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Do relvado que já não existe

Ali o Djão fintou o Frasco a meio campo antes de rematar forte para o fundo da baliza. Era o maior relvado do Mundo. O melhor também. Verdinho como poucos, sim porque noutros estádios até azuis os havia. E verdinho era só aquele. Não era daqueles relvados bem cortados, não. Era, pelo contrário, em versão relvado, os cabelos encarapinhados do preto que andava pelas praias da Costa da Caparica a gritar Ééééééé o Oláááááá Xquinhoooo, Ééééééé frutóóóóescolate. Antes de ser o campo em que árbitros invalidaram golos com o até então inédito pretexto de que a bola passara por baixo da baliza - é verdade, posso jurá-lo, ainda que as cassetes onde os relatos ficavam gravados já tenham todas desaparecido - foi estrada que ligava cidades, meio esburacada, mas ainda assim capaz de receber a Volta a Portugal em bicicleta. Anos antes - nem sei já dizer quantos - naqueles troços disputaram-se corridas de Fórmula 1. É incrível como um local pode conter tanta história. Não só desportiva note-se. As ba

Voar barato

Ando à procura de voos lacoste. A melhor companhia é a Jet Set?

Mau negócio!

Se alguém mora em Belém é estúpido comprar carro que tenha estofos em Alcântara, certo?

Desejos...

O que mais queria agora era estar em casa a brincar com o G.

Palavras de bebé

A um mês de celebrar três anos, o G. vai alargando o vocabulário. A os 26 meses: -caláco (cavalo) -chanho (desenho) -bulita (bonita) -mêlho (vermelho) -vête (verde) -amaguélo (amarelo) -balicha (baliza) -michi (Miffy) -pôpa (sopa) -sopa aos 27 meses -bulaichas (bolachas) - bolachas aos 27 meses -paschina (piscina) - piscina aos 27 meses -quên (quente) -pequé (colher) -lhálhá (laranja) -nêspa (nêspera) -mangos (morangos) -chiais (cereais) -chiu (frio) -nôcha (cenoura) -cananino (pequenino) - pôchôra (professora) -terra (escorrega) -cicoleca (bicicleta) -cicolico (triciclo) A os 32 meses: - pióco (helicóptero) - tompapé (pontapé) - fizei (fiz)  - cótis (cócegas) - gasonila / zugulina (gasolina) - camanino (pequenino) - escavaleita (escavadora) Aos 35 meses: - Xocoranque (restaurante) - xumafos (semáforos) - pão com manqueita (pão com manteiga) - palinha (pilinha) - gutolico (iogurte líquido) - Rrodôie (corredor) - Aboxés (avós Zés) - Carres Faí

Dos sonhos

Ir a correr, ser agarrado por uma mulher irritante. Dar um murro no colchão (que no sonho era ela). Os meus sonhos são cada vez mais estúpidos...

Momento nonsense

Aquele em que te apercebes que guardaste duas Pen drives que não querias perder num local seguro. Tão seguro que não sabes qual é...

Balanço de 2014

Se o ano é como começa vou dar no duro! Até ao momento este é o ano mais duro da minha vida. Não houve até agora dia deste ano em que não tenha suado as estopinhas. Sala esvaziada no dia 1 para que pelas nove da manhã o chão possa ser afagado. Dores de costas, insónias - estranhar a cama que me acolhe por quatro noites - mas também o entusiasmo de poder dar outra arrumação à sala. Eis o balanço que faço deste 2014. Precipitado?  Só daqui a uns meses. Para já é apenas isto...

