De manhã, quan

Covid-19 (dia 28 - 09/04) - As notas dele; a tristeza dela

Fez hoje um mês que estivemos todos juntos. Todos, cá em casa, é 6 pessoas. Nós os 4, o meu sogro e o meu pai. Parece uma vida. É um mês. Vamos falando, mas claramente não chega. Este ano não haverá cabrito e borrego maravilhosos feitos pelo meu pai, nem amigos a acompanharem-nos no domingo. Daqui a dias (não muitos) a mais nova celebrará o quinto aniversário e não terá a festa com que sonhou no último ano.  Ela é claramente quem está a sofrer mais com o confinamento. Acaba por ser natural, pois é também quem tem mais dificuldade em compreender o que está em causa. Anda triste. Arrasada. Hoje viu um vídeo da educadora, coisa longa, a contar uma história lida de um livro. Viu com atenção, em silêncio. Quando o vídeo terminou ela ficou calada. A mãe perguntou-lhe se gostou, e ela respondeu que sim com a cabeça. - O que sentiste? - Nada (e saiu do colo da mãe) - Sentiste alegria ao ouvir a história? Sentiste saudades ao ver a educadora? Ela, sem olhar, começou a afas

Covid-19 (dia-27 08/04) - Sonhar cansa tanto

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Tenho sonhado muito. Mesmo muito. É tão cansativo sonhar... Na noite passada, sonhei que ia viajar. Era uma viagem de finalistas - ou lá o que era, porque eu não era finalista - mas havia condicionantes complicadas, como algum tipo de isolamento social. Havia distanciamento, mas vá-se lá saber porquê, acabava a falar com outra finalista que não era finalista. De repente estávamos em minha casa, ela acabadinha de tomar banho e só com uma toalha enrolada à volta do corpo. E o meu sogro andava por lá, bem como os filhos. E eu só perguntava: a S. não disse nada sobre quando volta? Eu estava a cozinhar. E, pelos vistos, preocupado com o paradeiro da minha mulher e a resistir aos apelos de um corpo acabado de banhar e apenas enrolado numa toalha. No fundo, é isso que o Covid-19 me tem dado. Aproveitar o prazer de estar em família, estranhando a ausência de um de nós. Há tempos sonhei que a S. morria. Era horrível. Chorava desesperado. Diz que dá mais tempo de vida. E ainda bem. P

Covid-19 (dia-26 07/04) - finalmente, a ver séries

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Nos últimos dois dias não passei por aqui. Quer dizer, passei mentalmente, mas no fim acabei por não escrever. Os dias estavam sempre iguais e acho que quis fugir às rotinas: acordar cedo, meter os miúdos a fazer coisas, aturar birras, trabalhar, ir às compras, aturar birras, impedir os míudos de fazer coisas, fazer o jantar (antes tinha feito o almoço, claro), aturar birras e discussões dos putos, deitar os míudos, impedir os miúdos de fazer coisas, obrigar os miúdos a dormir, impedir os miúdos de fazer coisas, depois disto tudo telefonar ao pai por vídeochamada, tentar prever quando acaba a comida e fazer compras, e ir dormir sem ver - mais uma vez - um episódio de uma qualquer série. Nos últimos quatro dias tudo mudou. Vá, só uma coisa mudou: despachámos a primeira temporada do Fleabag (eram só seis episódios, calma); e ontem ainda vimos o primeiro de Breeders na HBO (uma comédia fantástica sobre a vida de um casal com dois filhos). Cá por casa, entrámos no registo de a mais nov

Covid-19 (dia 23 - 04/04) - O Euro-2016 soube melhor que o vinho

Folga. Um dia sem me sentar ao computador no quarto gelado para onde deslocámos a escravininha que foi dos meus pais e tantos anos esteve emprestada a uns tios. Um dia difícil. Muito difícil. Creio que os miúdos não saem de casa há quase uma semana - perdemos a conta. E hoje a mais nova avariou de manhã. Chorou das 11 h até às 14 h. Mas quando digo chorou, quero dizer esperneou, lutou, debateu-se, revoltou-se, sofreu, fez sofrer, quase fez chorar. Diria que é esgotamento puro, cansaço, frustração, quem sabe até depressão. Mas para ela era tudo simples: as calças e as cuecas incomodavam-na de morte. Nada servia. Nada de nada. Nenhuma solução agradava. "Nada vai resultar". Acabei por vestir-lhe calças de pijama sem cuecas, e encomendámos cuecas novas (eles crescem, mesmo em confinamento) na Zippy. Ao almoço fiz alheira para mim e para o sogro, e cada um em sua casa, comungámos de algum tipo de união. Abri uma garrafa de vinho que tinha guardar há uns anos. Alentejano.