Rios que vão dar ao mar

A água que, quente, brotava do chuveiro pendurado e lhe lavava o corpo não a purificava mais do que as lágrimas que, a ferver, lhe brotavam dos olhos e lhe lavavam a alma.
Redescobrira, naquele momento, a força de uma oração. Logo ela, que há tanto tempo não rezava. Vá, a menos que contabilizemos todas aquelas vezes em que se sentou em lugares de avião, sempre à coxia – para não ter de pedir licença a ninguém quando lhe apetecesse levantar-se.
Enquanto deixava a água, a tal que fervia, aquecer-lhe o corpo, Maria dizia para dentro, como quem grita sem se fazer ouvir. “Meu Deus, porquê agora? Porquê a mim? Vais dizer-me que esta é mais uma expiação para os meus pecados? Vais dizer-me que ainda não os expiei a todos? Que queres ver-me sofrer outra vez? Ajuda-me, por favor, a ser forte. Ajuda-me a encontrar o meu caminho. Por favor, nunca te peço nada, mas não me tires este sorriso. Sabes? Fazes-me sentir o que nunca senti. O que sempre achei impossível. O que sempre olhei com desdém”. Neste momento, já Maria se contorcia, encostada à parede da casa de banho. A Água caía-lhe nas costas, juntando-se, rumo ao mar, ao rio de lágrimas que agora saíam acompanhadas de um furioso soluçar. As palavras, essas continuavam a ouvir-se apenas no grito daquele silêncio. “Sei que pequei. Sei que andei perdida! Sei que mereci cada um dos castigos que me deste. Diz-me, agora, por favor: Filha, aprendeste a tua lição. Levanta-te e anda”.

Comentários

Anónimo disse…
Maria:MESMO MUITO BEM!!! :)

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