Presentes

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2014 à porta

Vem aí o novo ano e para terminar este está, finalmente, feito um bolo de espinafres com cobertura de chocolate - não sou, definitivamente um doceiro e tenho azar com as coisas mais óbvias (à quinta clara que separava da gema para fazer claras em castelo é óbvio que a gema havia de cair entre as claras...) mas parece que no fim de contas até ficou bonito e bem cheiroso. De resto, há de haver uma sopa "creme de castanhas"; e um folhado de caça com arroz árabe e grelos salteados. E é isto que vale a pena esperar de uma passagem de ano. Tudo o resto é do domínio dos sonhos. E eu o que sonho é que em 2014 não parta alguém que amo; não partir eu; que aqueles que amo tenham saúde; que Portugal saia da crise e todos tenham empregos (e bem pagos) - que o desemprego acabe, também. Posto isto, temos, como dizia, folhado de caça com grelos salteados... Feliz 2014

O vazio

Passou um ano. Ontem. Passou ontem um ano que a minha mãe morreu. Foi na véspera, dia de Natal, que começou a morrer. Aguentou mais um bocadinho, até às três da manhã de 26. Foi a tempo, como desejava, de receber a Santa Unção. Não sei se se terá apercebido. Sei que fez já um ano. Passei 365 dias a antecipar aquele dia. Gostaria de me ter retirado num local isolado e poder relembrar cada minuto, cada hora, do que vivi no ano anterior. Não o fiz. Ao contrário de Caetano Veloso, não passei dia e noite a pensar na minha mãe. Deixei-me consumir pelo dia. Esvaziei-me. Perdi-me. Do tempo. De mim. Hoje, que passou um dia sobre os 365 dias, o vazio tomou conta de mim. Afinal, era como se achasse que depois de um ano a vida retomaria a normalidade. Não há normalidade, percebo agora. O vazio veio para ficar.

O tempo é uma corrida de 100 metros

Já lá vai um ano que esta foi a última noite que dormi completo. Terá sido por esta hora que começou o Calvário. 24 horas depois o desfecho... Agradeço os votos. Retribuo. Mas feliz é algo que o meu Natal nunca mais será.

A vida é uma soma de perdas

A vida é uma soma de perdas e quanto mais tempo nela estamos mais perdemos. Perdemos quem nos deu à vida, perdemos quem nos foi dado, perdemo-nos tantas vezes em labirintos intransponíveis. Perdemo-nos em lamentos e em tormentos. E até perdemos tempo a tentar contabilizar tudo o que perdemos. Argumentam, em debates, que a vida é de ganhos. Ganhamos quem não nos pertencia. Mas todos os que ganhamos, caso não os percamos antes, perdem-nos a nós um dia. A vida é uma soma de perdas e é por isso que tendo a concordar com a pirosa frase hoje vista por aí e que, não conseguindo agora reproduzir ipsis, verbis dizia algo como "o melhor sorriso é o de quem um dia perdeu todos os sorrisos". A menos de uma semana de se passar o primeiro aniversário do mais violento corte que me foi dado a sentir, sei hoje o que é estar no lado dos que perderam os sorrisos algures numa queda da vida. Não os procuro, porque sei que mais cedo ou mais tarde acabaria por perdê-los de novo. Vou, aqui e ali,

Da (ir)realidade

Já vos aconteceu, acordados, deitados na cama; a dormir, sentados num carro à porta de um supermercado, olhos a quererem fechar-se, perguntarem-se se será verdade que estão vivos?

Afterlife

Afterlife, oh my God, what an awful word After all the breath and the dirt And the fires that burn And after all this time And after all the ambulances go And after all the hangers-on are done Hanging on to the dead lights Of the afterglow I've gotta know Can we work it out? We scream and shout 'till we work it out Can we just work it out? Scream and shout 'till we work it out? 'Till we work it out, 'till we work it out 'Till we work it out, 'till we work it out Afterlife, I think I saw what happens next It was just a glimpse of you Like looking through a window Or a shallow sea Could you see me? And after all this time It's like nothing else we used to know After all the hangers-on are done Hanging on to the dead lights Of the afterglow I've gotta know Can we work it out? Let's scream and shout 'till we work it out Can we just work it out? If you scream and shout 'till we work it out? But

Isolamento no meio da cidade

É mesmo verdade. Um carro no meio do trânsito continua a ser um dos melhores sítios do Mundo (urbano) para nos isolarmos. Um bom refúgio que nos permite ter um tempo para lembrar aqueles que nos fazem falta. E para os chorarmos, mesmo quando antes achámos que já tínhamos deixado de fazê-lo...

