Há sempre um que é o preferido, mas...

Havia um que era o preferido. Há sempre um que é o preferido.
Um fazia a "bandeira" no estendal do páteo, o outro sabia dizer de cor o nome de todas as cidades de Portugal. Um era do Sporting, o outro do Belenenses. E, por isso, eu cheguei a ser sócio do Sporting, por influência de um, que me deu a escolher entre ser do Sporting ou do Benfica. O outro, o do Belenenses, dava-me a escolher apenas a prenda que gostaria de receber no Natal, numa peregrinação religiosamente anual à papelaria/loja de brinquedos lá do bairro. E quase nunca me falava de futebol, a não ser que o mal dos portugueses é que são maus no chuto. Nessas alturas, encostava um pau a uma parede e mandava-me chutar a bola na direcção daquela ripa de Madeira, talvez antevendo que um dia eu faça o mesmo ao bisneto dele e, graças a isso, Portugal seja finalmente campeão do Mundo.
O do Belenenses via sempre tudo muito à frente, logo é capaz de ser verdade isto que imaginei. O do Sporting, coitado, não tinha tempo para ver o que lá vinha, pai de nove filhos e com dois trabalhos para manter os 5 que ainda lá viviam em casa, mais a empregada e a tia Maria.
O do Belenenses já não era do Belenenses porque, há muitos anos, o Artur Jorge se tinha ido embora, mas todas as segundas-feiras lá lia o jornal para saber o resultado do clube de que já não era. O do Sporting foi sempre do Sporting, lá havia, afinal, outra forma de sobreviver numa família que já ia em 40, dos quais apenas três do Belenenses e dois do Benfica?
Havia um que era o preferido. Há sempre um que é o preferido.
Mas hoje tive saudades dos quatro...

Comentários

Anónimo disse…
Todas essas tuas memórias, o teu respeito pelo lugar de onde vieste, o teu amor por essa gente. Os teus fizeram-te uma pessoa maravilhosa. Por isso é que também gosto tanto deles. Tu serás sempre um menino sonhador, a quem uma avó dava beijinhos nos olhos...

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