Uma fotografia quase perfeita

Fim de tarde, início de noite - que dificuldade esta de sempre qualificar o tempo e o espaço. Desço a Rua da Misericórdia. De um lado o hotel, do outro a igreja. O sol ilumina o quadro como que por simpatia. Como se Lisboa tivesse guardado os últimos raios do sol - que a esta hora já dorme - para os usar enquanto a lua se espreguiçar.
O tejo, lá ao fundo, descansa, de cores realçadas, misturadas com as do céu. E o cantor, de viola ao peito, já no Chiado, canta as mais animadas canções como se fosse o mais feliz dos humanos vivos, para tentar que os clientes da Brasileira lhe dêm umas moedas.
O bêbado, muito bêbado, sentado no mármore que serve de degrau para a entrada de uma loja chique diz hello, assim mesmo, em inglês, para o bebé que passa, empurrado pela mão da zelosa mãe. Esta criança é o único ser nas redondezas que está ao nível dos olhos do bêbado muito bêbado, já que por perto não se vislumbram cães nem gatos nem ratos.
É a fotografia quase perfeita de um fim de tarde melancólico. Falta-lhe um sorriso, aquele sorriso que um dia sonhei ser real e o frio que se tenta disfarçar com um abraço. Aí sim, poderia dizer que fui jantar com um brilho nos olhos...

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