Porque o futuro não vem buscar-nos

Ontem enviei um email. E isso há de fazer parte da minha história

Olá para ti também

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Eu a querer sonhar contigo, ver-te, ouvir a tua voz, falar-te. Só mais uma vez. E tu apareces-me assim, passado quase um ano e sem avisar com antecedência?

Quando os outros nos confortam

- Então esta vacina dá para a vida toda? - Sim, esta é para a vida. Protege contra a maior parte das pneumonias. - Pois, sabe, isto não é coisa em que tenha grande fé. A minha mãe tomava a vacina e no ano passado tomou uma daquelas para cinco anos, e acabou por morrer no inverno... - (silêncio por uns instantes, seguido de mais alguma conversa de circunstância, e no entanto o que mais falou foi o olhar dela, de repente inundado por lágrimas que por pudor não deixou sair...)

Murcho

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                                                                    Fonte: google Há dias em que nos sentimos assim. Desmotivados. Com dúvidas. Sozinhos. Abandonados, até. O bom destes dias é que há sempre um dia depois deles.

23 x 5

Fez ontem cinco anos que encontrei a felicidade. Sou um privilegiado. E todos os dias me lembro disso.

A propósito de um psicólogo

Ao José Carlos Dias. Psicólogo. Ex-jornalista, um amigo. O assunto é tabu. Mas não devia ser. Não são, ao contrário do que a ignorância faz crer, os maluquinhos os únicos a recorrer aos serviços de um psicólogo. Bem pelo contrário. A decisão é, quase sempre, um sinal de lucidez extrema. Assim foi comigo. Consumido por uma ansiedade que não conseguia travar, segui o conselho de um bom amigo e consultei seu psicólogo. José Carlos Dias. Era bom, dizia-me o R.. Ajudara-o. E até o compreendia melhor por, também ele, ter sido jornalista. Fui lá. Gostei dele ao primeiro contacto. Não falava muito (provavelmente nem devia), mas ao fim de uns meses deixei de precisar de lá ir. Ainda hoje não sei o que ele me fez, mas tirou-me a ansiedade. Curou-me. Devolveu-me a vida e a alegria de viver. Ou mostrou-me o caminho para o conseguir. Disse-me que eu estava no fundo de um vale, e que, quando subisse a montanha, mesmo que voltasse a descer, teria sempre as ferramentas para travar a queda. Prom

De como se lida com a morte na família dos outros

Lembro-me de uma crónica do Lobo Antunes sobre o médico que lhe comunicou os resultados da análise: tinha cancro. Mas o médico dizia-o como se dissesse que já não havia bilhetes para o concerto de Caetano Veloso. Pior. Enquanto combinava ao telefone uma jantarada com um amigo. Pausa, ah, o senhor tem cancro... Quando no Natal passado vim de urgência para acompanhar o meu pai e ver a minha mãe, internada de urgência no hospital, fomos informados pelos médicos de que nem um milagre a manteria viva. Era uma questão de tempo, até se apagar, lentamente como uma vela. Antes de mais, sempre que me lembro disso, lembro-me do choque que senti. Parecia impossível, mas acontecia. A frio, sem anestesia para mim e para o meu pai, que, abraçados tentámos digerir a notícia, acompanhados por outros dois tios... Nunca esquecerei de que à pergunta que me era feita por SMS «Então?» respondia apenas «(...)», incapaz de verbalizar o que acabara de acontecer. Lembro-me também, e nunca quero esquecê-lo,

Hoje é assim

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41 anos, S. Martinho

Primeira coisa que me disse, hoje, o meu pai, mal chegou a minha casa, pela manhã... "Hoje faz 41 anos que eu e a tua mãe soubemos que ias nascer". Ouvi-lo tão solto e tão agarrado ao passado, tão feliz e tão saudoso... É um homem que sofre. Muito. E tão cheio de força. Muito mais que eu...

Cada vez mais fácil

Ainda na senda de tentar perceber se me dou melhor sem o leite, deparei-me hoje com  este artigo  que me pareceu muito interessante. Para já posso dizer que continuo a dar-me bem. Ao pequeno almoço vou bebendo sumo de laranja e comendo torradas com tomate triturado. Como gosto não me custa. Ontem comi também um ovo mexido, mas aqui começamos a ter motivo para mais conversa: havemos de lá chegar (afinal, os ovos que nos chegam à mesa são de galinhas alimentadas com farinha que também leva restos de outros animais... lá chegaremos, já disse). O que vou sentindo? Talvez ainda seja cedo para dizê-lo, mas algo tenho a certeza: quando vou ao WC sinto que fico bem mais limpo. E talvez tenha menos obstrução nasal. Parece-me também que talvez esteja menos inchado e não tenho detectado qualquer refluxo gástrico, que não sendo frequente me apoquentava de vez em quando. Mas, como digo, é cedo. Veremos daqui para a frente.

Bom dia

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Assim se toma um pequeno almoço dos novos...

O segundo dia de uma nova vida

Ora então, cá estou de novo. Serve este post, antes de mais, para confirmar que sobrevivi às primeiras 24 horas sem beber leite. Para já sinto-me bem e, talvez por sugestão psicológica, parece-me que o meu nariz já não está tão coberto de muco. Agora vou avaliar se nos próximos dias deixo de sentir garganta inflamada e meia dúzia de comichões mais desconfortáveis, por serem persistentes. O desafio que se me coloca agora é de encontrar alternativas de vida ao leite. Primeiro: que pequeno almoço tomar? Café com leite sabe bem, mas acabou-se até prova em contrário. Da mesma forma, pão com manteiga será também de evitar (sobretudo pela manteiga). Cereais com leite também (dá para perceber que ainda não aderi aos leites de soja, arroz, etc - em parte por desconfiar que não gostarei do sabor, mas também por saber que o preço dos mesmos chega a ultrapassar o dobro do de vaca).  Então, hoje segui o conselho que me foi dado por quem já tem mais experiência numa vida sem leite. Comprei pão

Primeiro dia sem leite

Não pretendo ser radical, mas acredito que esta é uma discussão que vale a pena ter. Devemos ou não beber leite de vaca? A primeira vez que pensei sobre o assunto seriamente foi quando me apresentaram como argumento que o homem é o único animal que continua a beber leite em idade adulta. Ainda por cima, leite de outra espécie que não a sua. Argumentos não faltam para que não bebamos leite de vaca, da mesma forma que sobejam para que o bebamos. Pessoalmente, e porque há vários anos ando sempre a queixar-me de pequenas maleitas diárias (daquelas tão pequenas que quase passam por normais) decidi dar-me à ciência (à minha ciência) e entrar em processo experimental. A partir de hoje, não bebo leite de vaca. Nem iogurtes. Poderei comer queijo - pontualmente e sempre sem exagero - e daqui por uns tempos farei um balanço. Se sentir que a minha saúde melhorou, assim continuarei. Caso contrário, e esta é a parte boa, posso sempre voltar atrás. Para primeira reflexão sobre a coisa, podem

Disto da paternidade

Depois de tudo o que escrevi, penso que não subsistem dúvidas de que para mim a Paternidade foi a bênção suprema na vida; que ver o meu filho crescer é o que de mais valioso tenho. É bom, pois isto poupa-me tempo a enquadrar o que vem a seguir: a falta que nos faz ter uma base de apoio familiar. Sendo, tal como a minha mulher, filho único; sobrando-nos apenas os avós homens, ainda por cima sem dinâmica de vida para cuidar de uma criança, falta-nos apoio. Muito. Bem sei que pode parecer ingratidão dizê-lo, que há tanta gente - e nós ainda por cima a acompanharmos tantos casos de perto - com situações muito complicadas na vida, mas não me levem a mal... faz mesmo falta poder tirar da cabeça, por uns segundos, as preocupações inerentes ao cargo de ser ser pai (mãe). Ser pai (e mãe) e não ter um irmão para o qual se telefona a dizer "vou aí deixar o teu sobrinho", ou avós a quem se apareça, até de surpresa, se preciso for, deve ser o equivalente a ter por profissão o cargo de

O milagre de ter dois anos...

Ao acordar, bem disposto, de uma sesta mais curta que o habitual, vira-se -entre muita conversa - e apontando para o tecto do quarto diz: "a avó do céu pôs uma rosa ao Jesus"

O rosto da vergonha

Somos, sem excepção, o rosto da vergonha. Na TSF uma velhota chora aos microfones do Fórum e relata que está desempregada e o filho também; que o marido está incapacitado – não pede subsídios, diz apenas que está desempregada, que é como quem diz “quero trabalhar”. Claro que, velha, ninguém lhe dará trabalho. Serve apenas para complicar as estatísticas de quem governa. E ela chora. Claro que chora. E diz que os pais criaram 14 filhos e nunca lhes faltou, pelo menos, sopa. Que agora, até isso lhe foi tirado. E chora. E pede que se fiscalize quem precisa de apoio. Que se fiscalize. Não que se dê à louca. Que se fiscalize. Como quem diz: estou em desespero e ninguém me socorre. E chora. E pede desculpa. Desculpa de estar viva, provavelmente, de tanto nos pesar na dívida. De tão dispendiosa nos ser a sua sopa. A nós que trabalhamos, a nós que até chegamos tarde a casa por tanto trabalharmos. E que nos vemos aflitos para pagar as escolas dos nossos filhos e as prestações dos nossos humil

informação...

Há acontecimentos que arrastam com eles mais que a própria informação, dizem-me. E com razão. Percebê-lo é, também, estar mais perto de perceber também os nossos estados de alma. E a minha, por estes dias dói-me tão profundamente que quase me tira o ar...

Tão perto

vives. vives na senhora que me esticou um lenço para limpar o ranho do G. vives na minha memória. acho que nunca estive tanto contigo como nesta saudade.

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O G. Já sabe cantar os parabéns a você. Talvez os cante hoje. Para a avó Zé uma salva de palmas... Saudades, mãe...

Das fotos que falam

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Seis meses depois, na parede do quarto finalmente uma composição de fotos. Já no google, a busca pela palavra saudade dá-me milhares de fotos. Das que vi escolho uma retiada daqui

Foi ontem. Foi há 100 anos.

Lá dentro a S. dorme. Na nossa cama o G., com o seu pijama de esqueleto florescente, reage à minha chegada virando-se para o outro lado. São eles, hoje, a minha réstia de felicidade. Hoje, sim. Hoje, que a saudade apertou forte no meu peito, esvaziando-me, como tão bem sabe fazer. Já lá vão quase seis meses, ou ainda só passaram seis meses...

40 anos

Aqui chego, hoje, como se sempre tivesse aqui estado. 40 anos. E, de repente, a percepção de que os 50 são ao virar da esquina, num instantinho chegarão, e que tão para trás, mais do dobro da distância que me separa dos 50, estão as noites loucas em que com o meu amigo J. saía de casa e comprávamos duas garrafas de cerveja de litro, que acabávamos a beber à sombra do luar, no padrão dos Descobrimentos, enquanto falávamos, fantasiávamos, vá dávamos asas ao sonho, de amores que nos consumiam e dos quais agora, passados estes anos, nem os nomes sabemos. Para trás ficam as noites de copos num Bairro Alto em que era fácil encontrar bares atascados, em vez destes de agora todos modernaços, que passaram a ser "espaços". Para trás fica, ainda mais para trás, uma infância inteira. As corridas de caricas, as guerras jogadas com berlindes, as tardes de ludo em que a minha mãe sempre me ganhava porque tinha uma sorte inacreditável. E, no fim, ainda me gozava com a irreverência da crianç

(...)

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Nunca pensei fazer isto. Sempre disse que o cemitério não importa, mas hoje, pela segunda vez tive de visitar-te. As saudades doem muito, mas dói ainda mais pensar que um dia poderia não senti-las...

Da saudade (na Páscoa)

Já não me lembrava, nem sei mesmo se sabia, que há lágrimas tão ácidas que parecem deixar-nos cicatrizes no rosto, à medida que correm direitas ao chão. Hoje, dia de saudade, lembro-me de tanta coisa. De tão pouca. Das guerras que fazíamos no chão do meu quarto, com soldados de plástico, um berlinde e a pontaria de cada um para derrubar os "inimigos" a decidirem quem ganhava aquela batalha que era, afinal, um jogo. Lembro-me também de quando voltava com o pai dos jogos de futebol ao domingo à tarde e, na maior parte das vezes, o nosso Belém ganhava. Ao entrarmos em casa, perguntavas: quem ganhou? E nós, brincadeira nossa, ríamos... "minha cara ó". E tu perguntavas se tínhamos perdido e eu, na minha infantil boa disposição dizia-te que não. Como se fosse possível o Belém não ganhar... Lembro-me de tudo e lembro-me de nada. Tenho tantas saudades tuas, mãe...

Das conversas por aí

- Estás sempre tão bem disposto, com tão bom humor. -Não, nada disso. Se queres saber, brinco com as pessoas de quem gosto, mas sinto uma infelicidade profunda.

Uma página ao acaso

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Da felicidade

Seria um exagero dizer que a felicidade morreu, claro que seria. Mas a felicidade deixou, claramente, de ser una e indivisível. Assim, se por um lado a minha vida familiar me preenche e aquece, reconfortando, sei hoje que haverá buracos que sempre ficarão por preencher. Pelos que partiram. Pelos que ficam, a quem os que partiram lhes faltam. Dia a dia. Todos os dias.

Dia do pai

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Aos dois anos oferece as mãos

Saudade

De tudo. Da dança à chegada dos avós. De tudo. Saudade

Dois meses

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"Nothing I am Nothing I dream Nothing is new Nothing I think or believe in or say Nothing is true It used to be so easy I never even tried Yeah, it used to be so easy... But the last day of summer never felt so cold The last day of summer never felt so old All that I have All that I hold All that is wrong All that I feel for or trust in or love All that is gone It used to be so easy I never even tried Yeah, it used to be so easy... But the last day of summer never felt so cold The last day of summer never felt so old The last day of summer never felt so cold Never felt so..." The Cure - The Last day of Summer

Dual.Idades

daqui a duas horas, mãe, o teu neto faz 2 anos. E eu tenho tantas saudades tuas...

You can run, but you can't hide

Esta dor nunca há de passar...

Um marco temporal

Se é mesmo verdade que o primeiro ano após a perda de alguém que amamos é uma prova de obstáculos, hoje será superado um marco temporal. Um mês desde que a minha mãe partiu, vivido entre o choque, a dor, a saudade - sobretudo a saudade - cumpre-se hoje, oficialmente, às três da manhã (a fazer fé nos médicos). A todos os que se têm preocupado com o nosso bem estar (meu, da minha mulher, do meu pai e até do meu filho - também ele sentiu e ainda sente saudades da avó) quero agradecer enviando um forte abraço. Vêm aí os próximos obstáculos e também serão superados. O que nunca venceremos é a saudade, mas essa, tenho a certeza, ninguém quer deixar de sentir. Esquecer os que amamos, isso sim, é que seria matá-los.

Do amor incondicional

"O amor que sentimos por alguém é algo que não conseguimos substituir por nada, contudo a fé que temos e que vamos solidificando ao longo dos anos permite acompanhar os que ficam e, aceitando o que Deus nos pede, resignação"